Primeiro indígena aldeado a morrer por covid-19 é de área próxima a garimpo ilegal

Diário Carioca

O jovem de 15 anos da etnia Yanomami Alvanei Xirixana faleceu na noite dessa quinta-feira (9) no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, em decorrência da covid-19. Esta é a primeira morte de indígena confirmada pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde. Os outros indígenas mortos eram citadinos (que vivem na cidade) e não foram contabilizados como tal de acordo com os critérios do órgão público.

Xirixana estava internado desde 3 de abril, mas já havia passado pelo hospital com os sintomas do novo coronavírus em 18 de março. Na primeira internação, foi liberado ainda que não tenha sido realizado o teste para saber se estava infectado pela covid-19.

O médico infectologista Joel Gonzaga, da Sesai, afirmou à reportagem da Amazónia Real, que Alvanei tinha a saúde debilitada por ter contraído, antes do novo coronavírus, “doenças como desnutrição, anemia, malárias repetitivas e foi tratado, mês passado (março), de Malária Falciparum”.

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Segundo informações do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, no território localizado entre os estados de Roraima e Amazonas vivem 26.785 pessoas de cinco etnias e 366 aldeias, que contam com 78 unidades básicas de saúde indígena, 37 polos-base e uma Casa de Saúde Indígena. 

Em nota, a DSEI Yanomami afirma ainda que vem realizando as medidas protocoladas e as recomendações do que determina o Ministério da Saúde e a Sesai, mas pontua que “as ações e serviços de saúde prestados aos povos indígenas, pela União, não impedem as ações desenvolvidas pelos Municípios e Estados, no âmbito do Sistema Único de Saúde, uma vez que o SUS adota, dentre outros, os princípios da universalidade, integralidade, equidade”.

Apesar do indígena ser natural da Aldeia Rehebe-Polo Base Uraricoera, onde estava quando seu estado de saúde piorou, ele estuda e mora em uma aldeia que pertence ao DSEI Leste de Roraima, Comunidade Bouqueirão, onde cursa o ensino fundamental. A informação merece destaque para que se possa fazer conexão com os locais por onde o indígena passou e assim monitorar possíveis outros casos. 

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Vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dario Yanomami / Foto: Morzaniel Yanomami

Para o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Vitório Kopenawa Yanomami, de 26 anos, quem levou a covid-19 para o seu povo foram os garimpeiros ilegais, que extraem minério das terra indígenas – como ouro –, seja por terra, barco e até avião. 

“Eu tenho muito medo. Tem muitos idosos yanomami, estão vivos ainda. Se contaminar os yanomami, realmente, os yanomamis vão morrer, porque a doença é muito perigosa: não tem cura, não tem remédio, não tem vacina. Isso eu tenho muito medo. Eu não quero que meu povo morra dessa doença que está matando milhares de sociedades não indígenas do mundo”, afirma. 

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A Terra Indígena Yanomami (AM/RR) é considerada uma porta de entrada para alguns milhares de garimpeiros ilegais, há décadas, como relata Dário.

“Esse é um problema muito antigo. Resumidamente, na década de 80, tinham alguns problemas muito sérios. Tinham aproximadamente 40 mil garimpeiros, e a gente lutou muito, fizemos grandes manifestações, e o governo brasileiro conseguia retirar os garimpeiros. E, repetindo [a história], os garimpos estão no território Yanomami de 2015 a 2019 e, agora, 2020 eles estão lá ainda”, conta. 

Dário explica ainda que os yanomami já fizeram uma série de denúncias para o Ministério Público Federal, Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai), relatando não só o garimpo ilegal, mas a  contaminação dos rios, o uso de mercúrio e o prejuízo à saúde dos indígenas, assim como a contaminação à floresta. “Até agora, o governo federal não tomou decisão para retirar os garimpeiros”, diz o indígena.

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Indígena citadina morta no Pará

O termo indígena citadino é usado para se referir aos que moram na cidade e não em aldeia. No estado do Pará, a primeira morte registrada da covid-19 foi de uma mulher de 87 anos, que vivia em Alter do Chão, distrito de Santarém, no sudoeste do estado. Até o momento, ainda há uma incompatibilidade nos dados do Ministério da Saúde e da Sesai com relação ao caso. Isso porque a mulher pertencia à etnia Borari e não era aldeada. A Sesai, responsável por contabilizar os dados de saúde indígena trata, apenas, dos indígenas que vivem no meio rural e não daquelas que vivem fora das aldeias. 

Ainda contabilizando indígenas que vivem fora das aldeias há outras mortes no Brasil, no Pará e no Amazonas, no município de Itacoatiara. Um homem, de 55 anos, do povo Mura. 

Segundo informações do governo de Roraima, até a quinta-feira (9), havia 63 casos confirmados da doença e três óbitos. Já o Amazonas, anunciou, nessa quinta-feira (9), que há 800 casos confirmados da doença e 40 óbitos.

Edição: Vivian Fernandes


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