Turismo israelense, roteiro para financiar e encobrir o genocídio

Diário Carioca
Ato em solidariedade ao povo palestino pede do governo brasileiro que rompa relações com Israel, na Avenida Paulista, São Paulo, em 12 de novembro de 2023 [Rovena Rosa/Agência Brasil]

Anunciada como o principal evento mundial da indústria de viagens e turismo da América Latina, a World Travel Market (WTM) Latin America acontece entre os dias 15 e 17 de abril, no Expo Center Norte, em São Paulo. Entre os expositores, o Ministério do Turismo de Israel e suas agências que buscam romper o isolamento internacional e a crise econômica resultante de seis meses de genocídio em Gaza.

O Brasil precisa urgentemente parar de dar palco a que o Estado sionista siga a fazer negócios que financiam seus crimes contra a humanidade, ao tempo que atuam para limpar sua imagem e encobrir a carnificina que já matou mais de 33 mil palestinos, entre os quais 70% mulheres e crianças.

Em um evento similar em Washington, Estados Unidos, há um mês, manifestantes irromperam repudiando a presença sionista: “Turismo israelense, nós dizemos não.” Movimentos de solidariedade em São Paulo e no Brasil levantam a mesma palavra de ordem e convocam a que não se façam quaisquer negócios com o apartheid e genocídio. Boicote a Israel!

Na abertura do evento, estará a ministra interina de Turismo do Brasil, Ana Carla Lopes. Que o clamor das ruas pelo fim da normalização e cumplicidade com o genocídio do povo palestino seja ouvido. O evento latino-americano vai na contramão dessa demanda e tendência.

Conforme reportagem publicada pelo Middle East Monitor em março último, o declínio no número de turistas experimentado pelo Estado sionista é de 81,5%. O levantamento foi feito pela agência Anadolu, com base em números divulgados pelo Gabinete Central de Estatísticas de Israel.

O impacto econômico é importante. Conforme a mesma matéria, o turismo “representa cerca de 3% da economia de Israel e emprega diretamente cerca de 200 mil israelenses, segundo o Ministério do Turismo”.

Ainda segundo a notícia, Yossi Fattal, diretor da Câmara de Organizadores do Turismo Receptivo do Estado sionista, disse ao jornal Maariv que “250 companhias aéreas operavam em Israel antes da eclosão do conflito em Gaza, mas agora apenas 45 empresas operam, resultando num isolamento comparável ao da Coreia do Norte. Isso tornou Israel um dos países mais isolados do mundo, com apenas 20% dos voos operados por outras companhias aéreas que não a El Al de Israel.”

Para tentar retomar a economia do turismo, Israel se apresenta com uma série de representações utilizadas para a colonização, o apartheid, a limpeza étnica e o genocídio na contínua Nakba – catástrofe palestina cuja pedra fundamental é a formação do Estado sionista em 15 de maio de 1948.

Seu anúncio no evento fala em “história milenar, paisagens impressionantes e uma cultura vibrante”. Essa é a descrição da Palestina histórica, não da colonização sionista, que não apenas não tem raízes milenares naquelas terras, como chegou a mudar a paisagem nativa nesse processo, destruindo a vegetação e milhares de oliveiras, através do Fundo Nacional Judaico (FNJ).

Nas hashtags, incluem-se “viagens para LGBT”, ou seja, pinkwashing – a falsa propaganda sionista de que Israel colonial seria o paraíso LGBT ante os árabes bárbaros, também para encobrir seus crimes contra a humanidade. Também “turismo religioso”, retomando as representações bíblicas fundantes ao projeto colonial, sem nenhuma base histórica.

No mesmo anúncio, o Ministério do Turismo de Israel destaca o “objetivo de aumentar o turismo nacional e receptivo”, ao que “concentramos nossos esforços em mercados-alvo e setores-chave”. E completa: “Presentes em 13 países, incluindo o Brasil desde 2006, o Ministério visa estabelecer conexões sólidas e promover Israel como um destino imperdível, inspirando a curiosidade e a descoberta.”

A América Latina não pode aceitar ser a tábua de salvação do roteiro para a morte de milhares de palestinos. Enquanto convida viajantes, Israel segue a expulsar violentamente os palestinos de suas terras e derramar seu sangue, como se vê neste momento em Gaza e também na limpeza étnica avançada na Cisjordânia.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, já reafirmou sucessivas vezes seu reconhecimento do genocídio em Gaza, e seu governo inclusive está entre os países que apoiam a ação da África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, contra Israel por esse reiterado crime contra a humanidade. Por suas declarações, Lula foi designado “persona non grata” pelo Estado sionista – que, enquanto isso, oferece viagens inclusive a brasileiros, uma verdadeira afronta.

Passou da hora de o Brasil anunciar que “persona non grata” é Israel e não mais sediar a realização de negócios que sustentam o derramamento de sangue palestino. “Turismo israelense, nós dizemos não.”

Publicado originalmente no MEMO

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