Neste Dia das Crianças, celebremos dois artistas-meninos: Fernando Sabino e Tom Zé

Jaqueline Ribeiro
O garoto Lino Acioli dá vida ao personagem criado por Fernando Sabino em seu romance sobre a infância passada em BH (foto: Gustavo Baxter/Divulgação)

Nesta semana, um jornalista pediu que descancelassem Fernando Sabino. Mais humilde, só peço que o leiam – e se possível, que escutem também Tom Zé 

Ainda que homens geralmente possam prolongar a infância até bem mais tarde – se comparados às mulheres–, não é sobre imaturidade que falamos quando aglutinamos meninos a artistas aqui. Algumas pessoas guardam realmente qualquer coisa da sua meninice e demonstram isso de diferentes maneiras nas artes, na inventividade e delicadeza de seu trabalho. Assim acontecia com Fernando Sabino, que completaria 100 anos neste dia 12 de outubro, assim acontece com Tom Zé, o iraraense que, em plena atividade, completa 87 anos na véspera, 11 de outubro.

Fernando Tavares Sabino nasceu em Belo Horizonte, em Minas Gerais, em 1923. Trabalhou como jornalista, editor (sócio nas editoras Do Autor e Sabiá) e é reconhecido principalmente devido ao seu trabalho como escritor. Foram mais de 40 livros publicados entre crônicas, contos, romances e cartas. Em 1999, recebeu prêmio da Academia Brasileira de Letras (ABL) pelo conjunto da obra.

Já Tom Zé, nascido Antônio José Santana Martins, em 1936, é natural de Irará-Bahia. Foi diretor de música do Centro Popular de Cultura e estudou na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia. Expoente do movimento tropicalista junto a Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e outros, lançou em 2022 seu 27º álbum, Língua Brasileira.

Tom Zé lança CD inédito para "crianças"
Tom Zé – Foto: Divulgação

Senhor de um estilo cativante, Sabino ganhou prêmios com O grande mentecapto, mas tinha mesmo os dotes dos melhores cronistas, não à toa tem cadeira cativa no panteão da crônica brasileira. Sabia ler e registrar seu cotidiano com graça e leveza sem ignorar, contudo, os problemas que o cercavam. É assim com O homem nu (sobre um homem que se vê preso no corredor e nu), é assim com A falta que ela me faz (sobre a dependência da empregada) e é assim com A última crônica (referência ao poema de Manuel Bandeira).

Por sua vez, tal qual o título da sua biografia, Tom Zé é considerado por muitos como o último tropicalista. Isto porque insistiu em continuar ininterruptamente com as experimentações tão em voga naquele movimento. De acordo com Tom, faz assim porque é como é, é como sabe fazer. Entre as características de sua música, podemos citar os trocadilhos/humor, as críticas e a ousadia na (des)construção musical a serem conferidas em 2001, uma odisseia no espaço, Parque industrial, e Menina, amanhã de manhã, redescoberta (de novo) e viralizada durante a pandemia.

Enquanto em Fernando Sabino, entre outros temas, há um resgate da memória, uma volta à infância, ao menino que foi, como em O menino no espelho e noutras crônicas diversas, Tom Zé traz outro aspecto do ser criança: a curiosidade. O apreço por conhecer o novo, o inesgotável apetite pela música é sintomático de um grande musicista, claro, mas também nos remete à criança encantada com o mundo, destemida e de braços abertos para o novo. Quando se trata de Tom Zé, não é difícil imaginar que é dessa maneira que recebe a sentença belchioriana, o novo sempre vem.

Fernando Sabino - Foto: Reprodução
Fernando Sabino – Foto: Reprodução

No fim dos anos 70, Para gostar de ler reunia alguns dos melhores contos, crônicas e poesias brasileiras. Sabino, na companhia de outros grandes escritores, fazia a alegria dos leitores em formação. Se houvesse algo semelhante na música, certamente Tom Zé figuraria com destaque com qualquer um de seus discos, inflando o repertório da moçada e distribuindo motivos “Para gostar de ouvir”. 

E se Sabino cunhou para si muito propositadamente o epitáfio “Aqui jaz Fernando Sabino, nasceu homem e morreu menino”. Com a devida licença de ambos os autores, parafraseio sem medo de errar “Vive aqui Tom Zé, que nasceu homem e menino é”. 

PARA MARCAR NA AGENDA 

11/10 e 12/10

Fernando Sabino 100 anos – solenidade de abertura: realização Biblioteca Estadual de Minas Gerais

15/10 

Tom Zé – 50 anos de Todos os olhos: apresentação no encerramento do III Festival Mário de Andrade no Vão Livre da Praça das Artes em SP

16/10 a 31/12 

Fernando Sabino 100 anos – a exposição: realização Biblioteca Estadual de Minas Gerais 

19/10 Seminário Fernando Sabino 100 anos: realização da Universidade Federal de Minas Gerais

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Jaqueline Ribeiro é bacharela em Comunicação/Jornalismo pela UEMG-Frutal, interessada por tudo o que conta histórias, escreve sobre livros, filmes e discos