Na semana em que é lembrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a Polícia Rodoviária Federal divulgou um levantamento que mostra números preocupantes. Segundo a PRF, quase 2.500 pontos em rodovias e estradas federais do país estão vulneráveis à exploração destes jovens. Os dados, organizados em parceira com a entidade Childhood Brasil, indica que o volume é 20% maior que o registrado no biênio anterior.
Do total de locais mapeados, 489 foram considerados pontos críticos e 653 com alto risco para exploração sexual de crianças e adolescentes. A maior parte dos pontos, 59,55%, está concentrada nas zonas urbanas, ou seja, de fácil acesso, embora a incidência (40,45%) também seja alta em áreas rurais.
A região Nordeste é a que concentra maior número de pontos vulneráveis: 644. Também é onde está a maior concentração de pontos críticos: 156. Depois, aparecem Sul, (575), Sudeste (468), Norte (404) e Centro Oeste (396). No caso da região Norte, houve um incremento expressivo no número de pontos vulneráveis, que passou de 160 para 404 nos últimos anos.
Os dados apontam também que, na maioria das vezes, esses locais estão vinculados a postos de combustíveis, bares, casas de shows, pontos de alimentação e também de hospedagem.
A edição atual do mapeamento sugere uma redução de pontos críticos, que são aqueles que possuem a maior possibilidade de ocorrência de exploração. No total, foram 435 a menos, o que equivale a 47% do total em comparação ao biênio 2009/2010.
Entretanto, segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da PRF, Igor Carvalho, entre 2005 e 2018, a PRF resgatou 4.749 crianças e adolescentes identificados em situação de risco nas rodovias federais brasileiras.
“Os pontos críticos que tem diminuído nas rodovias federais, na verdade, não estão acabando. Eles estão, na verdade, migrando, principalmente para áreas fora da circunscrição da Polícia Rodoviária Federal. Por isso que é hoje uma bandeira da PRF, da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Childhood Brasil, que é da sociedade civil organizada, levar esta metodologia do Mapear para os estados, para aqueles estados que tenham a intenção de criar esta metodologia, obviamente.”
Segundo a diretora executiva da Childhood Brasil, Heloisa Ribeiro, o levantamento permite um direcionamento de ações preventivas e repressivas para o enfrentamento de tal violação de direitos.
“A gente vem fazendo um trabalho de conscientização, um trabalho de educação contínua com os próprios caminhoneiros, para que a gente consiga, todos juntos, tentar fazer com que não só os caminhoneiros que estão nas estradas se tornem agentes de proteção, mas que todos tenham a consciência da importância de que é um trabalho de todos nós. Ninguém vai conseguir fazer isso sozinho.”
Além do Mapear produzir o levantamento destas áreas, o projeto faz com que o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) indique quais ações são necessárias para a incidência de políticas públicas de prevenção. É o que explica a conselheira do órgão, Iolete Ribeiro.
“O Mapear é um tipo de ação que produz dados muito importantes, no sentido de permitir o monitoramento, mas também de indicar que ações são necessárias para a incidência das políticas públicas para prevenção e para a atenção às crianças que já sofreram algum tipo de violência sexual.”
Na lista de estados com maior número de pontos vulneráveis à exploração de crianças e adolescentes, aparecem Paraná (299), Pará (232), Goiás (185), Minas Gerais (184) e Ceará (180). Você pode fazer denúncia pelo Disque 100. A ligação é gratuita e não é preciso se identificar.
Com colaboração de Cintia Moreira, reportagem Marquezan Araújo