Normalmente, tento abordar temas nessa coluna que fujam da minha biografia – exceto o que é relacionado a minha vivência docente – procurando externar meus gostos ou pontos de vista literários de forma imparcial. Mas dessa vez, inspirado pela volta às aulas, resolvi falar um pouco de minha relação com os livros e como a minha vida foi direcionada e modificada por elas.
Eles sempre estiveram presentes em minha vida. Como vivia um pouco isolado e por passar muitas horas sozinho, os livros e quadrinhos passaram a ser meus companheiros e seus personagens meus amigos mais íntimos. E foi essa proximidade que me levou ao curso de Letras.
Já tinha intimidade com autores infanto-juvenis como os livros da Série Vaga-lume, já tinha lido autores diversos como Machado de Assis, Umberto Eco ou até mesmo Paulo Coelho. E foi na graduação que passei pela primeira grande mudança provocada pelos livros. Graças a um professor e a Ilíada, traduzida por Haroldo de Campos, passei a criticar com mais critério adaptações literárias.
Com o formatura veio a ânsia de lecionar e o medo de largar uma carreira consolidada ajudou a retardar esse sonho. E foi, novamente um livro, que me levou a largar tudo, arriscar e reiniciar minha vida profissional agora fazendo aquilo que me traz mais prazer e realização profissional: ensinar. A obra? On the Road, de Jack Kerouac. Foi por causa da leitura desta obra, que inspirou nomes como Bob Dylan, Coppola e outros grandes artistas, que larguei uma carreira de dez anos na área comercial para formar leitores e cidadãos.
Mesmo minha visão de mundo e política foram modificadas a partir de livros. Criado num berço socialista e de simpatizantes das ideologias de esquerda, li, ainda jovem, os mais relevantes textos que difundem essas ideias: O Manifesto Comunista, o principal.
Mas os livros mudam as pessoas, movem o mundo e nos viram do avesso. Nos últimos anos, a leitura de obras como 1984 (já citada nesta coluna), Admirável Mundo Novo, livros recentes como Esquerda Caviar e contato com obras de autores como a romancista norte-americana Ayn Rand, me fizeram ter outro visão, me fez conhecer outro ponto de vista que até então não conhecia a fundo e que se relaciona com o que sinto e penso hoje.
Os livros nos modificam. Faz com que nos renovemos a cada obra, a cada época. Sou o mesmo desde garoto, mas sou outro, sou novo, uma versão renovada de mim. E não sou uma obra completa, concluída. Me renovo, estou em fase de mudanças constantes por me manter em eterna leitura, de mim mesmo e do mundo. E essa é a dica da semana, renovar-se com a leitura. Até semana que vem.
@kajotha