Um bebê indígena Ava Guaraní, de um mês e dez dias, da Terra Indígena Tekoha Ocoy, de São Miguel do Iguaçu, no extremo oeste do Paraná, precisou de atendimento médico de emergência na manhã desta quinta-feira (18) após testar positivo para covid-19.
Segundo o cacique Celso Jopoty Alves, o bebê teve dificuldades em respirar e permaneceu no hospital até à tarde, quando foi liberado. Outros três indígenas da comunidade também testaram positivo para a doença e são aguardados mais oito testes.
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De acordo com Alves, além do bebê, os casos positivos são de um homem de 31 anos, um jovem de 24 anos e sua avó, de 70 anos. Todos estão isolados. Desses, dois casos se tratam de trabalhadores da LAR Cooperativa Agroindustrial, que fica no município de Matelândia, também no extremo oeste do Paraná.
Trabalhadores da LAR testam positivo
Na empresa, segundo o cacique, trabalham cerca de 45 indígenas e nenhum deles foi liberado desde o início da pandemia, embora o Protocolo de Manejo Clínico da Covid-19 na Atenção Especializada, elaborado pelo Ministério da Saúde, considere “população indígena aldeada ou com dificuldade de acesso”, grupo de risco.
A inclusão dos trabalhadores indígenas nessa categoria também está em consonância com uma portaria da Fundação Nacional do Índio (Funai), que estabelece medidas temporárias de prevenção à infecção e propagação da covid-19 em terras indígenas.
Os casos confirmados e suspeitos na comunidade são todos de funcionários da mesma empresa ou de indígenas que moram com pessoas que trabalham na empresa.
Nesta quinta-feira, os indígenas que fizeram o teste não foram trabalhar. Outros, segundo o cacique, por medo, também preferiram ficar em casa. Com isso, a comunidade teme por dois fatores: a perda dos empregos, caso deixem de trabalhar, e a contaminação pela doença, caso trabalhem.
“E a gente está preocupado”, desabafa o cacique. “Sei dessa parte [que indígenas são grupo de risco], mas a empresa não quer saber disso. Existindo indígenas eles querem que continuem trabalhando. Ontem [quarta-feira] conversei com a Funai, com o Ministério Público para entrar com ato imediato na empresa para tentar liberar os funcionários indígenas. É isso que eu queria. Desde a pandemia eles não pararam de trabalhar”, diz.
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O que pode acontecer é o aumento da transmissão comunitária da doença na Terra Indígena, que já sofre com falta de itens básicos de higiene e álcool em gel.
Empresa desconhece indígena como grupo de risco
No site da LAR, uma nota publicada no dia 2 de junho, assinada pelo diretor-presidente da entidade, Irineo da Costa Rodrigues, apresenta um plano de contingência para conter à propagação da covid-19. Mas não há, entre as medidas apontadas, alguma que se refere aos cuidados dos trabalhadores indígenas. Um dos tópicos apenas cita o “afastamento dos funcionários que se encaixam no grupo de risco, como por exemplo pessoas com mais de 60 anos de idade”.
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A assessoria de imprensa da LAR disse, por e-mail, que a empresa cumpre todas as determinações dos órgãos de saúde, mas que desconhece “qualquer classificação de indígena como grupo de risco”.
Também disse que todo caso positivo está sendo monitorado, independente de ser indígena ou não, e que “o cuidado com a saúde das pessoas é uma grande preocupação da cooperativa e é conduzido com muito cuidado e critério”.
Reunião com Ministério Público
Diante dos casos, a comunidade buscou o Ministério Público Federal (MPF) e, em nota, a procuradora Indira Bolsoni Pinheiro disse que o MPF e o Ministério Público do Paraná (MPPR) devem realizar uma reunião nesta sexta-feira (19), com representantes dos governos estadual e municipal, liderança indígena e Ministério Público do Trabalho para debater a situação da comunidade.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini e Raquel Júnia