Um experiência de saúde coletiva e organização popular acontece desde o mês de abril e tem ajudado a comunidade Oitão Preto, na periferia de Fortaleza, a enfrentar o coronavírus. O Movimento COMvida foi criado por lideranças comunitárias do bairro em conjunto com a equipe do posto de saúde Maria Cirino depois que foi identificada a dificuldade da comunidade em ter acesso à informação de qualidade.
::OMS esclarece confusão e reitera que pacientes assintomáticos podem transmitir coronavírus::
Um dos profissionais que atuam no posto, o médico de família João Antônio de Almeida, membro da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, relata que desde o início da pandemia chamou atenção a desinformação sobre as orientações corretas.
“Havia muita fake news, muito desencontro de informações e, com isso, as pessoas estavam ficando muito ansiosas, com muito medo, não cumprindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Muita gente buscava o posto sem necessidade”, detalha.
A superlotação fez com que a equipe e as lideranças do bairro criassem uma rede de comunicação mais direta entre os profissionais de saúde e a comunidade.
Uma liderança para cada 50 famílias
O Coletivo Raízes da Periferia, que já atuava no Oitão Preto, também participa das ações. Integrante do coletivo, Carlos Eduardo explica como funciona a comunicação entre a equipe de saúde e os moradores do bairro.
“A informação vinda da equipe de saúde é repassada aos líderes de rua e em seguida aos moradores. Os grupos de whatsapp são divididos por rua e cada rua tem um responsável. É essa pessoa que tem o contato direto com a equipe de saúde e tem o papel de tirar as dúvidas das pessoas cadastradas nesses grupos. Com isso conseguimos diminuir o problema relacionado à fake news e a ida desnecessária ao posto, reduzindo assim o risco de contaminação”.
::Saiba mais: Governo Bolsonaro bancou 2 milhões de anúncios em sites e canais de fake news::
Ele detalha que para cada 50 famílias do bairro foi estabelecida uma liderança. Atualmente, pelo menos 50% da comunidade já se encontra cadastrada no projeto.
Para Rachel Monteiro, moradora e uma das lideranças do bairro, os cuidados básicos como o uso de máscaras, a higiene adequada das mãos e a manutenção do distanciamento, são pequenas atitudes que vão contribuir para diminuir o avanço do coronavírus. Segundo ela, a população tem se comprometido no combate à covid-19.
“Em uma das ruas do bairro houve casos de falecimento por coronavírus. Alguns moradores organizados se reuniram e foi um consenso que aqueles que poderiam, iriam lavar a rua. E assim foi feito. Então você vê uma participação da comunidade”, relata.
Sem aglomeração
O resultado do esforço coletivo é confirmado no posto de saúde Maria Cirino, onde não há mais aglomeração de pacientes.
“Já estamos vendo os resultados. Não há mais sobrecarga do posto de saúde e aumentou o vínculo das equipes com a comunidade. Há uma corresponsabilidade. A gente sente que as pessoas estão valorizando mais o posto de saúde, estão discutindo mais sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), valorizando mais os agentes comunitários de saúde”,comemora o médico João de Almeida.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Monyse Ravena e Raquel Júnia