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sábado, novembro 23, 2024
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Israel está assassinando jornalistas em Gaza

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Israel está assassinando intencionalmente jornalistas em Gaza. Enquanto leva adiante a sua ofensiva genocida no enclave, tendo assassinado até agora pelo menos 13.000 palestinos, Israel está simultaneamente matando trabalhadores dos meios de comunicação para impedir que o mundo veja as atrocidades indescritíveis que comete.

A situação atual é terrível e sem precedentes. Desde o dia 7 de outubro, os militares israelenses assassinaram 60 trabalhadores de meios de comunicação, de acordo com o Gabinete de Comunicação Social do Governo de Gaza. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas declarou que este é o mês mais letal em termos de ataques a jornalistas desde que começou a manter registros, em 1992. Além disso, diversos jornalistas palestinos fora de Gaza são intimidados e perseguidos pelas forças israelenses.

“Nunca passamos por uma experiência como esta e estamos muito abalados”, admitiu Nasser Abu Bakr, diretor do Sindicato dos Jornalistas Palestinos, um sindicato com sede em Ramallah que representa os trabalhadores dos meios de comunicação palestinos. “Estamos perdendo colegas e amigos todos os dias devido ao genocídio israelense contra o povo palestino e à política de assassinatos direcionados contra jornalistas”.

“Não conseguimos acompanhar o número de ataques contra os nossos jornalistas”, continuou Abu Bakr. “Estamos recebendo mais ligações e informações sobre (…) incidentes do que podemos processar. Os nossos jornalistas sempre foram um alvo para os militares israelenses, mas Israel passou de matar [uma média de] um jornalista palestino por ano antes de 7 de outubro para matar [mais de] um por dia”.

E não são apenas os jornalistas palestinos que as Forças de Defesa de Israel (IDF) estão atacando – qualquer jornalista que possa potencialmente disseminar informações críticas a Israel é um alvo em potencial.

Em meio à longa lista de jornalistas mortos, encontra-se o fotojornalista da Reuters Issam Abdallah, que foi morto por um ataque israelense em 13 de outubro na fronteira libanesa, quando cobria confrontos entre o Hezbollah e as IDF. De acordo com uma investigação independente realizada pelo grupo Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Abdallah foi um alvo explícito das forças israelenses – ele estava claramente identificado como jornalista por meio de seu capacete e colete de imprensa, e estava ao lado de um veículo com a marcação “imprensa” no teto. Um pouco antes do ataque, outros jornalistas na região tinham visto um helicóptero israelense sobrevoando a área, de modo que os militares puderam ver claramente que Abdallah era um não-combatente. De acordo com a análise balística efetuada pela RSF (Repórteres Sem Fronteiras), os mísseis foram lançados do lado da fronteira israelense e “dois ataques no mesmo local, num espaço de tempo tão curto (pouco mais de 30 segundos), a partir da mesma direção, indicam claramente um alvo preciso”.

Nem mesmo as famílias dos jornalistas estão a salvo das retaliações israelenses. Depois de descobrir ao vivo que um ataque aéreo israelense tinha matado a sua mulher, o seu filho, a sua filha e o seu neto, o chefe do escritório da Al Jazeera em Gaza, Wael Al-Dahdouh, correu para o hospital, seguido pelas câmeras de imprensa. Ao encontrar o seu filho, ajoelhou-se sobre o seu corpo sem vida e lamentou: “eles se vingam de nós matando os nossos filhos”.

Em 7 de novembro, Mohammad Abu Hasira, correspondente da agência de notícias palestina Wafa, foi morto por um ataque aéreo israelense, junto com 42 membros de sua família. Poucos dias antes, um ataque israelense matou o repórter da TV palestina Mohammad Abu Hattab e 11 membros da sua família no sul de Gaza, incluindo a sua esposa, o seu filho e o seu irmão.

