O que você estava fazendo em 8 de janeiro de 2023? O que você estava fazendo quando descobriu que manifestantes golpistas tinham invadido a praça dos Três Poderes e estavam instaurando o caos e depredando tudo? Se não foi atingido pela notícia pelas redes sociais, provavelmente foi por meio da TV que pode acompanhar suas atualizações. Espanto, horror e revolta generalizadas por parte de quem defende a democracia e a legalidade.
Depois do ocorrido, cada qual se ocupa da sua função: investigadores investigam os responsáveis, policiais prendem os culpados, equipes de limpeza limpam, restauradores restauram, políticos politizam, analistas analisam. Passados meses, enquanto historiadores vão montando e interpretando a História, os jornalistas dão sua contribuição, eis que temos os documentários “8 de janeiro: o dia que abalou o Brasil” (BBC), “8 de janeiro – Anatomia de um ataque golpista” (Folha) e “8/1 – A democracia resiste” (Globonews).
A tentativa de golpe ainda iria completar 6 meses quando a BBC saiu na frente e apresentou seu documentário, O dia que abalou o Brasil. Com aproximadamente 1h, a obra trouxe um panorama bem amplo do que aconteceu: foram ouvidos desde atores políticos mais envolvidos no caso até restauradores e vizinhos do acampamento. Para contar a história, até mencionaram que as raízes remetem aos acontecimentos da última década, mas destacaram a data da eleição como o estopim de tudo. A partir daí os acampamentos foram montados e o golpismo, alimentado pelo ex-presidente. O documentário utilizou abundantemente arquivos dos golpistas e lembraram com destaque como foi a repercussão internacional.
Nos últimos dias, para lembrar o aniversário do ataque mais violento sofrido por nossa jovem democracia, a Folha e a Globonews disponibilizaram seus documentários. Anatomia de um ataque golpista, de forma sucinta, combina depoimentos para montar o mosaico do ocorrido. Baseia-se nas falas de Flávio Dino e Rodrigo Pacheco para demonstrar que o golpe ganhou seus primeiros rabiscos há uma década, na exaltação que a vitória da Dilma provocou, e sem mencionar nominalmente demonstra na edição as relações que peças importantes como o governador do DF, Ibaneis Rocha, tinha com Jair Bolsonaro. Um elemento em falta, no entanto, é Gonçalves Dias. O general amigo de Lula protagonizou uma crise nos meses seguintes quando se revelou que ele esteve com alguns manifestantes.
Já A democracia resiste, disponível na Globoplay, rompe com a ordem cronológica dos acontecimentos indo e voltando nas datas determinantes para se entender o 8 de janeiro. Mais longo que o doc da Folha e ainda mais diversificado que o doc da BBC, a produção da Globonews teve acesso a um material mais vasto, com imagens inéditas e entrevistas que aprofundam detalhes do que aconteceu, como a violência contra policiais. Aliás, os depoimentos dos policiais da tropa de choque são positivos e ajudam a quebrar um pouco o tom unânime que se tornou uma regra maçante devido à quantidade de políticos entrevistados. O trabalho dos restauradores que tem algum destaque no doc da BBC, aqui, só aparece nos créditos, como parte do processo de reconstrução que aconteceu.
Se você estava vivendo intensamente as férias longe de Brasília e das mídias naquele 8 de janeiro de 2023, qualquer um desses documentários pode te ajudar a entender um pouco mais a fundo o que se passou já que o básico, a versão resumida, é até bem simples de ser compreendida e contada: pessoas se reuniram em um movimento catártico de ódio e destruição.