O Theatro Municipal do Rio de Janeiro teve em sua programação, entre abril e maio deste ano, a ópera “Um Baile de Máscaras”, de Giuseppe Verdi. O espetáculo, que custou R$ 1,3 milhão, contou com grandes recursos tecnológicos e integrantes de elenco internacionais. Depois desta ópera e de outros espetáculos exibidos no primeiro semestre, o orçamento do teatro conta agora com cerca de R$ 700 mil para todas as demais atividades agendadas para 2018 e precisará de recursos advindos de patrocínios para encerrar a programação do ano. A afirmação foi feita pelo presidente da instituição, Fernando Bicudo, em uma audiência pública realizada nesta terça-feira (19/06) pela Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Durante o encontro, solicitado pelo deputado e membro da comissão Luiz Paulo (PSDB), Bicudo afirmou que a ópera “Um Baile de Máscaras” teve ótima representatividade na mídia, sendo uma vitrine para investimentos. Entre março e maio, houve mais de 88 inserções nos meios de comunicação sobre o Theatro Municipal; destas, 85 eram positivas, segundo relatório apresentado por Bicudo. “Essa produção, inédita no Brasil, já está sendo ambicionada por países europeus e talvez compense os gastos feitos”, disse. “Contamos com a parceria dos patrocinadores para viabilizar a temporada do Theatro Municipal”, completou, citando a Petrobrás como uma das empresas patrocinadoras.
Para o presidente da Comissão de Cultura, deputado Zaqueu Teixeira (PSD), esse índice pode mudar com os problemas orçamentários. “Mesmo com esses resultados, usar quase todo o recurso para um único espetáculo pode inviabilizar a realização de novas atividades, gerando uma pauta negativa que pode prejudicar a imagem do teatro”, declarou. Zaqueu Teixeira anunciou que, próximo à votação da Lei Orçamentária de 2019, realizará uma nova audiência para estimular a valorização da área cultural na divisão de recursos para o próximo ano.
Já o deputado Luiz Paulo chamou a atenção para a ausência do secretário de Cultura, Leandro Monteiro, que teve um problema familiar. Ele disse acreditar que a presença de Monteiro seria importante para entender os repasses orçamentários da Fazenda à pasta e ao Municipal. “Se ele não pôde vir por um fato excepcional, que se escolha um representante. A Secretaria de Cultura não é só uma pessoa”, criticou.
O parlamentar Eliomar Coelho (PSol) disse que a pasta é desvalorizada em todas as esferas de poder. “Nós nunca temos uma audiência para apresentar dados positivos sobre a Cultura. Trabalhar este tema é uma frustração permanente”, lamentou Eliomar que já atuou também como vereador do Rio de Janeiro.
Recursos públicos
Do total gasto com o espetáculo “Um Baile de Máscaras”, apenas R$ 290 mil reais foram quitados. O dinheiro, segundo Bicudo, veio do valor arrecadado na bilheteria e o restante seria pago com os recursos vindos do Executivo. A subsecretária de Política Fiscal da Secretaria de Fazenda, Josélia Castro, explicou que a crise financeira tem afetado a dotação orçamentária, mas destacou que é interesse do governo manter o teatro de pé. “Olhando para o fim do túnel, vemos que não estamos perto, mas já estamos melhor”, disse.
A crise também foi lembrada pelo deputado André Lazaroni (MDB), vice-presidente da comissão que ocupou, anteriormente, o cargo de secretário estadual de Cultura. “Com essa perda de arrecadação, este espaço acabou ficando de lado”, pontuou, destacando as associações de funcionários como fundamentais para o funcionamento do teatro no ano passado.
Além de recursos da Fazenda e de patrocinadores, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro ainda possui um fundo próprio e, segundo a subsecretária Josélia, pode recorrer à Lei 1.954/92, que dispõe incentivos fiscais a empresas que investirem no equipamento cultural do estado.
Investimento em pessoal
No ano passado, o corpo artístico do Theatro Municipal ficou quatro meses sem receber salários e, como foi de consenso durante a audiência, foram responsáveis por manter o espaço em funcionamento. Em 2018, a categoria ainda espera melhorias trabalhistas. De acordo com Fernando Bicudo, a defasagem salarial é de 150% se comparada a outros teatros municipais do país. O número de funcionários também está abaixo do esperado, como pontuou Ciro D’Araújo, membro do coral do Theatro Municipal. “Estamos sem previsão de concurso e acho que, mesmo se houvesse, não atrairia as pessoas mais qualificadas por causa do baixo salário inicial”, lamentou.
Já o bailarino Bruno Fernandes avaliou que o problema orçamentário do Theatro Municipal é reflexo de planos megalomaníacos e maus investimentos. Ele contou que o balé do Municipal é o único grupo no Brasil que recria clássicos centenários e defendeu que, mesmo quando houver convidados internacionais, o corpo profissional do teatro seja valorizado. Para Bruno, a produção de espetáculos já realizados no local (com figurinos já feitos, por exemplo) poderia ser mais rentável em um momento de baixo orçamento. “O Theatro Municipal tem 109 anos, a orquestra, 87, o coro, 86 e o balé, 81. Como todo senhor idoso, nós queremos ser respeitados”, cobrou.
O deputado Luiz Paulo defendeu a participação do corpo artístico do teatro no debate sobre o orçamento das atividades. “Acredito que é preciso uma conexão entre eles e a direção e que, em momentos de crise, haja mais espetáculos a custos menores”, afirmou.