Em se tratando de filmes de ação, Al Pacino já esteve em praticamente todos os fronts. Entre outros múltiplos papéis, já foi mafioso, filho de mafioso, pretenso ladrão de banco e Serpico, o policial honesto. Enquanto HBO Max não se torna apenas Max, que tal revisitar esse clássico que completou 50 anos antes que saia?
O filme se inicia com Frank Serpico baleado e, entre conversas em que percebemos o quanto ele não era bem-quisto na corporação, voltamos no tempo para ver como tudo começou, como foi o ingresso dele na vida policial e suas tentativas de se encaixar em um sistema quase totalmente apodrecido, que exigia farda, assepsia e um corporativismo acima dos valores morais que o ofício exigia.
Após sonhar com a vida policial, desejoso de lutar contra bandidos e a criminalidade, o personagem de Al Pacino se depara com uma realidade bem diferente: a corrupção combatida lá fora também estava dentro, difundida entre seus colegas e contando com a convivência de seus superiores, o que acabava por enfraquecer qualquer investigação e tornar qualquer mínima punição mais etérea que o sonhado ideal de justiça.
Ora, policiais honestos que lutam contra a corrupção interna e externa não são exatamente novidade na ficção, certo? Porém, Serpico traz uma vantagem em relação a esses filmes que conhecemos: é real, é baseado em uma história real, é uma pessoa real que vive, sabe dos riscos que corre e opta por isso, ainda que temendo pela própria vida.
Além da ótima atuação do jovem Al Pacino e da inquietação provocada por um enredo real de uma situação praticamente sem saída, Serpico traz as marcas de um filme da década de 70, com diálogos com racismo, xenofobia e até homofobia. Por exemplo, um colega policial para justificar o suborno que recebia disse algo como “Nós prendemos negros e latinos porque são burros, mas os italianos são diferentes”. Noutro momento, para desacreditar denúncias graves feitas por Serpico de caráter absolutamente profissional, citaram que ele seria homossexual. Mesmo que o preconceito se perpetue por aí, neste meio ou em qualquer outro, dificilmente veríamos nas últimas décadas uma fala assim desacompanhada de uma tag “politicamente (in)correto”. Mudam-se os tempos, mudam-se (um pouquinho) os palavreados.