Trabalhadores do campo ajudam a combater a fome em periferias com doação de alimentos

Diário Carioca

A produção de alimentos nos assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem ajudado a levar comida para as regiões periféricas de cidades de todo o país. No centro-sul do Paraná, após duas semanas de mobilização e arrecadação, agricultores doaram cerca de 50 toneladas de alimentos orgânicos nos municípios de Pinhão e Guarapuava. 

A distribuição foi realizada no dia 30 de maio e beneficiou mais de quatro mil famílias. Além dos trabalhadores rurais sem-terra, a ação envolveu as comunidades beneficiadas, organizações não governamentais (ONGs), igreja católica e caminhoneiros da região. 

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“Para nós, que não estamos podendo sair, porque somos grupos de risco, essas verduras que vocês estão trazendo ajudam muito. Tudo sem agrotóxico ainda, é danado de bom”. Quem afirma é José Pedro dos Santos, que vive da coleta de materiais recicláveis e foi uma das pessoas que recebeu a doação da campanha.

Ao todo foram mais de quatro mil famílias de comunidades do entorno que receberam kits composto por itens como feijão e arroz, pinhão, erva-mate, fubá, farinha de milho, batata-doce, mandioca, moranga, abóbora, derivados de leite, hortaliças, batata, limão, laranja, banana e sabão caseiro.

A militante do MST Paraná Vilma Antunes foi uma das trabalhadoras que participaram da ação. Para ela, poder dividir o produto do próprio suor e trabalho traz orgulho para o agricultor. 

“Há três anos que moro nesse acampamento Encontro das Águas, que era uma terra improdutiva. Hoje a gente tira para o sustento da casa e ainda doa para pessoas que estão precisando lá fora. Dá muito orgulho”, afirma a agricultora.

A mesma satisfação é relatada pelo agricultor Nelson Preto, também militante do movimento, e que enxerga nas doações a possibilidade de abrandar as necessidades das pessoas que estão mais vulneráveis neste momento de pandemia. 

“A gente viu na prática que não é só no nordeste que existe fome. Aqui em Guarapuava nós visitamos bairros onde existe muita fome, a miséria, o desemprego. [São locais que] não tem ajuda municipal nem estadual”, aponta.

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Outra participante da ação foi Ana Maria dos Santos Ferreira da Silva, que foi acompanhada de seu filho. Ambos são moradores da comunidade de Alecrim, em Pinhão, que sofreu violento despejo no dia 1 de dezembro de 2017. 

Na ocasião, sem qualquer aviso prévio, máquinas destruíram uma igreja, casas, um posto de saúde, uma padaria comunitária e outras estruturas comunitárias construídas ao longo de 23 anos de ocupação da terra.

“A gente se sente feliz por poder ajudar, porque já sentimos na pele essa situação de depender dos outros. [A justiça] dizia que a gente não era produtivo, que a gente não trabalhava, mas Deus está mostrando que a gente sempre foi produtivo, sempre teve produtos”, afirma Ferreira.

Edição: Geisa Marques


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