Apesar do apelo popular, a comédia não goza de muito crédito entre críticos, sempre dispostos a abraçar filmes com enredos mais dramáticos e considerados mais complexos. Lançado em 1985, Esperando o rabecão (no original, Esperando la carroza), porém, vai na contramão disso. Em 2000, foi eleito um dos 100 melhores filmes argentinos de todos os tempos em pesquisa realizada pelo Museo del Cine Pablo Ducrós Hicken. Em 2022, apareceu em outras duas pesquisas realizadas pelas revistas La vida útil, Taipei e La tierra quema e pela revista Fotogramas como um dos 100 e um dos 20 melhores filmes argentinos de todos os tempos, respectivamente.
O filme é oriundo do período imediatamente posterior ao término da ditadura argentina, quando teve fim a censura e, além do governo poder ser escrutinado em filmes com forte contexto político por exemplo, A história oficial, 1985), também tiveram impulso os filmes dos mais diversos gêneros, como o grotesco criollo. Em linhas gerais, o grotesco criollo pode ser entendido como um subgênero narrativo popular na Argentina e no Uruguai que trabalha questões sociais e psicológicas de maneira crua, recorrendo à linguagem vulgar e levando personagens a situações patéticas.
Adaptação da peça de teatro uruguaia homônima, escrita por Jacobo Langsner, o filme conta a aventura de Mama Cora (Antonio Gasalla) e três de seus quatro filhos para, em um primeiro momento, cuidar da matriarca quase senil e, posteriormente, fazer os preparativos para aquele que deve ser o seu velório e enterro. Porém, qualquer boa reunião familiar sempre significa muita confusão e, no caso da família de Mama Cora, não poderia ser diferente. Conflitos envolvendo a responsabilidade pelo cuidado com a idosa, relações amorosas e seus segredos e dinheiro alimentam a história.
Interessante destacar a atualidade e internacionalidade de alguns temas abordados comicamente. Além do trato com a pessoa idosa, seus cuidados e dificuldades, há também o sobrecarregamento da mulher. Susana, vivida por Mónica Villa (Relatos Selvagens, 2014), precisa realizar os afazeres domésticos, cuidar da filha recém-nascida e lidar com a sogra, idosa, sem a tão necessária colaboração do marido, Jorge (Julio de Grazia). Sua sobrecarga, aliás, é justamente o start para o início da história: é a partir do momento que ela “explode”, Mama Cora foge e tem início a história.
Mais de 20 anos depois, em 2009, lançaram a sequência, Esperando la carroza 2: acabió la fiesta. Sem Mama Cora, os protagonistas são unicamente os filhos e o enredo continua sendo uma reunião, porém, desta vez, uma festa. Diferente do filme de 1985, que se tornou um clássico cult, o novo filme não tem uma boa avaliação pela crítica.
Prestes a sair do catálogo da HBO Max, Esperando o rabecão continua na Amazon Prime Video e é uma oportunidade para se divertir e conhecer um pouco mais do cinema argentino para além dos dramas e sucessos que despontaram nas últimas décadas