Israel inventa mentiras para justificar os crimes de guerra

Tal como alegou que o Hamas se escondia nos hospitais de Gaza, perto de escolas e em comboios de ambulâncias para justificar os seus bombardeios e a morte de civis, Israel tem apresentado as mesmas desculpas previsíveis para estes assassinatos de jornalistas. Num artigo perturbador, em 2 de novembro, que na prática é uma lista de alvos a serem abatidos, o Jerusalem Post destacou vários jornalistas palestinos independentes que estavam produzindo reportagens a partir de Gaza e acusou-os de fazerem parte da “equipe de propaganda do Hamas”.

Depois, o grupo de vigilância pró-israelense HonestReporting publicou um relatório em 8 de novembro, afirmando – com poucas evidências – que os fotógrafos freelancers da Associated Press, CNN, The New York Times e Reuters em Gaza sabiam com antecedência da contraofensiva da Resistência Palestina realizada em 7 de outubro e até colaboraram com o Hamas para estarem no local e poderem fotografar durante a operação.

Os responsáveis israelenses rapidamente se aproveitaram dessa história para justificar a sua campanha de assassinatos contra os repórteres palestinos.

Em resposta ao relatório, o antigo ministro da Defesa e atual membro do gabinete de guerra de Israel, Benny Gantz, afirmou: “os jornalistas que tiveram conhecimento do massacre e que, mesmo assim, optaram por assistir passivamente ao massacre de crianças, não são diferentes dos terroristas e devem ser tratados como tal”.

Danny Danon, representante de Israel nas Nações Unidas, chegou a declarar que estes repórteres seriam colocados numa lista de alvos a serem abatidos, declarando em seu perfil na rede social X (antigo Twitter): “A agência de segurança interna de Israel anunciou que vai eliminar todos os participantes no massacre de 7 de outubro. Os ‘fotojornalistas’ que participaram no registrando o ataque serão adicionados a essa lista”.

Gil Hoffman, diretor executivo do HonestReporting, admitiu mais tarde que não tinha provas para fundamentar as afirmações feitas, mas que estava apenas “fazendo perguntas”. Segundo Hoffman, ele e o HonestReporting “não pretendem ser uma organização de notícias”.

As acusações de que os repórteres palestinos estão integrados e atuam em coordenação com o Hamas estabelecem a baseda propaganda para descrever os jornalistas como alvos militares legítimos.

Israel restringe a informação que vem de Gaza

Não só as IDF estão matando jornalistas palestinos, como o governo israelense está negando de forma contumaz o acesso da imprensa estrangeira a Gaza. Os únicos repórteres autorizados a entrar na faixa de Gaza são os que estão integrados nas IDF, e meios de comunicação como a NBC e a CNN confirmaram que, em troca de acesso, têm de submeter todo o material ao exército israelense antes da transmissão para análise e aprovação.

Além disso, o Sindicato dos Jornalistas Palestinos informou que cerca de 50 meios de comunicação social em Gaza foram parcial ou totalmente destruídos por ataques aéreos israelenses desde 7 de outubro. Se Israel não está bombardeando os meios de comunicação, está tentando reprimir energicamente o fluxo de informação que sai de Gaza. No final de outubro, o governo israelense aprovou um regulamento que lhe permitiria fechar qualquer canal de notícias estrangeiro se acreditasse que o canal representava uma ameaça à sua segurança nacional. Este regulamento foi então utilizado para bloquear a programação e o site do canal libanês Al Mayadeen, devido aos seus “esforços em tempo de guerra para prejudicar os interesses de segurança [de Israel] e para servir aos objetivos do inimigo”, de acordo com uma declaração divulgada pelo gabinete de segurança israelense.

Na ausência de imprensa estrangeira que testemunhe as atrocidades cometidas por Israel em Gaza, os civis palestinos começaram a documentar os horrores e a compartilhá-los nas redes sociais, como o X e o TikTok, para que o mundo exterior os veja.

