Dialoguem com Ciro Gomes

Cássio Faeddo

Evitemos denominar qualquer candidatura como terceira via, pois só haveria este caminho de existissem duas alternativas que possuíssem o mínimo de planejamento administrativo. Não existem.

O fato é que Jair Bolsonaro apresenta ao eleitorado apenas a retórica já ideologicamente conhecida visando apenas colocá-lo no segundo turno. E aí já sabemos, entra qualquer coisa: comunismo, urna eletrônica, grupos de Telegram, vacinas etc. Tudo aquilo que possa manter entretido e polarizado seu séquito de seguidores.

Do outro lado, Lula. A mesma conversa de sempre: cerveja e picanha para o povo. Inocente, ou melhor, diante dos processos anulados sem resolução de mérito, diríamos como os norte-americanos: “not guilty “. E mais, o mesmo grupo de antes apoiando Lula para abocanhar seus cargos.

Algum eleitor, dos quase 60% que não querem dar o próximo passo à irresponsabilidade e ao passado, conta com a ajuda das demais forças políticas?

Pois é. A resposta é um redondo não!

Há muito Ciro Gomes apresentou um plano de governo apoiado em pilares de reindustrialização do país como aqueles apontados no seu programa nos polos de energia, defesa, saúde e agronegócio.

O problema é que Ciro tem batido firme na tributação de grandes fortunas concentradoras de renda, tributar dividendos, rediscutir o maleficio de um sistema financeiro volátil e nas mãos de poucos, além de romper com as oligarquias políticas corruptas.

Na verdade, sequer seria um problema, mas boa parte da solução.

Uma mínima adequação tributária para minimizar a miséria e a fome, um bom investimento em educação, não são novidades no mundo.

Bilionários globais têm se posicionado no sentido de uma maior tributação de suas riquezas.

Quando Elon Musk fala em uma renda mínima, ele não se posiciona desta forma porque seria um filantropo ou a Madre Teresa, mas porque sabe que a automação e tecnologia transformam o mundo de tal forma que haverá um ponto de ruptura em algum momento.

E o que haveria de errado em um programa que visa retirar o PIB industrial do Brasil dos cerca de 10% de hoje? Um jogo de ganha/ganha. Estamos perdendo do Vietnã, Laos e outros países na linha de crescimento.

O Brasil não pode se dar ao luxo de acreditar que seu grande território, repleto de bens naturais, biodiversidade, água doce, restará intacto no decorrer dos anos. A Ucrânia está aí para deixar claro que há a soberania de papel de embrulhar pão e a soberania de forças armadas fortes e de defesa respeitável.

Não há mais espaço para usar o patriotismo como arma eleitoral contra um falso inimigo comunista que só existe na fantasia de incautos como prega o bolsonarismo.

O quadro geopolítico nos impõe urgência, união e projeto de nação de longo prazo. Onde queremos estar em um prazo de 30 anos? Teremos água, nossas riquezas continuarão rendendo dividendos apenas a grupos estrangeiros? Esses grupos continuarão comprando a preço vil não só nossos bens como os lucros que nunca permanecem aqui para nosso desenvolvimento?

Feita esta breve digressão voltemos ao pacto democrático. Sim, nos referimos a um pacto de construção e de retorno ao nosso manifesto destino. Nosso manifesto destino de ter um IDH entre os dez melhores do mundo e de estarmos entre as cinco maiores economias do mundo em trinta anos.

Esse pacto importa no diálogo entre todos que estão fora deste véu de ilusão da falsa polarização entre Lula x Bolsonaro.

Na última pesquisa Genial/Quaest de março, em um dos quadros, Ciro Gomes aparece com 10% da preferência dos eleitores, dentro da margem de erro.

Esse dado deveria ser suficiente para que aqueles que se preocupam com o Brasil, além de nossas mazelas internas, mas de nossa existência como nação da forma como somos hoje, conversarem com Ciro visando um projeto unificado.

Os demais candidatos não passarão de traço. E quanto a Sérgio Moro, hoje se conhece o motivo de ter aderido ao governo Bolsonaro e de pouco falar: é fraquíssimo. Reconhecemos a decepção. Nunca foi liderança. Estragou processos com nulidades e os liberados estão todos se candidatando santificados por estas nulidades. Se foi um péssimo juiz, um péssimo ministro, como serviria para a presidência? Sua candidatura só se justifica pela formação de bancada por políticos espertos. Aliás, o antipolítico já perdeu o trem da história. Precisamos da política como a arte do diálogo visando o bem comum, não a politica das emendas secretas abjetas do relator.

Nunca se ouviu de Ciro Gomes que ele não estivesse disposto a negociar republicanamente seu plano de governo ou qualquer posição. Não há dogmas, Só não se negocia conchavos e negociatas. Ciro é um democrata. O que é necessário é um diálogo aberto e com visão de futuro.

Aguardemos que nenhuma posição esteja tão recrudescida que não permita uma conversa franca, séria, democrática e sem falsas ilusões sobre os riscos que o país corre no âmbito mundial.

Ainda há tempo.Pouco tempo

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Cássio Faeddo. Advogado. Mestre em Direitos Fundamentais. Especialista em Ciências Sociais – USCS. MBA em Relações Internacionais - FGV/SP.