Guerra em Israel: e se os argentinos governassem o Brasil?

Fernando Ringel
Imagem: Reprodução

O mundo é muito grande e nem sempre dá para entender o que os outros vivem sem sentir o que eles passam. Então, vamos lá: um dia tudo aqui se chamou Pindorama, uma terra que já tinha os seus povos e culturas. Com o tempo, chegaram os portugueses, nasceu o nome Brasil, houve o fim da escravidão e a proclamação da República. 

Entretanto, ao fim da Primeira Guerra Mundial, e se o Brasil tivesse sido ocupado pela Inglaterra, como aconteceu com a Palestina, e os ingleses tivessem chegado a um acordo para que os argentinos vivessem aqui? E se os argentinos começassem a governar, enquanto os brasileiros tivessem passado a viver em territórios cada vez menores e empobrecidos? 

Pois então, a Palestina lutava pela independência do domínio inglês, quando as Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a partilha do país, o que provocou a “Guerra árabe-israelense”, em 1947. Além da derrota, os palestinos ainda perderam território para Israel, o que aconteceria em todas as tentativas de revolta nos últimos 75 anos. Aliás, o que pode ocorrer de novo, dessa vez na Faixa de Gaza, tendo em vista o apoio internacional pela luta contra o terrorismo e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, precisar de uma resposta enérgica para se manter no cargo.

Independente se os árabes estão certos ou não, qual povo aceitaria essa situação?

Uma favela na “quebrada” de Jesus 

Ao longo das décadas, os palestinos passaram a viver em locais onde o básico é luxo, semelhante ao que acontece nas favelas brasileiras, onde a maioria da população é honesta e mora ali por falta de opção. Como não existe vácuo de poder, o Hamas atua como fosse um “bicheiro”, o “chefe do morro”, que apesar de algumas benfeitorias, tem a sua autoridade como consequência da pobreza e a exerce por meio da força. 

Sendo assim, quando há um confronto entre o Hamas e Israel, assim como nos excessos da polícia e milicianos em comunidades, é quem mora ali que paga o preço. Aí fica a dúvida: em um lugar tão violento, onde até Jesus acabou morto de forma bárbara, qual é a solução? 

Caso seja aplicada a ideia de “um Estado, duas nações”, hoje a Palestina teria um formato inédito: um país dividido em três pedaços, um em cada canto de Israel. Para evitar essa geografia inviável, o presidente da Turquia, Recep Erdogan, sugeriu que Israel devolva territórios, voltando às fronteiras de 1967. Se isso é um assunto problemático em qualquer lugar, pior ainda é falar isso aos israelenses após o ataque do Hamas…

E o Brasil com isso?

Naturalmente, grande parte da esquerda se solidariza com a situação de um povo pobre como o palestino. Entretanto, Lula é petista só aqui dentro e como o Brasil está na presidência do Conselho de Segurança da ONU, o governo segue um caminho moderado, condenando os ataques, sem enquadrar o Hamas como grupo terrorista. 

Como era de se esperar em um conflito que envolve interesses políticos, econômicos e até religiosos, a reunião convocada nas Nações Unidas não chegou a uma posição comum. De concreto mesmo, o presidente brasileiro ganhou espaço na mídia internacional, novamente, o que para muitos demonstra sua intenção de receber o Prêmio Nobel da Paz. Já há quem diga que, para lidar com os nossos problemas e os do mundo, é tanto “jogo de cintura” que Lula precisou até de cirurgia no quadril. 

Brincadeiras à parte, são lamentáveis as mortes, mas também o custo das guerras na cotação do dólar e no preço dos combustíveis. Pior ainda quando um dos maiores exportadores de petróleo, como o Irã, tem interesse na continuação do conflito. 

Ruim para o tanque do seu carro e também para o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Como Joe Biden precisa endurecer o discurso para fazer frente à Donald Trump, já declarou apoio incondicional dos americanos aos israelenses. Coincidência ou não, bastou o dinheiro e as armas começarem a escassear para os ucranianos voltarem às negociações para um cessar-fogo com a Rússia. Eis a chance que Zelensky e Putin tem para encerrar o conflito sem derrota.

Sendo um país do Terceiro Mundo, resta ao Brasil torcer pela paz para se ver livre de crises internacionais que possam contaminar a economia interna. Além disso, o fim dos conflitos na Ucrânia e em Israel favorece a reeleição de Biden, mais amigável ao atual governo brasileiro do que Trump. 

Enfim, até para ter a paz, ajuda muito se ela representar um bom negócio.

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Fernando Ringel é Jornalista e mestre em comunicação