Mais que “pessoas com síndrome de Down”, Colegas (2013)

Jaqueline Ribeiro
Colegas - Foto: Reprodução

Recentemente, viralizou a campanha da CoorDown, com a modelo Madison Tevlin, com o mote “Assuma que eu possa” por ocasião do Dia Internacional da Síndrome de Down, em 21 de março. A ideia é simples e objetiva na mesma proporção, afinal, para algo acontecer é preciso que haja um movimento anterior, qualquer movimento – oferta, incentivo ou empurrão, tudo funciona. E na ausência desse movimento, acontece como o exemplo inicial visto na campanha: se o bartender não acredita que a jovem possa beber algo, a jovem não recebe aquilo e realmente não bebe. 

No cinema, na literatura e na TV, vimos mais desses “movimentos anteriores”, trabalhos inteiros ou participações de pessoas com a síndrome em obras que abordam o preconceito. Porém, costumam ser esparsas, documentais ou focadas em quem convive com a pessoa, em seus dilemas, dramas e situações. Por exemplo, “O filho eterno” do Cristóvão Tezza, elogiadíssimo, virou filme. Deixando claro: é ótimo que existam para conscientização e etc., mas há um campo vasto demais a ser explorado para além de situações de dor & em que as pessoas tenham posições de relevância. 

E “Colegas” (2013) cumpre esse papel. Se pensarmos numa versão da Bechdel Test para portadores da síndrome, além da aventura em que se metem, das situações pouco usuais (para o que se convencionou para eles) pelas quais passam, o filme tem três protagonistas, o que já configura um número significativo, e conversam sozinhos entre si, sem intermédio ou tutela de ninguém. No carro, vivendo suas vidas, são jovens sendo jovens e, por acaso, portadores da síndrome de Down.

Pode demorar um pouco, mas é possível que antes que se complete 200 anos da primeira descrição da síndrome tenhamos a inclusão desejada, aquela em que respeitadas suas características e resguardados seus direitos, possamos dizer e ver representados nas artes em seus devidos papéis de pais, irmãos, primos, vizinhos, parceiros, pessoas como quaisquer outras, colegas como são todos os outros.

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Jaqueline Ribeiro é bacharela em Comunicação/Jornalismo pela UEMG-Frutal, interessada por tudo o que conta histórias, escreve sobre livros, filmes e discos