Pesquisa em país desigual reflete mídia que pede estado mínimo, com socorro máximo

Denise Assis
Lula sobrevoa áreas afetadas por enchentes no Rio Grande do Sul (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

O presidente Lula já disse que não governa de olho nas pesquisas. Nem pode. Foi-se o tempo em que elas refletiam fielmente a vontade popular. Hoje, elas já nascem contaminadas por uma realidade inarredável. O que os eleitores ouvem e veem diuturnamente ou é a guerra de desinformação das fake News, ou a mídia “tratorando” o governo em tempo integral. E, para agravar, não adianta colocar na frente dos olhos dessas pessoas os dados mais positivos do governo, como o índice de desemprego (7,9%) – que está em quase metade do registrado em 2019, antes da pandemia, quando bateu 12,5 milhões. O “reduto” das igrejas neopentecostais quase não falam mais de Jesus. Tornaram-se o “reino” dos políticos, que pela “fé” levam num novo tipo de cabresto (o urbano), a massa de crentes. Ali, naquele “clube da fé”, passam por verdadeira lavagem cerebral, em que Lula é o “mal” – o que quer que ele faça -, como tem discorrido a madame Michelle, em suas andanças pelo país.

Pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) nesta terça-feira (7), realizada presencialmente, ouvindo 2.002 pessoas entre os dias 1º e 5 de maio, com margem de erro de 2,2 pontos percentuais – com um nível de confiança de 95% -, atesta que a aprovação do presidente Lula sofreu queda. Repararam na data em que ela foi feita? Pois é. Estrategicamente e imediatamente após o desgastante evento de 1º de Maio, quando as centrais sindicais – depauperadas e destruídas pela ação do governo de Michel -, não conseguiram reunir gente para ouvir o presidente no espaço do Itaquerão, do clube Corintians.

A levar em conta os números, o presidente Lula pula no Guaíba, porque o tombo na avaliação segue em queda também na aferição do governo federal. De acordo com os dados, 50,7% dos entrevistados aprovam o desempenho de Lula à frente do governo, enquanto 43,7% desaprovam. Esse índice marca uma diminuição de quatro pontos percentuais na aprovação do presidente em comparação com a pesquisa anterior, realizada em janeiro, na qual Lula contava com 55,2% de aprovação”. 

Para um governo alvo de ataques permanentes na mídia, nas redes e nas igrejas – e elas são muitas, esparramadas pelo país de ponta a ponta -, ele até que está aguentando firme. Convicto no trabalho que tem feito, nos resultados positivos colhidos aos olhos das agências de avaliação de risco de investimentos (que subiu a nota do boletim do Brasil recentemente), Lula costuma comentar com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad: “mesmo que tudo der errado, vai dar certo”, revelou nesta terça-feira (07/05), falando a um pool de rádios reunidas pela EBC.

Segundo a pesquisa, no que diz respeito à avaliação do governo federal, os resultados também apontam para baixo, na percepção da população: 37,4% dos entrevistados consideraram a gestão como positiva, uma redução de cinco pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Por outro lado, a avaliação negativa do governo cresceu mais de dois pontos, atingindo 30,5% em maio. Aqueles que consideram o governo como regular somam 30,6%, enquanto 1,5% não souberam ou não responderam.

Ao fazer a conta de Pollyana, a do jogo do contente, pode-se dizer que 37,4% com 30,5% dá um resultado para lá de positivo: 67,9%. E isso não é de se desprezar. Mas se a conversa vai para as redes, aí o caldo engrossa. Nas igrejas, então, a regra é não pensar. Vale o que diz o pastor e está acabado. À noite, nas falas dos comentaristas, os números com viés de queda vão ser motivos para análises severas, críticas contumazes e a conclusão óbvia que sempre apontam: é o excesso de gastos… Em seguida virão as imagens dramáticas das cheias pelos municípios do Rio Grande do Sul, seguidas por comentários do tipo: ‘é preciso carrear todos os recursos para lá’. 

É isso, companheiros. Um país desigual, com alguns governos liberais relapsos, e a “colegada” prega o estado mínimo, mas quer socorro máximo. Eu, da minha parte, só consigo dizer a eles: ‘amigos, vão lá fora e vejam se a água já baixou…’

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Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia