O presidente Lula se excede nas críticas aos governos passados

Júlio César Cardoso

Lula continua o mesmo sindicalista falastrão. Devia se preocupar em começar a governar e não olhar enviesado as gestões anteriores, bem como as medidas positivas, como a autonomia do Banco Central, as novas regras trabalhistas, etc.   

O país paga pela qualidade sofrível de seus políticos. Temos dois irremediáveis: um medicava cloroquina/ivermectina e tripudiava a ciência; o outro, atual, condena, de forma quixotesca, a autonomia do BC, a privatização da Eletrobras, as novas regras trabalhistas, etc. Assim, o país vive uma encruzilhada: se ficar com Lula, o bicho pega, se ficar com Bolsonaro, o bicho come. 

A independência do BC foi instituída justamente para o órgão não sofrer interferência de políticas governamentais, como Lula deseja. As decisões do BC são técnicas e não políticas, e isso não agrada ao PT. Querem o quê? Que o BC mascare a realidade brasileira e forneça uma Selic que agrade ao governo? 

Lula já iniciou o governo convencendo o Congresso a aprovar a PEC do desmonte, que prevê a expansão do teto de gastos, ou seja, uma artimanha engendrada para desrespeitar as regras fiscais constitucionais. 

Condena-se a gestão do governo passado, mas não se pode aceitar a reencarnação dos procedimentos que o PT deixou plantado e que só enxovalharam a nação: Mensalão, Lava Jato, etc. e que levaram, por exemplo, o presidente Lula à prisão. Com manifestações estapafúrdias contra o BC, o governo não corrige a sua velha forma de agir. 

Que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi um governante incompetente, autocrata e negacionista, responsável pela morte de muita gente no auge da pandemia, o mundo sabe. Mas não se pode aceitar, por exemplo, que o ex-presidente Michel Temer tenha sido um dirigente golpista, porque a legalidade de seu governo foi respaldada pelos tribunais TSE e STF. 

A persistência do novo governo e representantes do PT com os insultos de golpistas exige responsabilizar, na forma da lei, quem indevidamente faz acusações levianas. Diferentemente, os aloprados seguidores de Bolsonaro, que envergonharam a nação ofendendo com prejuízos materiais os Três Poderes, podem ser considerados golpistas por não reconhecer o resultado legítimo das eleições presidenciais. 

É um exagero inaceitável o presidente Lula bradar que o Brasil está devastado pela fome. A fome existe, em alta escala, desde os governos petistas e jamais foi combatida com medidas positivas de longo prazo. 

“O Brasil tem hoje 33 milhões de pessoas a passar fome. Isso significa que quase tudo o que fizemos para benefício social no meu país, em treze anos de governo, foi destruído em seis ou sete anos, três anos do líder golpista Michel Temer, e quatro de Jair Bolsonaro”, disse Lula durante a sua visita ao Uruguai. 

Nenhum presidente da República teve até hoje como meta prioritária erradicar a fome, a pobreza extrema do país. Todos só enganam a nação com promessa de fazer e depois encerram o mandato sem apresentar resultados positivos na vida de milhões de descamisados, que continuam a comer o pão que o diabo amassou. 

O quadro degradante de Roraima, onde indígenas Yanomami, desnutridos e doentes, comovem qualquer vivente, também existe, há muito tempo, em todo o quadrante nacional, à vista de políticos, prefeitos, governadores e presidentes da República. Todos os ex-presidentes da República, inclusive o presidente Lula, são responsáveis pelo estado contínuo de miséria crônica do povo sofrido brasileiro. 

O discurso de crítica ao governo passado é procedente, mas não se pode esquecer que o PT, em mais de treze anos de governo, deixou o país à beira da bancarrota, com mais de treze milhões de desempregados, empresas quebradas, inflação alta, descredito na comunidade financeira internacional e a Petrobras saqueada. 

Antes de o BNDES financiar governos estrangeiros, deveria se voltar para financiar, internamente, obras de infraestrutura básica em muitas cidades, onde o esgoto ainda corre a céu aberto. Logo, não pode ser considerado sério um governo que promete socorrer nações como Argentina, Venezuela, Cuba, etc., quando 33 milhões de pessoas passam fome, o desemprego é elevado, falta moradia, o sistema público de saúde não atende com dignidade a todos, a escola pública é deficiente e a falta de segurança pública é uma vergonha

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Bacharel em Direito e servidor federal aposentado. Balneário Camboriú-Santa Catarina