A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) acusa o governo federal de subnotificar os casos de indígenas contaminados e mortos por coronavírus no Brasil. De acordo com a entidade, ao ocultar dados, o Ministério da Saúde coopera para o “racismo estrutural” que limita o acesso à saúde por essas populações.
Na última terça-feira (9), o governo federal divulgou que 2.086 indígenas estão contaminados por coronavírus e 82 morreram. Os dados foram anunciados por Robson Santos, Secretário Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, que agradeceu a providência divina, ao dizer que os números poderiam ser piores.
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O levantamento da Apib mostra que 2.886 indígenas foram contaminados entre abril e junho. Ao todo, 256 morreram, sendo 89 óbitos somente nos oito primeiros dias de junho. A divergência entre os dados, está no método.
O governo federal decidiu não contabilizar os indígenas não aldeados, ou seja, que estão em áreas demarcadas e nas zonas rurais, excluindo os que vivem em áreas urbanas e em territórios que estão em conflito.
Há muito tempo, os indígenas que estão em áreas não aldeadas, tem o atendimento negado.
A Apib mantém um sistema particular de apuração dos dados, com informações passadas pelas lideranças indígenas dentro dos territórios, legalizados, ou não, em áreas urbanas ou rurais.
“Os dados que estão sendo divulgados pelo Ministério da Saúde são dados subnotificados, porque não representa a totalidade dos casos. Por isso, estamos fazendo nosso próprio levantamento. O governo não leva em consideração os indígenas que estão fora das aldeias. Aí, nós temos várias situações, são indígenas que estão em trânsito, porque estudam ou trabalham. Nós temos casos de indígenas que moram em cidades, comunidades indígenas que já estão em contexto urbano, que já se constituíram nas periferias das cidades”, afirma Luiz Eloy Terena, advogado da organização.
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Usando o novo método, o governo federal derrubou o índice de letalidade entre essa população para 3,9%. Porém, os números da Apib mostram que o índice de mortalidade chega a 8,8%, muito acima da letalidade nacional, 5,4%. Para Eloy, os dados escancaram o “racismo institucional”.
“Na verdade, essa pandemia mostra mais uma faceta do subsistema de atenção à Saúde Indígena. Há muito tempo, os indígenas que estão em áreas não aldeadas, tem o atendimento negado, indígenas que estão em áreas de conflito, inclusive. Então, de fato, é uma vergonha o próprio Estado reconhecer que não contabiliza os indígenas fora de suas aldeias. Como se estar fora da aldeia, perdêssemos a identidade indígena”, finaliza.
No Brasil, são 752 mil indígenas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desses, 64% estão em áreas rurais.
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Edição: Rodrigo Chagas