Jair Bolsonaro optou durante os quase quatro anos de seu mandato a prática do embate direto contra o Judiciário, mais propriamente em face do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.
É público e notório que as sementes da desconfiança foram plantadas já em 2018, especialmente no que se refere a fantasiosa versão de que o presidente houvera sido eleito no primeiro turno das eleições.
Houve também o Bolsonaro golpista, seja galopando em plena pandemia para seu séquito de seguidores, discursando em frente ao quartel, ou mesmo utilizando a data da independência nacional para insuflar seus correligionários contra o STF com discursos enviesados e alguns outros diretos.
Mas algo inesperado ocorreu.
A pandemia foi o evento global do cisne negro que alterou as estruturas políticas em todo o mundo.
Bolsonaro não contava com a derrota de Trump. Certamente, se Trump tivesse êxito, e tudo indicava que teria se não houvesse a pandemia, Bolsonaro teria um imprescindível apoio neste momento. Ironicamente, apenas a Chinae Rússia têm hoje algo a ganhar com a falta de apoio externo a Bolsonaro.
Jair Bolsonaro não estava preparado para um plano B de sobriedade política, sendo certo que as correções de última hora, especialmente no campo da assistência social com ações para baixar o preço dos combustíveis, e agora raspar o último centavo que a União tem de dividendos da Petrobrás, não foram acompanhadas de correções que indiquem o recomendável abandono do discurso golpista.
Bolsonaro erra muito.
Seu último ato amalucado foi o de convocação de embaixadores para única e exclusivamente atacar o processo eleitoral de urnas eletrônicas.
Urnas, aliás, que funcionaram muito bem para eleger por trinta anos o próprio Bolsonaro, filhos e centenas de apoiadores pelo país.
Foi um ato risível, de autossabotagem, que teve como único efeito gerar o contragolpe da sociedade civil, incluindo empresários, banqueiros, intelectuais, profissionais liberais, dentre outros, fechando posição pelas instituições, incluindo aí o respeito ao processo eleitoral.
Mas não foi só. Exceto pelo apoio de alguns poucos da extrema-direita, como o chanceler da Hungria, Péter Szijjártó, interna e externamente Bolsonaro está cada vez mais isolado.
A lista de atores nacionais, internacionais e instituições aumenta exponencialmente.
As manifestações de apoio ao processo democrático e de respeito a este vão desde o secretário de defesa dos EUA, Lloyd Austin, Febraban, FIESP até manifestações de eurodeputados, estes em razão de todos os eventos ocorridos na Amazônia.
Jair Bolsonaro necessitaria corrigir seus atos e discursos, e será inafastável debater com Lula frente a frente ainda antes do primeiro turno, desafiando-o a comparecer aos debates.
É flagrante que Bolsonaro perde sustentação política que em breve aparecerá em pesquisas quando começar, de fato e de direito, a campanha eleitoral