Na última semana, o Spotify liberou sua retrospectiva e inundou as redes sociais com números, listas e uma infinidade de estilos musicais de causar espanto nos desavisados. O fato de repassar pouco aos artistas, ameaçar sair do Uruguai por causa da mudança na lei de direitos autorais ou ter demitido 1500 funcionários não toca sua popularidade. Ou a popularidade de seus pares de diferentes gêneros com problemas semelhantes ou não.
Com a multiplicação de serviços de streaming, a expectativa era de que em algum momento minguasse, o público cansasse e se voltasse para as antigas opções (sejam elas quais fossem). Ainda não foi dessa vez. Ao contrário, cada vez mais empresas consagradas se lançam nesse mercado. Salvo engano, a mais recente, o SBT+ com anúncios oficiais até no maior evento geek, a CCXP.
Definitivamente não é impossível viver sem, mas com certeza é difícil resistir ao apelo de suas facilidades. É fácil ouvir a música que você quer, quando quer e o algoritmo ainda te oferece em uma bandeja algo que você gosta ou pode gostar. Quem se importa se dá preferência a artistas homens? É música, é relativamente barato e ainda tem os charts – ninguém resiste a uma competição.
Já assistir nem sempre é tão fácil assim. É verdade que a disponibilidade continua sendo gigantesca (e cada vez maior, com produções voltadas especialmente para essa mídia) com filmes, séries e novelas, mas em alguns momentos somos obrigados a dar razão aos críticos. Por exemplo, devido a impasses nas negociações de seus direitos, no dia em que Doctor Who, completou 50 anos não era possível encontrá-la em nenhum serviço de streaming.
Apesar desta questão absurda em torno de uma série clássica, a realidade consegue ser bem pior e é aí que consiste a maior vantagem do streaming: o ingresso de cinema sozinho não é barato. A soma de todas as etapas da ida ao cinema não é barata, mas pode ser reduzida… coisa semelhante é impossível em uma cidade que não tem cinema e toda sessão demanda uma viagem a mais: a imersão proposta pelo filme e a viagem prévia até o cinema. Ou seja, aceitemos bem ou não, o streaming representa o acesso (quase) livre ao conhecimento, à cultura tanto quanto a pirataria e ambos fazem o papel que deveria ser desempenhado pelo Estado na garantia desse nosso direito. Neste estado das coisas, mesmo que reconheçamos a beleza da experiência de ir ao cinema, é com alegria que vemos despontar alternativas gratuitas (e menos problemáticas), uma delas, a Ubuplay.
UBUPLAY – A PLATAFORMA DE STREAMING DOS CINEMAS NEGROS
A Ubuplay não completou ainda um mês de vida, mas tem tudo para crescer e se tornar uma referência, abrindo os caminhos para outras propostas. São mais de 100 produções, 7 países, diferentes gêneros tendo em comum o compromisso com a representação e difusão das obras feitas por pessoas afrodiaspóricas. A Ubuplay recebe fomento da Prefeitura do Rio e é resultado da tese de doutorado de Márcio Brito Neto (UFF).