O governo israelense respondeu cortando sistematicamente a internet e os sistemas de comunicação em Gaza, restringindo ainda mais o fluxo de informações.

História de Israel contra os jornalistas

Mesmo antes do início da atual guerra em Gaza, em 7 de outubro, Israel tinha um longo histórico de ataques a repórteres e redes de notícias. Durante a sua incursão militar em 2021 em Gaza, o Estado de Israel foi acusado de “silenciar” jornalistas defensores da liberdade de imprensa, depois de ter bombardeado os escritórios da Al Jazeera e da Associated Press. Isto ocorreu poucos dias depois de ter bombardeado outro edifício que abrigava uma série de meios de comunicação, incluindo a Al Araby TV, a Al Kofiya TV e a Watania News Agency, entre outros.

De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, Israel matou 55 jornalistas entre 2000 e 2022, quer por disparos de munição ou através de bombardeios. Este número inclui Shireen Abu Akleh, a amada jornalista palestino-americana e correspondente de longa data da Al Jazeera, que foi baleada pelas forças israelenses enquanto fazia uma reportagem sobre os ataques das IDF em Jenin, bem como Yaser Murtaja, um operador de câmera da rede de notícias palestina Ain Media, que foi baleado e morto pelas IDF enquanto cobria a Grande Marcha do Retorno de 2018.

Como tantos outros jornalistas palestinos que Israel assassinou em serviço, Abu Akleh e Murtaja estavam ambos usando seus coletes de imprensa no momento de seus assassinatos. Imediatamente após a sua morte, Israel, previsivelmente – sem provas – apressou-se a acusar Murtaja de ser um combatente do Hamas, a fim de encobrir o seu rastro.

No dia seguinte à morte de Murtaja, o então ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, declarou sem rodeios: “Na marcha do terror, não havia civis inocentes. Eram todos do Hamas”.

Israel está perdendo a guerra de informação

Israel depende do seu avançado armamento militar e dos milhares de milhões de dólares de financiamento dos EUA para levar adiante a sua violência genocida contra o povo palestino em Gaza, Jerusalém e na Cisjordânia. As suas campanhas de Hasbará e “Brand Israel” (Relações Públicas) trabalham 24 horas por dia para justificar os seus crimes de guerra através de mentiras e desinformação.

No entanto, Israel sofreu perdas significativas na guerra da informação, uma vez que os relatos e as imagens das atrocidades em Gaza chegaram a milhões de pessoas em todo o mundo, muitas das quais se juntaram às mobilizações de massa em apoio à causa palestina. No cenário internacional, Israel está ainda mais isolado politicamente, com cada vez mais países cortando relações ou retirando as suas equipes diplomáticas.

Esta batalha de ideias não pode ser vencida pela força pura e simples e pela superioridade militar apoiada pelos EUA. Israel não pode impedir que a informação sobre as suas atrocidades se espalhe, especialmente numa era de redes sociais, em que os palestinos comuns são encorajados a agir como jornalistas cidadãos, documentando o que estão vivendo em Gaza para o mundo ver. Enquanto Israel intensifica a sua campanha de assassinatos contra os profissionais da comunicação social, o apoio à Resistência Palestina continua crescendo.

Por mais sombria que a situação atual possa parecer, ela mostra a realidade que se vive: os povos do mundo estão despertando para as atrocidades cometidas pelo Estado sionista e se recusam a permitir que elas continuem.

E isso revela outra realidade: Israel está vivendo tentando ganhar tempo, e esse tempo está se esgotando.

Biografia do autora: Este artigo foi produzido pela Globetrotter e traduzido por Raul Chiliani para a Revista Opera. Amanda Yee é jornalista e uma organizadora que vive em Brooklyn, em Nova Iorque, nos EUA. É editora-chefe do Liberation News, e os seus textos foram publicados na Monthly Review Online, The Real News Network, CounterPunch e Peoples Dispatch. Siga-a no X @catcontentonly.

Fonte: Globetrotter