O presidente Lula está novamente na Europa, dessa vez em visita à Itália e França. Entre os compromissos oficiais, se reuniu com o Papa Francisco, no Vaticano, para debater as mudanças climáticas, o combate à fome, além de alternativas para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia. Aproveitando a ocasião, o líder da Igreja Católica foi convidado para o Círio de Nazaré deste ano em Belém, Pará.
Claramente, o encontro tem um papel mais político do que prático porque o Papa, apesar de governar o Vaticano, que tem apenas 800 moradores e fica dentro de Roma, tem influência mesmo apenas no campo religioso. Para o mundo, trata-se de mais uma tentativa de Lula se colocar entre os protagonistas da política internacional, além de acenar para o Brasil, reforçando que seu governo não tem nada de ateu. É como na dança: “dois passos pra lá e dois pra cá”.
Como toda ação tem a sua reação, o que não falta é gente dizendo que Lula viaja demais e que deveria se preocupar mais com assuntos internos, como a articulação do governo no Congresso Nacional. Não está de todo errado, mas alguma oposição, em algum lugar do mundo, fica preocupada caso o governo perca uma votação? Enfim, a política tem disso. Por exemplo, entre 1995 e 2001, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) estava na presidência e a acusação era a mesma, “viaja demais”. Chamavam até de “Viajando Henrique Cardoso”. Bobo é quem cai nesse papinho porque, na economia mundial, os presidentes são comerciantes e bom vendedor é aquele que fica na rua, onde tudo acontece. No caso, a “rua do mundo” são os outros países e é assim, conversando com quem quiser conversar, que o contato de hoje se torna o contrato de amanhã.
Tudo isso ilustra uma velha piada da política, de que quando dois parlamentares trocam acusações, geralmente os dois estão certos.
“Há homens que morrem pela boca”
Um exemplo disso é a indicação de Cristiano Zanin para vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Embora tenha sido amplamente apoiada por juristas, é impossível não achar estranho que o indicado de Lula tenha sido advogado do próprio Lula, não é? Gostando ou não, no último dia 21 o Senado aprovou a indicação com 58 votos a favor e 18 contra.
Essa poderia ter sido uma notícia de certo embaraço para o governo, mas acabou ficando em segundo plano por causa do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre os direitos políticos de Jair Bolsonaro (PL). As acusações são por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em função de a TV Brasil, emissora pública, ter transmitido uma reunião com embaixadores em que o ex-presidente alegava falhas no processo eleitoral brasileiro. Pois é, “quando a cabeça não pensa, o corpo padece”.
Esse é apenas um dos episódios em que o ex-presidente entrou voluntariamente, criando problemas para si mesmo. Para sempre será lembrado pela pandemia, evidentemente um desafio que ninguém havia enfrentado e um prejuízo imenso para o seu governo na economia. Porém, quando não se sabe qual caminho seguir, o negócio é deixar quem sabe, no caso os médicos, fazerem o trabalho deles. Foi a oportunidade de se tornar um herói apenas por ser prudente, mas é como se dizia no Império Romano: “há homens que morrem pela boca”. O caso da TV Brasil é só mais um exemplo disso em sua biografia