Fiocruz blinda prédios por conta da violência no Rio

Diário Carioca

Os reflexos da violência nos campi da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na Avenida Brasil, em Manguinhos, zona norte do Rio, levou a instituição a tomar a decisão de blindar os prédios da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) e o Laboratório de Pesquisas Clínicas do Instituto Nacional de Infectologia (INI).

Nas justificativas para a obra, a instituição diz que a escola e o laboratório já foram alvejados por disparos de arma de grosso calibre e de uso militar  durante conflitos no seu entorno. Daí a presidência da Fiocruz “tomou a decisão de implementar soluções de proteção balística” para garantir a segurança dos trabalhadores, alunos e visitantes.

A Fiocruz indicou ainda que a demanda foi analisada pelo seu Departamento de Vigilância e Segurança Patrimonial (DVSP), “que identificou as áreas de risco, definindo os locais que precisariam ser protegidos contra disparos”.

Licitação

A escolha da empresa que fará a blindagem será por meio de licitação sob o Regime Diferenciado de Contratações Públicas, em formato eletrônico. A planilha de custos estimou um gasto de R$ 3,39 milhões e o critério de julgamento será o de maior desconto. O edital para a contratação da obra terá o resultado divulgado no dia 28 deste mês.

Entre as providências que serão tomadas está a blindagem da fachada da frente do prédio principal da EPSJV, a substituição da esquadria da porta principal por novas esquadrias blindadas e proteção balística do Laboratório de Pesquisas Clínicas, com a instalação de estrutura de blindagem.

O coordenador geral de Gestão de Pessoas da Fiocruz, Juliano Lima, disse que embora toda a área da Fiocruz esteja sujeita a ocorrências de tiros, algumas unidades estão mais diretamente expostas , como é o caso da escola e do laboratório, que no entanto, não serão as primeiras a receber este tipo de blindagem. “Ao lado da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, tem a Escola Nacional de Saúde de Pública, que desde os anos 2000 já conta com anteparo balístico”, falou.

Segundo o coordenador, os estudos da equipe de Segurança da Fiocruz não indicam a necessidade de blindagem em outras unidades neste momento, mas isso não está descartado, se houver a intensificação dos conflitos na região. “Mas, por ora o que gente tem são esses dois prédios apenas”, afirmou.

Plano de Contingência

Juliano Lima adiantou que a Fiocruz está em processo de revisão do seu Plano de Contingência que determina ações de proteção das pessoas que circulam nos campi. Na visão dele, uma das áreas que precisa de aprimoramentos é a do prédio da expansão, que fica do outro lado da Avenida Brasil, próximo à comunidade da Maré, onde funcionam instalações das áreas administrativas e de pesquisa de 11 institutos e circulam cerca de mil pessoas.

De acordo com o coordenador, a equipe de segurança tem um conjunto de procedimentos que inclui desde o estado de alerta até situações em que há necessidade de evacuação. “Nas regiões que são mais afetadas, como a Escola Politécnica Joaquim Venâncio, a gente conta com um conjunto de líderes de segurança que são responsáveis por acionar o plano. Há um protocolo de atuação de alunos, de professores e de quem por ali circula. São feitos treinamentos periódicos a cada turma que entra. Agora, por exemplo, está se iniciando uma nova turma e todos vão passar pelo treinamento. É uma atividade permanente, principalmente, em períodos como este”, informou.

Entre as medidas, o Plano de Contingência orienta às pessoas que, ao ouvir disparos, não saiam das salas, afastem-se das janelas e aguardem comunicado dos líderes de segurança. Caso ouçam a campainha, devem dirigir-se aos corredores e descer pelas escadas para o pátio interno.

Confrontos

Lima apontou o padrão de intervenções das forças de segurança na região como um dos fatores para a escalada de violência nas comunidades do entorno da Fiocruz. Ele informou que o Centro Latino Americano de Estudos de Violência em Saúde analisa esta relação e os trabalhos têm demonstrado que é preciso mudar o padrão. Ele lembrou a morte de Matheus Melo, de 23 anos, que trabalhava na Fiocruz como terceirizado e foi baleado na noite de ontem (12), quando saída de moto do Jacarezinho, onde tinha ido levar a namorada.

“Um rapaz que era trabalhador nosso aqui, jovem. A violência não é um fenômeno isolado, mas está diretamente relacionada com o processo de exclusão das pessoas que vivem nestas áreas carentes. A gente precisa de uma outra forma de enfrentar o crime, com mais inteligência e menos conflito. Enquanto isso não ocorrer, nós vamos ficar nesse enxuga gelo, porque a blindagem não é solução definitiva para nada. É um paliativo circunstancial que visa dar maior segurança em uma área mais vulnerável, mas não elimina o risco que a gente tem aqui”, destacou.

Saúde do trabalhador

A presidência da Fiocruz já encaminhou ao Governo do Estado do Rio e à Secretaria de Segurança um pedido para a reformulação das ações nas comunidades, e agora com a mudança na cúpula da e segurança pretende renovar o pedido. O coordenador acrescentou que, além dos riscos para quem frequenta os campi de Manguinhos e da expansão na Maré, existem os prejuízos causados pelas interrupções dos trabalhos nos momentos dos confrontos. Isso sem contar que, em alguns casos, os empregados, alunos, professores e pesquisadores precisam passar por atendimento psicológico.

“Quando houve o episódio do tiro na janela da Escola Politécnica foi necessário fazer um tratamento com psicólogos em grupo com a equipe para tentar retomar as atividades de maneira normal. Isso tudo tem um impacto sobre a saúde dos trabalhadores, principalmente, a saúde mental”, disse Lima.

A Secretaria de Estado de Segurança do Rio preferiu não comentar a blindagem dos prédios da Fiocruz e nem o pedido da presidência da entidade. Informou que esta é uma decisão da instituição.

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