Em janeiro, o ministério da defesa britânico lançou um vídeo que fala sobre a percepção e a postura do Reino Unido diante dos desafios impostos pela ordem internacional. No mesmo mês, foi anunciado que os Estados Unidos voltarão a estacionar armas nucleares no país como parte de um programa da Organização do Tratado do Atlântico Norte para modernização de instalações nucleares. Outros países europeus também têm anunciado reforços em seus orçamentos e políticas de defesa.
Em resumo, a percepção do Reino Unido é de uma era de ameaças e para tanto, o país precisa voltar a se preocupar de forma urgente com a defesa, destinando um maior volume de investimento financeiro para o desenvolvimento das capacidades militares, mas também tomando uma posição de maior liderança na OTAN, aliança militar que envolve países europeus e os EUA.
Existem mudanças profundas acontecendo na distribuição de poder no sistema internacional, alterando a estrutura que sustenta a ordem internacional e o equilíbrio de poder vigente.
Na política internacional, equilíbrio de poder não significa que há uma igualdade, na distribuição do mesmo entre os países, mas que há uma divisão de poder onde as principais potências estão satisfeitas ou não veem incentivos para adotarem posturas expansionistas. Quando o equilíbrio está bem estabelecido a cooperação internacional é favorecida.
Porém, quando há mudanças nesse equilíbrio e há evidência de uma nova distribuição de poder emergindo, o incentivo para a manutenção do status quo diminui e há aumento da percepção de insegurança, principalmente, entre as potências dominantes. Potências insatisfeitas veem, nesse momento, a oportunidade de realizar os desejos expansionistas uma vez que há dúvidas sobre a capacidade e possibilidade de retaliação de outras forças.
Assim, a nova postura do Reino Unido reflete essa nova realidade onde a estrutura de poder está em mudança. Além disso, essa postura pode ser entendida como uma preparação a um novo termo de Trump como presidente, uma vez que as primárias do partido Republicano têm apontado que ele muito provavelmente será o candidato do partido às eleições presidenciais deste ano. O ex-presidente estadunidense, enfatizava veementemente que a Europa deveria tomar conta da própria segurança e não depender dos Estados Unidos, acompanhado de cortes de contribuição para a OTAN.
O cenário resultante é de crescente insegurança, preparação para o conflito e descontinuidade na cooperação internacional. Não é à toa que tem se falado tanto em desglobalização. A era de relativa paz que favoreceu o florescimento da globalização e do aprofundamento da interdependência entre os países enfrenta uma série crise e parece ter terminado. O cenário atual é de insegurança e tendência ao acirramento de conflitos e percepções. Como disse o ministro da defesa britânico: a era da paz acabou. Os países precisarão de inteligência e estratégia para navegar nesse novo cenário.
*Fernanda Brandão Martins é coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.
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