O mês de agosto é conhecido como um período de mal agouro. Desde os templários, coisas ruins acontecem fazendo a fama desse mês nefasto. A última tragédia ocorrida, em terras brasileiras, foi o acidente de avião que levou à morte o candidato a presidência da república, Eduardo Campos, mais um político a tornar-se mítico no imaginário popular. Porém, este mês também é lembrado por uma morte mais relevante no cenário político, a morte, ocorrida há 60 anos (lembrados esse ano) de Getúlio Vargas, o pai dos pobres, e é pensando na data que teremos a dica da semana: Agosto, de Rubem Fonseca.
Lançado em 1990, o romance trata da investigação do assassinato de Paulo Machado, empresário brasileiro com ligações com a cúpula do poder no início de agosto de 1954. Tendo como principal suspeito Gregório Fortunato, secretário pessoal de Getúlio Vargas e conhecido como Anjo Negro, a trama usa como pano de fundo os acontecimentos desse específico período da história nacional que culminaram com o suicídio do então Presidente da República.
Mestre na escrita policial, Fonseca apresenta uma narrativa empolgante e cheias de reviravoltas entorno das investigações. Misturando personagens reais e fictícios, ele mantém uma linha tênue entre esses dois universos, o protagonista, comissário Matos vive próximo as personalidades políticas da época sem nunca confrontá-los. Escrito de forma particularmente fascinante, o leitor fica sempre na expectativa de um encontro entre Matos e Gregório ou outro personagem real, mas um encontro que nunca acontece e que prende até o fim da narrativa.
Além desse pé na realidade, outra marca da obra é a forma como todos os personagens estão interligados, desde a amante do comissário à viúva passando por Getúlio, todos estão de uma forma ou de outra envolvidos nos acontecimentos. Seguindo o curso do mês, outros fatos relevantes interferem direta ou indiretamente na ação do romance, sejam fatos reais ou não e isso é feito de forma precisa, colocando o leitor sem saber se estão diante de uma história real ou uma trama de ficção.
Como o pano de fundo é o mês da morte de Vargas, o ápice da narrativa vai ser também no mesmo momento, porém, com as arestas aparadas, os fatos se separam e temos o fato histórico apenas como cenário e referência, entretanto, não desprezado.
Com uma reconstituição de época primorosa e relatando fatos históricos e secundários, mas relevantes, o livro é uma aula de História para quem quer entender o que foi aquele agosto de 1954 que tanto marcou e ainda marca a política do Brasil e que levou Getúlio Vargas – usando suas próprias palavras- a sair da vida para entrar (definitivamente) para a História. E essa é a dica da semana. Até a próxima.