É possível recomendar obras de um sem número de maneiras, criando listas sob quaisquer métodos e a seu bel-prazer, mas talvez poucas sejam tão efetivas em cutucar nossa curiosidade quanto indicar quais serão os futuros clássicos da literatura, do cinema ou da música. Afinal, quando falamos em futuros clássicos é literalmente do futuro que estamos falando, é das obras (em quaisquer mídias) que estarão lá enquanto outras aguardarão a boa vontade de pesquisadores ou curiosos.
E há outro fator envolvido quando falamos sobre trabalhos: as listas que aparecem costumam mexer com torcidas e paixões. Como falar de futuro seria diferente? Não é fácil aceitar que aquele livro que mexeu tanto contigo e absolutamente todo mundo leu naquele ano não vai tocar gente que está nascendo agora ou entender que aquela música que ditou a tendência de uma geração naquele ano de 2000-e-guaraná-caçulinha e parecia inesquecível vai, sim, ser esquecida.
De fato, fenômenos de venda e/ou trabalhos que geram discussão costumam ser apostas recorrentes para o futuro, mas não há nenhuma garantia de que sobreviverão à passagem do tempo. Há uma confluência de fatores necessária para que o posto de clássico seja alcançado e cuja presença de dinheiro pode até favorecer, já garantir… E mesmo alcançando o posto de clássico, mesmo sendo a personificação do clássico, nem todos seus livros se tornam clássicos com o autor. Vide o caso de Machado de Assis. Dificilmente alguém se aventura para além dos clássicos do clássico. E tudo bem.
“Classicar” obras é um ótimo exercício, delicioso até, de especulação. É como se montássemos um tipo hiper animado de jogo de pebolim, um senhor confronto de vontades e torcidas cujo o resultado é só o prazer imediato, a provocação, uma extensão do prazer que ler, ouvir, assistir nos proporciona. E isso tudosimplesmente porque o futuro que o clássico se torna clássico ainda não existe. Não faz sentido tentar ditá-lo agora. De qualquer forma, a torcida é para que se descubra que o título de clássico não nos interessa realmente, é só pompa que não nos serve, um tipo de casaco de inverno numa cidade que faz 40ºC o ano todo, que a maior vantagem está no agora, nas revoluções e construções que as obras, quaisquer obras, promovem dentro da gente. E que titulações são preocupações para quem precisa delas.