Na periferia de São Paulo (SP), 2,3 milhões de pessoas – 20% da população – vivem em sete subprefeituras onde não há sequer um leito de unidade de terapia intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde (SUS). Parelheiros, Cidade Ademar, Campo Limpo, Aricanduva, Lapa, Perus e Jaçanã estão entre as subprefeituras que não possuem leitos públicos para atender a população em meio à pandemia do novo coronavírus.
Mapeamento realizado pela Rede Nossa São Paulo mostra que a distribuição de leitos de UTI do SUS privilegia o centro e regiões mais ricas da capital paulista.
A pesquisa aponta que as três subprefeituras da Sé, Pinheiros e Vila Mariana, localizadas nas regiões mais ricas e centrais da cidade, concentram 9,3% da população do município e mais de 60% dos leitos de UTI do SUS. Os dados divulgados nesta quarta-feira (8) são resultado da análise do Datasus de fevereiro de 2020.
Só a subprefeitura de Pinheiros, região de classe média-alta na zona Oeste, onde moram 294 mil pessoas, dispõe de 365 leitos de UTI do SUS. Com a mesma população, a subprefeitura de Vila Maria, na zona Norte, possui dez.
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Para a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carol Guimarães, a situação é “preocupante”, como definiu ela, uma vez que implica uma locomoção das pessoas com poucas condições de transporte e saúde.
“Nós estamos com frotas reduzidas, nós estamos tendo um problema de aglomeração em transporte público. É complexo, porque você se poe em risco e você poe outros em risco. Então é um grande desafio realmente quanto você tem essa distribuição. Isso é um retrato da desigualdade da cidade de São Paulo. Essas pessoas, que estão nessas subprefeituras, elas estão mais vulnerareis a essa pandemia”, afirma ela.
A especialista chegou a cruzar os dados do número de UTIs na cidade com o outro levantamento da instituição em torno da idade média ao morrer nas diferentes regiões de São Paulo e aponta que há uma diferença de 23 anos de Cidade Tiradentes, bairro com menor idade média, com Moema, bairro com maior.
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“Todos os distritos que tem idade media ao morrer menor, são também os que tem menos leitos de UTI. Então você vê como essa desigualdade é viciosa realmente”, explica Guimarães, que não deixa de ressaltar a necessidade dos governantes priorizarem a diminuição das diferenças sociais não só como um benefício para todo o conjunto da sociedade, mas também como proteção a pandemias.
“As pessoas estão vivendo ela [a pandemia] de maneiras muito diferentes e muito desiguais. A desigualdade tem que ser central nas próximas eleições, sejam elas em outubro ou sejam elas depois, porque a desigualdade atinge a todos e tem prejuízos para todos. Mesmo aqueles que vivem em suas bolhas em condomínios fechados, porque há prejuízos econômicos, sociais e ambientais. Pode ser que tenhamos novas pandemias no futuro então a gente tem que estar mais preparado e a desigualdade não ajuda a gente nesse sentido.”
O mapeamento das UTIs ainda destaca que a população da Zona Norte espera há, pelo menos 30 anos, o hospital da na Vila Brasilândia, que teve as obras iniciadas em 2015, deveriam ter sido concluídas em 2017, mas a inauguração está prevista para maio deste ano, o que aumentará o número de leitos na periferia.
Confira o distribuição dos leitos de UTI (públicos e conveniados ao SUS) por 100 mil habitantes em cada subprefeitura.
Levantamento da Rede Nossa São Paulo mostra desigualdade na distribuição das UTIs do SUS em São Paulo / Rede Nossa São Paulo
Prefeitura
Em nota, a prefeitura de São Paulo informou que os hospitais municipais estão distribuídos, em sua maior parte, na periferia da cidade, em bairros como: Itaquera, São Miguel, Ermelino Matarazzo, Pirituba, M’boi Mirim, Cidade Tiradentes, Campo Limpo, Vila Maria, Butantã, Vila Nova Cachoeirinha e Campo Limpo.
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A prefeitura disse ainda que o Hospital de Parelheiros, que atualmente tem 25 leitos de UTI, aumentará esse número até 31 de maio para 288, destinados a pacientes com coronavírus. Segundo a administração municipal, o prefeito da cidade, Bruno Covas, anunciou no último dia 28, mais 159 leitos de UTI no Hospital Municipal da Brasilândia, na Zona Norte, para tratamento de pacientes atingidos pelo coronavírus na capital.
Secretaria de Saúde
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou que os hospitais estaduais localizados na capital paulista estão distribuídos nas cinco regiões da cidade, “inclusive com prevalência nos extremos das regiões sul e norte, com uma rede de referências em média e alta complexidade nos ‘pontos cardeais’ da região metropolitana”.
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A secretaria acrescentou foi anunciada na terça-feira (7), a construção de um hospital de campanha no Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, nas proximidades do Parque do Ibirapuera, para atendimento de casos de coronavírus.
“O espaço terá 240 leitos de baixa complexidade, 28 leitos de estabilização, sala de descompressão, consultórios médicos e tomografia. A unidade será referenciada e receberá pacientes vindos de unidades de pronto atendimento”, diz a nota.
Com informações Agência Brasil
Edição: Leandro Melito