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As crianças de todas as idades que adoram Halloween receberam doces (e travessuras?) adiantado este ano: a Netflix lançou A queda da casa de Usher (The fall of the house of Usher, no original) no último dia 12. É verdade que a recepção foi dividida, houve quem gostou muito da proposta e houve quem achou muito aquém da obra original, isto porque Poe se tornou um clássico quase inconteste e muito bem recebido na cultura pop.
Edgar Allan Poe foi um escritor americano, nascido em 1809, em Boston, pertencente ao movimento romântico, uma referência em histórias de terror e um pioneiro do romance policial. Suas obras são tão marcantes que algumas temáticas são facilmente associadas ao escritor como aventuras, mistérios, mortes, romance, assassinatos mal ou bem logrados, loucura e medo, que, a propósito, vemos em A queda da casa de Usher.
A proposta da série, por sua vez, parece ser celebrar a obra de Edgar Allan Poe para bem além deste conto homônimo de onde vai buscar o protagonista, Roderick Usher, e sua irmã Madeline (ou como no conto, Lady Madeline). Quem está familiarizado com a obra do norte-americano reconhece rapidamente nos títulos de cada episódio os títulos de contos e poemas. E as referências são abundantes. Gatos pretos e corvos aparecem com alguma frequência. Lenore e Annabel Lee, então, não soam familiares? Uma visita aos poemas do autor mata (ops!) a questão.
A série da Netflix se passa nos dias atuais e apresenta Roderick Usher como sendo um senhor de alguma idade e CEO de uma grande farmacêutica, que controla com ajuda de sua irmã, Madeline, e de alguns de seus herdeiros. Assim como no conto, por capricho, a história se passa no solar de Usher e há alguém para interagir com o protagonista (no conto, é o narrador, um amigo), mas as semelhanças não vão muito longe. Na série, Roderick, enquanto está vivendo o luto por seus filhos tragicamente mortos, decide narrar sua história em tom confessional para ninguém mais, ninguém menos que o famoso detetive Auguste Dupin. Desta maneira, viajamos no tempo alternadamente para as semanas anteriores (quando entendemos o contexto e como ocorreu a morte de cada filho) e para décadas atrás (quando descobrimos como o casal de irmãos pobres conquistou a direção da empresa multibilionária).
Guardadas as diferenças inerentes entre o gênero literário e o audiovisual, mesmo com um bom elenco e a notável diversidade, temos uma série menos sutil e infinitamente menos inspirada que o original. No entanto, com um pouco de condescendência, é possível se divertir caçando as fartas referências, as adaptações escrachadas e os elementos marcantes pulverizados nos 8 episódios.
E vou além: para os leitores de primeira viagem, é mesmo possível utilizar a série como um mapa, um roteiro para conhecer a obra do autor. Quem sabe começar por Histórias Extraordinárias, um compilado de contos traduzidos e selecionados por José Paulo Paes, do qual faz parte A queda da casa de Usher? São 18 contos capazes de garantir um Halloween para a vida inteira!