Que atire a primeira pedra o vereador que chega à Câmara de sua cidade e não se enxerga, lá na frente, recebendo a faixa presidencial. Entretanto, o caminho é longo até para quem tem os padrinhos políticos, e haja sapo para engolir. No mínimo, a pessoa vai ter que votar com o seu grupo, muitas vezes contra a sua própria vontade. Mas é como na vida: quem só faz o que quer, acaba sozinho.
Então, se der muita sorte para desviar das polêmicas e sair ileso, ou com o mínimo de prejuízo possível, ainda vai precisar de uma ajudinha do destino para conseguir surfar no que a população desejar, quando a grande chance surgir. E se essa sorte vier na hora errada, mesmo alguém como Ulisses Guimarães, o principal nome da oposição durante a ditadura, logo após liderar a aprovação da Constituição de 1988, acaba com apenas 4% dos votos nas eleições presidenciais.
Para outros, contra todas as possibilidades, até dá certo, mas como no caso de Tancredo Neves, aí vem um problema de saúde e o impede de assumir. Enfim, é um sonho impossível para milhões, embora seja sonhado por alguns milhares e que se realize para meia dúzia.
Final feliz?
Os sonhos de glória são menos doces na realidade. A partir do dia 2 de janeiro, com o presidente empossado, qualquer decisão passa a afetar a vida de milhões. Se já é difícil para os mais sensatos, pior ainda para quem “facilita para o azar”. Exemplo disso foi Fernando Collor, que alcançou o que Ulisses desejava, mas colocou “os pés pelas mãos”. No final, mesmo para os tentam fazer tudo certo, é mais ou menos como Dilma Rousseff disse: “nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder, vai todo mundo perder”.
Enfim, é um emprego que, atualmente, paga um salário bruto de R$ 30.934,70, sendo o líquido espantosos R$ 23.453,43! E isso ao preço de, a cada assinatura, em qualquer documento, sua vida pode virar de cabeça para baixo.
Obviamente, é um cargo que coloca a pessoa na história, pelas responsabilidades que assume, mas nada garante que isso seja bom. De uma hora para outra, aquele ex-vereador se vê negociando o futuro de milhões com o presidente, por exemplo, dos Estados Unidos. Aí, o jogo é muito maior, envolvendo a economia mundial e até guerras. Foi em uma dessas que Salvador Allende perdeu o poder e a vida, em um 11 de setembro, há exatos 50 anos. Na foto (acima) em que o presidente aparece à frente do general, e futuro ditador, Augusto Pinochet, mundialmente conhecida como “A Alta Traição”, sintetiza muito do sonho e da realidade por trás da pompa.
É como naquela música gravada por Maria Bethânia: “É minha lei, é minha questão, virar esse mundo, cravar esse chão. Não me importa saber se é terrível demais, quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz?”. Basta analisar as dificuldades da subida ao poder e a luta para uma vez lá, sobreviver, para se chegar à conclusão de que, seja quem for, o presidente é sempre alguém que acredita no impossível.