As próximas eleições, para prefeitos e vereadores, ocorrerão, em primeiro turno, em 6 de outubro de 2024, e, no segundo, em 27 de outubro. No Rio de Janeiro será uma briga de foice no escuro, porque, dependendo de quem for eleito, o narcotráfico poderá prosperar ou murchar, a burra poderá ser assaltada, via desvio de verbas, ou o dinheiro será usado para ajudar em um projeto amplo de despoluição da Baía de Guanabara e na ampliação do metrô ligando o Rio a Niterói por debaixo da baía, além do empenho, junto à bancada fluminense no Congresso Nacional, pela liberação do jogo de azar.
O Rio é o maior destino turístico internacional no Brasil, na América Latina e no Hemisfério Sul. É uma vitrine brasileira. Um dos principais centros cultural, econômico e financeiro do país. Conhecido como Cidade Maravilhosa, seus ícones são cinematográficos, como o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, as praias de Copacabana, Ipanema e Barra da Tijuca, a floresta da Tijuca, a Biblioteca Nacional, O Museu Nacional de Belas Artes, o réveillon de Copacabana, o carnaval carioca, a própria Baía de Guanabara etc. etc. etc.
Foi no Rio que a identidade brasileira começou a ser forjada. A Semana de Arte Moderna de São Paulo só se tornou um ícone por causa dos cariocas. O que os paulistanos fizeram, à época, já era rotina no Rio. O livro Metrópole à Beira-Mar – O Rio Moderno dos Anos 20, de Ruy Castro, deixa isso claro, pois a pesquisa que Ruy fez é irrepreensível.
A ideia de se ligar por trem o Rio de Janeiro a Niterói data do fim do século XIX, no reinado de Dom Pedro II, mas foi somente em 1968 que o projeto original do metrô esboçou a linha 3, e o esboço foi engavetado. Em 2015, voltou-se a pensar nisso, pois o projeto beneficiará mais de 1,5 milhão de usuários por dia. Mas agora o plano é ligar a Praça XV, no Rio, à Praça Arariboia, em Niterói, por metrô, via túnel por baixo da Baía de Guanabara. Já há estudos conclusivos sobre isso e dinheiro. Em vez de financiarmos a Argentina, ou construir portos e metrôs em ditaduras por aí afora, por que não construir o metrô Rio-Niterói e despoluir a Baía de Guanabara?
Há meio século, já se despejava na Baía de Guanabara 460 toneladas de esgoto in natura por dia. Em 1980, 5 mil indústrias despejavam seu esgoto na baía. Hoje, seus manguezais estão morrendo e a baía agoniza, sufocada pelo esgoto industrial e domiciliar, óleo e metais pesados.
A baía recebe resíduos de 55 rios e riachos, 14 mil indústrias, 14 terminais marítimos de carga e descarga de produtos oleosos, dois portos comerciais, vários estaleiros, duas refinarias de petróleo, mais de mil postos de combustíveis e uma rede de transporte de combustíveis e produtos industrializados. Em janeiro de 2000, ocorreu um vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo na baía. Em março de 1975, foram 6 milhões de litros de óleo que vazaram. E a baía vem se tornando um cemitério de embarcações abandonadas.
Obviamente, o prefeito do Rio não pode arcar com o metrô sob a Baía de Guanabara, nem com a despoluição da baía, mas pode pôr a alma nisso, mobilizando o Estado e a União.
Outra bandeira necessária para que conservemos o Rio como o maior destino turístico do Hemisfério Sul é uma política de segurança pública com tolerância zero, provida de um setor de inteligência utilizando equipamentos de ponta, trabalhando conjuntamente com os setores de segurança e as Forças Armadas.
A ampliação e a qualidade do tratamento e distribuição de água e garantia do fornecimento de energia elétrica fazem parte, também, das preocupações que o prefeito deve ter para com o Rio.
Finalmente, a legalização dos cassinos é importantíssima, pois a clandestinidade do jogo de azar leva à potencialização do crime organizado, já que essa atividade corre à margem do Estado, sem fiscalização, sem deveres legais e sem contribuir com sequer um centavo para com o orçamento do país.
O Brasil é um dos países onde mais se joga no mundo, movimentando cerca de 5 bilhões de dólares por ano, sem fiscalização e sem pagar nenhum centavo de imposto, nem gerar emprego formal. Só o jogo do bicho movimenta 10 bilhões de reais por ano, segundo estudo do Instituto Brasileiro Jogo Legal (IJL)/BNLData.
De acordo com o IJL/BNLData, o mercado de jogos no Brasil tem potencial de faturar 15 bilhões de dólares por ano, deixando para o erário 4,2 bilhões de dólares, além de 1,7 bilhão de dólares em outorgas, licenças e autorizações, isso, sem somar investimentos e geração de empregos na implementação das casas de apostas. E geraria mais de 658 mil empregos diretos e 619 mil empregos indiretos.
O jogo de azar é praticado em muitos países, como, por exemplo, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Bélgica, Espanha, Itália, Suíça, Grécia, Portugal, Áustria, Holanda, Mônaco, Uruguai etc. A Região Administrativa Especial de Macau, na China, é hoje o principal centro de jogos do mundo, desbancando Las Vegas, nos Estados Unidos, como capital mundial dos cassinos, e faturando, com apenas 35 cassinos, 38 bilhões de dólares por ano. Os mais de 100 cassinos de Las Vegas faturam 8 bilhões de dólares por ano e só uma de suas maiores redes conta com 50 mil empregados.
Quando o jogo foi proibido no Brasil, em 1946, havia 70 cassinos espalhados pelo país empregando mais de 40 mil trabalhadores, incluindo artistas como Carmen Miranda e Orlando Silva; era, então, a indústria que mais fazia o país prosperar.
Para o presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal (IJL), editor do BNLData e jornalista especializado em loterias e apostas Magno José Santos de Sousa, o Brasil se submete a uma das legislações mais atrasadas do mundo para o setor, e adverte: “A clandestinidade não anula a prática”. Pesquisa realizada pela Global Views on Vices, em 2019, estima que no mundo 70% da população são favoráveis aos jogos de azar e 25% não. Aqui, 66% dos brasileiros são favoráveis ao jogo, contra 25%.
Argumento dos que não querem a legalização dos jogos de azar é de que pode agravar problemas na saúde, com alto custo de tratamento dos apostadores contumazes, além de aumentar a exploração sexual e a prostituição, piorar a segurança pública e prejudicar ações de combate à corrupção, aumentando lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e evasão de receitas. Ora, tudo isso ocorre agora, precisamente por causa da clandestinidade do jogo de azar, alimentando a corrupção, propina e chantagem.