No último fim de semana, sete brasileiros ficaram conhecidos nas redes sociais por publicarem um vídeo durante a Copa do Mundo na Rússia. Na filmagem, todos comemoravam com camisas da seleção brasileira e pediam que uma mulher estrangeira repetisse frases obscenas sobre a genitália feminina.
As imagens geraram revolta e foram duramente criticadas, inclusive pela OAB e pelo Itamaraty. Segundo a especialista em discussões de gênero no esporte Silvana Goellner, o ato praticado pelos brasileiros em solo russo pode ser considerado machista.
“Eu acredito que o machismo que a gente pôde perceber nesse vídeo não está só no esporte, não está só no futebol, ele está na sociedade brasileira. Acho que o que a gente viu com muita clareza é a objetificação do corpo da mulher, e o poder que o homem se autoriza para brincar, para falar, para tocar e para violentar, muitas vezes, as mulheres.”
A vídeo, um dos que mais circulou nas redes sociais, não foi a único. Outro caso, também durante a Copa do Mundo, foi a da jornalista colombiana Julieth González. Ela estava ao vivo quando foi abraçada e beijada por um torcedor. A especialista Silvana Goellner explica historicamente o que faz mulheres passarem por esse tipo de constrangimento no meio esportivo.
“Então, eu acho que esse esporte foi pensado para os homens e pelos homens, muitas vezes as mulheres têm dificuldade de se firmar nesse espaço. Seja como torcedora, que é o caso que a gente vivenciou ali nesse vídeo. Parece que esse espaço não é dela.”
O site “Dibradoras” é um blog formado por quatro mulheres apaixonadas por esportes, e que defendem que o espaço para as mulheres no futebol seja pacífico. A jornalista Roberta Nina considera que o que foi visto como brincadeira por muita gente, não passa de uma cultura de machismo impregnada na sociedade.
“Muitas pessoas classificaram esse episódio como uma simples brincadeira, mas isso é algo muito mais sério. Eles constrangeram uma mulher em público e eles acabaram expondo a figura feminina de uma maneira horrorosa. Essas brincadeiras, que as pessoas acabam classificando, são parte de um problema crescente de casos de assédio, seja de assédio moral ou sexual, que as meninas e mulheres sofrem todo dia.”
A estudante Ana Carolina, de 20 anos, conta que quando assistiu ao vídeo não conteve sua indignação. Para ela, é preciso que assuntos como esses sejam ser colocados em pauta e debatidos.
“Quando queremos discutir assuntos como esses, falam que a gente não tem senso de humor, que não sabemos levar nada na brincadeira. Mesmo ainda quando tentamos falar entra por um ouvido e sai pelo outro daqueles que não querem dar o braço a torcer.”
Um dos integrantes do vídeo foi identificado por internautas. Trata-se do ex-secretário de Turismo de Ipojuca (PE), à época no PSB, Diego Jatobá. A Polícia Militar de Santa Catarina, em nota, diz que “um policial militar foi identificado como um dos integrantes que aparecem no vídeo”. O órgão ainda diz que, assim que retornar ao batalhão, será aberto um processo administrativo disciplinar para apurar a “conduta irregular do militar”.
Reportagem, Sara Rodrigues
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