Em meio à pandemia, 15 mil venezuelanos tentam retornar da Colômbia, Peru e Equador

Diário Carioca

Cerca de 15 mil venezuelanos tentam retornar à Venezuela vindos da Colômbia, do Peru e do Equador, fugindo da crise humanitária gerada pela covid-19 no continente.

Segundo o governo bolivariano, no último fim de semana, 1.852 cidadãos voltaram da Colômbia — um grupo de 1.202 chegou no sábado e outro de 650, no domingo. A maioria atravessou o país de ônibus ou mesmo caminhando.

Ao chegar ao território venezuelano, os regressos foram recebidos por uma equipe de profissionais de saúde, que verificou os sintomas de cada pessoa e ofereceu máscaras de proteção descartáveis, luvas e álcool em gel.




Venezuelanos são examinados ao cruzar a ponte Simón Bolívar, no estado Táchira, fronteira com a Colômbia / Divulgação

No estado Táchira, fronteira colombo-venezuelana, região governada pelo partido opositor Ação Democrática, os trabalhos estão sendo coordenados pela Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb); pelo protetor do estado, Freddy Bernal; e pelo coordenador do movimento Somos Venezuela, Melvin Maldonado.

Depois de examinados, os cidadãos venezuelanos são transportados para seus estados de origem em ônibus disponibilizados pelo Estado. Entre as famílias que conseguiram voltar, muitas denunciam ser vítimas de xenofobia nos países vizinhos.

Toque de recolher

Nesta segunda-feira (6), o governo de Nicolás Maduro estabeleceu toque de recolher nos municípios San Antonio de Táchira e Ureña, na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia. A população local deverá se recolher a partir das 20h desta segunda (6) até às 10h da terça (7). Já nos dias seguintes, o toque de recolher começará às 16h e se encerrará às 10h do dia seguinte.

A medida foi anunciada em cadeia nacional pelo vice-presidente de Comunicação, Informação e Turismo, Jorge Rodríguez. O funcionário venezuelano também afirmou que todas as pessoas que ingressarem ao país terão que cumprir 14 dias em isolamento.

Xenofobia

Yorgelis Adriana, cidadã venezuelana que residia na Colômbia, denuncia que ela e seus familiares foram expulsos das suas casas por não conseguir pagar o aluguel. “Fomos pra rua, eu tive febre, adoeci e, quando fomos ao hospital, me disseram: ‘Você é veneca? Pois volte a seu país e peça atenção médica a Maduro, porque aqui você não será atendida’”, afirmou.

Desde a semana passada, o Ministério de Relações Exteriores da Venezuela tem recebido pedidos de apoio de cidadãos venezuelanos em várias nações da região. No entanto, os governos do Peru, do Equador e da Colômbia validam o deputado opositor Juan Guaidó, autoproclamado como presidente da Venezuela, rejeitando a administração do presidente Nicolás Maduro.

A advogada constitucionalista María Alejandra Díaz questiona o reconhecimento internacional de Guaidó e dos diplomatas nomeados por ele num momento de pandemia mundial. “Esses governos tratam de tentar dar legitimidade a essa mentira que significa o ‘governo’ de Juan Guaidó. O que estão fazendo os seus embaixadores? Absolutamente nada. Vivendo do dinheiro que puderam roubar, que foram mais de 116 bilhões de dólares da República, através das suas ações e do governo dos Estados Unidos”, afirma.




Cidadãos venezuelanos em território colombiano pedindo ajuda para poder voltar caminhando ao seu país / Divulgação

O Alto Comissionado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) também não se manifestou sobre apoiar a abertura de corredores humanitárias que facilitem o regresso de pessoas que estão presas em outros países.

“Eu acredito que a Acnur, como um organismo da ONU, termina sendo como um organismo de adorno. O direito internacional não serve para absolutamente nada nesses casos. Acnur não cumpriu seu papel e nem o pacto de imigração que acabam de assinar. A xenofobia, o ódio que caracterizam sociedades doentes e governos que incentivam o ódio, a irracionalidade contra os venezuelanos. Esta é a prova de que esses organismos não funcionam e não servem para garantir uma vida mais humana no planeta”, analisa a deputada da Assembleia Nacional Constituinte, María Alejandra Díaz.

Sigue el masivo retorno de Venezolanos(as) por la frontera de Colombia, felicitamos la incansable labor de nuestros médicos, militares y servidores públicos que brindan asistencia legal y médica en el Puente Internacional Simón Bolívar, bienvenidos a su Patria. #QuedateEnCasa pic.twitter.com/CFpOvfj6iW

— Rander Peña (@RanderPena) April 4, 2020

A Venezuela foi pioneira em adotar a quarentena social em todo o país e fechar as fronteiras terrestres. No entanto, o governo enfatizou a disposição em cooperar com outros países para atender situações excepcionais.

Além dos cidadãos que conseguiram retornar por terra, a administração de Nicolás Maduro disponibilizou voos do plano Vuelta a La Patria para poder repatriar cidadãos em regiões mais distantes. Dessa forma, 100 pessoas retornaram da República Dominicana e outras 524 esperam pela permissão da Casa Branca para poder voltar dos Estados Unidos.

Enquanto a administração Trump se nega a flexibilizar o bloqueio e liberar a aterrissagem de um voo da companhia estatal venezuelana Conviasa em solo estadunidense, o Ministério de Relações Exteriores venezuelano anunciou um voo humanitário saindo da cidade de Toluca, México, na próxima quinta-feira (9).

1/2 Se informa a ciudadanos y ciudadanas estadounidenses interesados en regresar a los Estados Unidos que el Gobierno de la República Bolivariana de Venezuela habilitará un vuelo humanitario de Conviasa con destino a Toluca, México el próximo 9 de abril de 2020. pic.twitter.com/7x034DuHvu

— Cancillería Venezuela ?? (@CancilleriaVE) April 6, 2020

Para Maria Alejandra, o governo venezuelano está na vanguarda das medidas de combate e prevenção à covid-19. “O aprendizado do bloqueio criminoso fez com que o governo administre os recursos de maneira muito mais responsável, porque tem que fazer mais com menos. E cumpre com o que está estabelecido na Constituição que é um Estado a serviço das pessoas”, assegura.

Além de defender que o governo bolivariano apresente uma queixa formal na Corte Penal Internacional e na Comissão de Direitos Humanos da ONU sobre os maus tratos sofridos pelos venezuelanos e a falta de cooperação internacional, a magistrada defende novos pactos imigratórios na região.

“Um novo acordo internacional entre nações, com igualdade, sem poder de veto, deve ser implementado depois que conseguirmos sair disso. Essa é a nova ordem social em que apostamos”, finaliza Díaz.

Edição: Vivian Fernandes


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