Depois da Segunda Guerra Mundial, ficou claro que os judeus precisavam de uma terra. Porém, caso realmente quisessem ajudar, os ingleses teriam oferecido uma de suas ilhas, como as Malvinas. Se os americanos soubessem que um dia Fidel Castro chegaria ao poder, certamente teriam incentivado a emigração para Cuba, mas não existe bola de cristal e, de graça, político não ajuda ninguém.
O mundo tem dessas coisas e o povo judeu teve a oportunidade de se fixar em um pedaço de terra desértico, rodeado por vizinhos que desejam a sua destruição. A ideia, para lá de ousada, foi formalizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), mas vem falhando desde 1947.
Como o que não funciona bem começa a receber remendos, logo surgiu uma nova ideia, com nível similar de genialidade: por que não, “um Estado e duas nações” envolvendo Israel e Palestina?
Se mesmo vizinhos pacíficos como a República Tcheca e a Eslováquia não passaram de algumas décadas como Checoslováquia, como isso seria possível entre povos que são rivais desde o ano 70 depois de Cristo (d.C.)?
Caminhos para um Estado palestino viável
Antes de ser a capital do Iraque, um dia Bagdá era um dos símbolos da Babilônia, a mesma dos jardins suspensos cantados por Rita Lee. Para a época, eram o que Dubai é hoje, mas quem não se adianta, fica para trás.
Se os radicais chegarem à conclusão de que, afinal, 1947 aconteceu há mais de sete décadas e as crianças de hoje não podem sofrer por algo que não existe mais, o Estado palestino pode finalmente se tornar realidade. Não o ideal, mas um possível. Entretanto, como torna-lo viável?
Como o seu território está espalhado dentro de Israel, o primeiro desafio é geográfico: ao norte fica a Cisjordânia (governada pela Autoridade Palestina), ao centro está Jerusalém Oriental (administrada pelos israelenses), e no sul, a faixa de Gaza (governada pelo Hamas).
Um caminho seria dar autonomia para cada região, que juntas, formariam uma associação política como era a Iugoslávia ou a União Soviética. Nesse sentido, os Emirados Árabes Unidos são o exemplo mais próximo da realidade palestina, sendo formados por sete monarquias, incluindo prósperas como Abu Dhabi e Dubai.
Entretanto, nenhum acordo funciona sem o dinheiro necessário para manter as coisas dentro da civilidade. Inicialmente, o novo país se tornaria possível por meio de ajuda externa. Isso obrigaria a Autoridade Palestina, única liderança possível no momento, a se comprometa com o fim do terrorismo em seu território.
Obviamente não é tão simples porque Mahmoud Abbas seria considerado traidor pelos militantes mais radicais, colocando sua vida em risco. Ali ao lado, no Egito, Anuar Al Sadat foi assassinado em 1979, após reestabelecer relações com Israel, e em 1995, o primeiro-ministro israelente, Yitzhak Rabin, foi assassinado após assinar acordos de paz com os palestinos.
Caso haja alguém corajoso o suficiente, ainda assim, serão décadas de convivência difícil, temperada pelas lembranças de todos que estão vivendo a guerra atual. Seria algo como as antigas Alemanha Ocidental e Oriental, que sem uma solução para as suas diferenças, viveram suas histórias até que um dia tudo se resolveu sem a necessidade de um mero tiro de revolver.
Da mesma forma, um dia houve o Exército Republicano Irlandês (IRA) que fazia atentados tentando unificar Irlanda e a Irlanda do Norte, terra da banda de rock U2. Hoje, tudo é passado e os países vivem cordialmente.
Não se sabe como seria a nova Palestina, mas para que ela nasça, por mais doloroso que seja aos árabes, é necessário aceitar que Israel é uma realidade. As fronteiras de 1947 não existem mais, entretanto Gaza pode se tornar um balneário, uma cidade-estado, como Mônaco, Singapura ou Taiwan. Trata-se de uma decisão: para que usar seu pouco dinheiro em construir tuneis com armas, ao invés de enriquecer com o comércio e viver em paz? Com a ajuda de parceiros como o Catar, isso se tornaria possível.
Certamente seriam auxiliados por outros aliados orientais, como a Arábia Saudita, o que seria uma ajuda importante, mas também ampliaria a influência americana na região. Nada vem de graça em política, mas seriam passos para sair da situação em que as coisas chegaram por lá.
E o Brasil com isso?
Mais uma vez os brasileiros ficaram de foram da lista para deixar a faixa de Gaza. Como o Brasil nunca se colocou efetivamente a favor de Israel na presidência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), há quem diga que a demora na liberação seria uma retaliação. Israel joga a responsabilidade no Egito, mas a reunião na última quarta-feira (08) entre o embaixador israelense e o ex-presidente Jair Bolsonaro alimentou a desconfiança. Teria uma demonstração de descontentamento dos israelenses com o Governo Lula. Será que uma coisa tão seria tratada como picuinha? Pode não ser, mas que ficou parecendo, ficou.