Sem amparar trabalhadores rurais, MG pode sofrer com falta de alimentos

Diário Carioca

“São duas facadas num lugar só, então o sangramento está grande”, desabafa a trabalhadora rural e coordenadora da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf/MG) Lucimar Martins. O ano de 2020 definitivamente não está sendo fácil para os agricultores familiares e pequenos agricultores do estado.

Já no primeiro mês do ano, centenas de trabalhadores tiveram suas safras afetadas pelas fortes chuvas que devastaram as cidades mineiras. Agora, com a pandemia do novo coronavírus, cerca de 350 mil trabalhadores rurais lutam para conseguirem escoar e manter a produção.

Com o isolamento social, feiras e escolas seguem fechadas. Essa situação impacta diretamente as famílias agricultoras, já que são nas feiras e por meio de programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar e o Programa de Aquisição de Alimentos, que costumavam escoar a produção. “A gente vai perder muito produto porque as escolas consomem muita coisa. A gente não sabe o que fazer, o governo precisa ajudar a gente”, relata a agricultora familiar Sonia Terezinha, da cidade de Simonésia.

Para sanar a crise, os trabalhadores rurais exigem do governo estadual medidas de apoio às famílias e à produção. Na semana passada, dezenas de entidades do setor assinaram a Plataforma Estadual de Emergência.

No documento, cobram de Romeu Zema (Novo) ações como a compra direta de alimentos da agricultura familiar e de áreas de reforma agrária. Para Lucimar Martins, a medida é urgente e resguardaria tanto os agricultores quanto a população mineira. “O que vai definir se o povo na cidade vai passar ou não falta de abastecimento é o governo. Porque plantar nós continuamos plantando, agora precisamos saber é como que esse alimento vai chegar na mesa do povo”, alerta.

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Maira Santiago, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), avalia que a atual situação dos agricultores familiares também é fruto de um longo processo nacional de desmantelamento do setor. “Essa enfraquecimento da produção familiar vem desde o golpe de 2016, com a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário e se intensificou com os cortes no orçamento de programas e políticas públicas no ano passado”, ressalta.

Mesmo com as dificuldades, os trabalhadores do MST estão articulando uma rede de solidariedade para amparar famílias carentes da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Alimentos produzidos em acampamentos e assentamentos de diversas regiões do estado estão sendo coletados para produzir quatro mil cestas básicas que vão ser doadas para a população carente.

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Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Joana Tavares


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