Por Ethel Rudnitzki – Da Agência Publica – “… Só acho estranho que quando houve a hiperinflação no governo Sarney, Parente estava no Banco Central!!!! Quando Collor confiscou a poupança, Parente estava no Ministério da Fazenda!!! Quando estourou a Dívida Externa com Itamar, Parente estava no FMI!!!! Quando houve o apagão com FHC, Parente estava no Ministério das Minas e Energia!!! Agora que faltou gasolina, Parente está na Petrobras!!!” – Mensagem de WhatsApp que tem sido reproduzida nas redes sociais, sobre a trajetória de Pedro Parente.
Pedro Parente pediu demissão da presidência da Petrobras em 1º de junho. Ele ocupava o cargo desde maio de 2016, quando substituiu Aldemir Bendine. Durante sua gestão, o executivo implantou uma nova política de preços de combustíveis, com reajustes definidos de acordo com o mercado e a variação do câmbio internacional. Com Dilma Rousseff (PT), o governo usava o seu poder para definir os reajustes, como parte da política econômica. Parente deixou a empresa quando o governo interferiu na política de preços devido à greve dos caminhoneiros, que reivindicavam diminuição do preço do diesel.
Após a demissão, passou a circular nas redes sociais um print de uma mensagem de WhatsApp que associa a trajetória profissional de Parente a crises econômicas e políticas do Brasil. A imagem foi postada no Facebook pela página Jornalistas Livres, por exemplo, e teve mais de 1,8 mil compartilhamentos. O Truco – projeto de fact-checking da Agência Pública – analisou as afirmações contidas no texto e concluiu que, em sua maior parte, são falsas.
“… Só acho estranho que quando houve a hiperinflação no governo Sarney, Parente estava no Banco Central!!!”
Conforme publicado pelo Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ex-presidente da Petrobras ocupa cargos públicos desde os seus 18 anos, quando entrou no Banco do Brasil por meio de um concurso público, em 1971. Dois anos depois, foi para o Banco Central, ainda antes de se graduar em engenharia eletrônica, o que só aconteceu em 1976. Lá, ele trabalhou na área de administração financeira até 1984.
A mensagem do WhatsApp afirma que, quando houve hiperinflação no governo Sarney (1985-1990), Parente estava no Banco Central. Entretanto, ele já havia saído da instituição. Durante a presidência de Sarney, Parente ocupou diferentes cargos em ministérios, mas não foi ministro. Foi secretário-geral adjunto do Ministério da Fazenda, de 1985 a 1986. De 1987 a 1988, foi secretário-adjunto, secretário de Programação Financeira e secretário de Informática, na Secretaria do Tesouro Nacional. E ainda foi secretário de Orçamento e Finanças da Secretaria de Planejamento, com status de ministério, de 1989 a 1990.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação anual pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 1985 (242,23%) para 1986 (79,66%), mas passou a subir nos anos seguintes. Atingiu 363,41% em 1987, 980,21% em 1988 e passou a 1.972,91% em 1989. Em nenhum desses anos Parente ocupou cargos em que pudesse atuar como definidor da política econômica. Logo, a frase é falsa.
“Quando Collor confiscou a poupança, Parente estava no Ministério da Fazenda!!!”
A segunda afirmação da mensagem também é falsa. Durante a presidência de Fernando Collor de Mello, de 1990 a 1992, a inflação continuou subindo. Em uma tentativa fracassada de controlar o problema, o governo lançou o chamado Plano Collor, realizado ainda em 1990, e promoveu o confisco de cadernetas de poupança dos brasileiros. O projeto foi elaborado pelo Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, liderado pela ministra Zélia Cardoso de Mello; pelo Banco Central; e pela Presidência da República.
Na época, Parente não fazia parte do ministério, ao contrário do que a mensagem de WhatsApp diz. Em 1990, ele havia se tornado presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Só em maio de 1991 o ex-presidente da Petrobras assumiu a Secretaria de Planejamento do Ministério de Economia, na gestão de Marcílio Marques Moreira. Parente ficou no cargo até 1992 e participou da elaboração do orçamento da União nesse período.
“Quando estourou a dívida externa com Itamar, Parente estava no FMI!!!”
De 1993 a 1994, durante o governo de Itamar Franco (PMDB), Parente realmente foi consultor externo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nessa época, a inflação ainda estava alta e o Brasil acumulava grande dívida externa do governo Collor. Em 1987, Sarney havia decidido suspender o pagamento de juros a credores estrangeiros, conforme registrado no livro Dívida Externa Brasileira, do Banco Central. Isso se repetiu em 1989. A solução encontrada foi a formulação do chamado Plano Real, que criou uma nova moeda no Brasil, valorizada no mercado internacional – o real –, além da reformulação da política de crédito internacional brasileira, incentivando os investimentos estrangeiros.
Parente não fez parte da formulação desse plano e também não pode ser responsabilizado pela alta dívida externa pública na época, apesar de estar no FMI. O país acumulava dívidas externas de anos anteriores. A dívida pública tem diversos componentes. O principal deles são os títulos públicos, emitidos para cobrir o déficit orçamentário do governo federal. No governo Itamar, esses títulos podiam ser comprados através da Reserva Brasileira Internacional, ou por fundos monetários ou bancos internacionais, como é o caso do FMI, do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Assim, o FMI não era necessariamente responsável pela alta da dívida externa brasileira na época, como sugere a mensagem.
“Quando houve o apagão com FHC, Parente estava no Ministério das Minas e Energia!!!”
A corrente também diz que o ex-presidente da Petrobras estava no Ministério das Minas e Energia durante a crise do apagão ocorrida no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na época, devido à seca e ao baixo investimento na geração e transmissão de energia, o país foi obrigado a fazer um racionamento de eletricidade, para evitar o colapso do sistema. A medida vigorou de maio de 2001 a fevereiro de 2002. O governo determinou redução de 20% do consumo. Quem não reduzisse a conta poderia ser sobretaxado ou ter a energia cortada.
No entanto, Parente não estava no ministério na época. Ele chefiava a Casa Civil desde 1999 e foi chamado em 2001 para coordenar um gabinete para tratar da crise, a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, também conhecida como “Ministério do Apagão”. Ele coordenou a câmara ao mesmo tempo em que chefiava a Casa Civil. Portanto ao contrário de causar a crise, ele foi chamado para solucioná-la.
“Agora que faltou gasolina, Parente está na Petrobras.”
A segunda parte da mensagem de WhatsApp que está correta é sobre o cargo de Parente durante a greve dos caminhoneiros, que gerou falta de combustível em diversos estados. Ele de fato era presidente da Petrobras na época, e a política de preços que implantou está associada ao aumento de preço do diesel, que deflagrou a greve.
Como ele próprio disse em sua carta de demissão, “movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve”. No texto, ele atribui sua saída às críticas à política de reajustes adotada. Também pede ao presidente Michel Temer (PMDB) para que evite fazer interferências políticas no destino da companhia.
Este texto foi produzido pelo Truco, o projeto de fact-checking da Agência Pública. Entenda a nossa metodologia de checagem e conheça os selos de classificação adotados em https://apublica.org/truco. Sugestões, críticas e observações sobre esta checagem podem ser enviadas para o e-mail truco@apublica.org e por WhatsApp ou Telegram: (11) 96488-5119. Acompanhe também no Twitter e no Facebook.