Três jantares e um almoço ocorridos esta semana em Brasília serviram para que o PT expusesse seus termômetros e barômetros a fim de medir a temperatura e a pressão do Governo nesse março de 2024 que se converte numa encruzilhada para o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A temporada de convescotes se iniciou na 2ª feira, quando o presidente da República convocou os ministros Rui Costa, Wellington Dias e Camilo Santana, além do senador Jaques Wagner, para jantarem no Palácio da Alvorada. Todos haviam sido governadores de seus estados e tinham experiência no Poder Executivo. Falaram de economia, de conjuntura internacional, de eleições municipais e da comunicação pública.
Na 3ª feira, a pretexto de se reunirem em torno do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, alguns ex-deputados federais como João Paulo Cunha e José Dirceu reuniram-se para jantar com uma seleta de parlamentares com mandato e outros petistas que ocupam ou ocuparam posições de relevo na sigla. Lula foi informado do encontro e também do extrato das conversas.
Na 4ª feira, uma superlotada e merecida festa de aniversário celebrou os 78 anos de José Dirceu numa casa do Lago Sul. Mais de 500 pessoas passaram por lá, rolaram muitas conversas sociais e superficiais, alguns poucos papos sérios, mas, o que não se viu e quem não estava lá foi tão relevante quanto a dimensão do convescote. Não foi um evento para lobistas ou recém-iniciados na antropologia do poder em Brasília.
Lá, saudou-se a trajetória de vida do homenageado e se promoveu uma auditoria especulativa de receptividade à possibilidade do retorno de José Dirceu à disputa política. Vencidas até o fim desse ano todas as batalhas jurídicas que teve de enfrentar no curso do rol de vinganças e justiçamentos pelos quais vem passando desde 2005, o ex-deputado e ex-presidente do PT, um dos melhores quadros políticos em atividade no País, estará apto a disputar novo mandato no Congresso em 2026. O largo diapasão ideológico dos convivas que foram até a casa do advogado Marcos Meira, que emprestou a residência para a festa, demonstrou a solidez da biografia “do Zé” (como é chamado por quase todos). O presidente da República também recebeu relatos pormenorizados – e registrou e gostou – da dimensão do jantar de aniversário de Dirceu.
Por fim, na 5ª feira o ex-deputado João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados no 1º mandato de Lula e que hoje mantém uma disputada banca de advocacia em Brasília, patrocinou um almoço em homenagem ao também ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. LEG, como o Greenhalgh é carinhosamente chamado no círculo de relações mais antigas do presidente da República, para quem ele advoga desde os tempos de sindicalista, venceu um câncer (diagnóstico plenamente positivo de um PET Scan realizado no último 7 de fevereiro) e anunciou às dezenas de políticos, advogados, assessores presidenciais e governamentais, dirigentes e ex-dirigentes partidários e a lideranças de movimentos sociais como o MST que estiveram lá: “estou de volta”.
Em seu discurso, Luiz Eduardo Greenhalgh ressaltou que “o estou de volta” não significa – ainda – necessariamente, uma volta à política. Contudo, é, sim, uma volta à trincheira política como um dos principais escrutinadores da conjuntura e formadores de opinião do PT e de Lula. Sempre foi assim. “A luta não acabou. Vencemos as injustiças, porém os adversários estão em campo”, disse em meio às muitas conversas. Mais uma vez, o presidente foi pormenorizadamente informado da homenagem a LEG, e de quanto andavam a temperatura e a pressão do evento no meio de um dia abafado e nublado de fim de verão brasiliense.
Os três jantares e o almoço que reuniram a fina flor da intelligentsia petista e da esquerda na capital da República, esta semana, preparam o panorama político cuja análise mais aguda Lula fará no fim de semana com interlocutores restritos. E tudo desaguará na reunião ministerial extraordinária que convocou para a próxima 2ª feira. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cancelou até uma viagem oficial que faria à Alemanha a fim de estar presente e atento ao que o chefe dirá (e como lerá o Governo dele até aqui) na reunião de toda a equipe de ministros. Certo de que os adversários estão à espreita em crescem nos erros e na desunião da administração – e eles existem – o presidente ajustará metas desse seu terceiro mandato porque o panorama eleitoral municipal o preocupa. Ele sabe que a eleição dos 5.568 prefeitos é a preparação da eleição dos 513 deputados de 2026 e da renovação de dois terços do Senado que se dará no próximo pleito nacional.
Lula quer ver José Dirceu, João Paulo, José Genoíno, LEG e outros tantos nomes históricos do PT de volta ao Congresso – junto com personalidades políticas tão densas como esses petistas e integrantes de outros partidos de sua base, da esquerda ao centro – para vencer de vez a extrema-direita e, se possível, salgar a terra arrasada em que se criaram nos últimos anos. A partir dos três jantares e do almoço prospectivos da próxima reunião de seu Ministério, o presidente da República tomou o pulso do grupo que já lhe foi mais próximo: a temperatura das críticas está elevada e a pressão por mudanças e por entregas passou um pouco do razoável. Por isso, Lula os quer mais próximos e abriu portas e janelas palacianas para interlocuções mais agudas.
Artigo originalmente publicado em Jornalistas Pela Democracia