Artigo | Coronavírus: a quarentena que escancara a violência de gênero

Diário Carioca

A pandemia do novo coronavírus chegou e colocou todos em alerta. Muitos foram dispensados do trabalho presencial. Trabalhar de casa é uma alternativa que apesar de parecer “moderna” e “férias” para alguns, para outros, é bem diferente. A realidade aponta que pobres e mulheres vão sofrer mais com essa alternativa.

No processo de exploração e opressão de alguns sujeitos, a condição das mulheres tende a se agravar a cada dia. Seja porque a maioria das vítimas não possui meios que garantam a sua independência afetiva e financeira, seja porque no contexto de pandemia as contradições do sistema capitalista se aprofundam. A isto, se soma o tratamento diferenciado para com as populações que vivem em condições precárias, sem acesso a políticas públicas de prevenção e opção de isolamento adequado.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que 70% dos profissionais de saúde que estão na linha de frente, em condições mais vulneráveis, no combate ao vírus são mulheres. Posto que o estado de quarentena coloque as pessoas no ócio da atividade de trabalho, esse processo apontou como consequência a elevação da pressão psicológica e também o aumento nos índices de violência de gênero.

No Rio Grande do Norte, a taxa de feminicídio coloca o estado na lista dos mais violentos do Brasil. Aqui, a cada dez dias, uma mulher é morta. Sendo o feminicídio o estágio final da violência, sabemos que muitas outras, embora não morram, não deixam de ser vítimas de violência física, psicológica, patrimonial e sexual. 

Segundo informações registradas pela Polícia Militar, no primeiro final de semana de quarentena entre os potiguares (19/03) as ocorrências por brigas de casais bateram a marca de 1.597 casos, enquanto não houve registro de roubo, furtos e homicídios. Na maioria dos casos registrados de violência doméstica, o companheiro da vítima é o agressor e o lugar onde mais acontecem episódios de violência é em casa. Além disso, a violência costuma acontecer no final de semana em horários não comerciais, quando o agressor desfruta do descanso da folga. Os dados apontam, portanto, que o lar não é um lugar seguro para muitas mulheres, o que se agrava com o período de confinamento.

A pergunta que fica é: como garantir o combate à violência contra as mulheres no meio de uma pandemia que exige de nós a quarentena?

Primeiro, nosso melhor caminho é o da solidariedade com as vítimas, estando disponível para ajudar, orientar e acompanhar essas mulheres. Além disso, é preciso favorecer a criação de uma rede de apoio que as fortaleça. A violência tem raízes profundas, mas sabemos que a culpa não é das mulheres. A violência contra a mulher se caracteriza por ciclos e fases que são difíceis de enxergar no momento em que se vive. Por isso, a importância do acolhimento e da partilha da coragem e confiança em momentos de vulnerabilidade.

Segundo, é imprescindível para nós, mulheres, combatermos a violência denunciando-a. Por este motivo, orientamos a denúncia aos casos de violência, qualquer que seja. O disque-denúncia é um dos principais canais para este fim. Nesse momento, contamos com ele para avançarmos na luta por uma sociedade menos machista e violenta.

Confira contatos de emergência da segurança pública em casos de violência no Rio Grande do Norte, em alguma cidades:

Natal

Zona sul: 3232-2526 / 3232-2530

Zona norte (Funcionamento 24h): 3232-5468 / 3232-5469

Parnamirim:  3644-6407 / 3644-6425

Mossoró: 3315-3536

Caicó: 3421-6040

Polícia: 190

Central de Atendimento a Mulher: 180

*Larissa Moura é assistente social e militante do Levante Popular da Juventude; Pâmmela Assunção é militante das Amélias: Mulheres do projeto popular.

Fonte: BdF Rio Grande do Norte

Edição: Isadora Morena e Vivian Fernandes


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