A 12° edição da tradicional Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia vai acontecer este ano de forma virtual, com o tema “Sem cuidado não há vida”.
Neste dia 8 de março, a live começa às 16h e pode ser vista pelos canais do Youtube e do Facebook do Polo da Borborema e da Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA), e também pode ser acompanhada no Instagram da Marcha.
“Mesmo nesta pandemia, nós temos a clareza de que não podemos nos calar, e é preciso nos reinventar no cenário desafiador que estamos vivendo”, explica Roselita Vitor, da coordenação do Polo Sindical da Borborema. Por isso, este ano, ao invés de caminhada, várias mulheres vão falar, dar seus depoimentos e tudo vai ser transmitido pelas redes sociais.
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Mesmo sendo uma marcha virtual, as organizadoras do Polo da Borborema e da AS-PTA acreditam que “será um momento de muita energia, de vibração, de sentir o calor das companheiras que estão lá nas comunidades rurais, com suas vizinhas, com seus filhos e filhas acompanhando nosso debate e discurso de que é preciso resistir, é preciso ecoar nossa voz”, afirma Roselita.
Depois da live, vão ser realizados debates e conversas sobre o tema da Marcha. O planejamento do Polo e da AS-PTA é que haja reuniões comunitárias envolvendo, ao todo, cerca de 600 mulheres.
Mobilização nas redes sociais
Para dar início ao clima da Marcha, foram organizados dois espaços nas redes sociais. Desde o dia 10 de fevereiro, estão sendo publicados nos perfis do Polo, da AS-PTA e da Marcha (Veja Aqui) 30 vídeos com agricultoras falando do impacto da pandemia na vida delas.
O canal no Instagram da Marcha foi lançado na semana passada e já tem vários depoimentos de agricultoras, jovens e lideranças sobre a importância da Marcha na vida delas, como estes:
“Acho que todo mundo foi pego de surpresa. Um momento muito novo, difícil para todos nós, principalmente para nós mulheres. A gente está conseguindo se habituar nesse momento, mas ainda está muito difícil. Muitas companheiras nossas entraram em depressão, e a gente só não entra em depressão se a gente estiver juntas. Mesmo longe uma da outra, a gente está sempre em contato, sempre segurando uma a mão da outra, nos fortalecendo nesse momento pra gente não cair, porque essa pandemia é difícil pra nós mulheres”, conta Anilda, agricultora de Remígio (PB), no instagram da Marcha.
Instagram da Marcha pela vida das Mulheres e pela agroecologia / @marchapelavidadasmulheres / Reprodução
“Se não fosse a Marcha, eu não me chamaria mais Ligória! Porque a Marcha tem uma história muito forte na minha vida e na da minha família também. Eu aprendi a lidar com a violência, aprendi a me defender e também a ter minha autonomia, que eu não tinha. Essa Marcha veio me dar bastante sabedoria”, escreveu Ligória, agricultora de Esperança (PB), também no instagram.
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Ainda no Instagram, Tereza, agricultora de Alagoa Nova (PB), deu seu depoimento sobre o papel da Marcha: “A Marcha das Mulheres mudou a minha vida porque eu tive conhecimento de coisas que eu não tinha antes. Por exemplo, eu não sabia que o marido, em casa, querer que a gente desse tudo prontinho na mão dele era um tipo de exploração, e agora eu sei que é. Até ele mesmo já mudou o comportamento em casa. Então pra mim, a Marcha foi um grande desenvolvimento. Eu gosto de participar, eu me sinto à vontade no dia da Marcha por conta disso”.
No início da pandemia, a escuta de mulheres
Em abril de 2020, a AS-PTA e o Polo fizeram uma escuta com as mulheres para saber como elas estavam vivendo aqueles dias iniciais da pandemia. Neste período, ainda não tinha chovido na região e elas estavam sem produzir alimentos. A pesquisa foi enviada por WhatsApp para 30 mulheres, 24 delas responderam.
Em geral, as mulheres falaram sobre o impacto material, principalmente pela redução da renda devido ao fechamento dos espaços de venda de seus produtos. Falaram ainda sobre o rápido empobrecimento das comunidades e até do retorno à fome, já que muitos não tinha qualquer produção.
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“Mas elas trouxeram também muitas questões do campo emocional e afetivo – falaram do medo da doença, pânico em ser contaminadas, a saudade por não poder encontrar suas mães ou filhos naquele começo de pandemia”, conta Adriana Galvão, assessora técnica da AS-PTA, que acompanha de perto a organização da Marcha e o trabalho com as mulheres realizado na região do Polo.
Giselda, do Polo Sindical da Borborema / Reprodução
Na pesquisa, as mulheres relataram também o aumento do trabalho dos cuidados em casa. E, ainda por cima, elas tinham que lidar com toda a insegurança gerada por filhos adolescentes e maridos que negavam a doença e não se isolavam. Além disto tudo, havia a dificuldade de partilhar todos estes desafios, dificuldades e receios com outras pessoas devido ao estado de isolamento, necessário para evitar a contaminação do coronavírus.
“O estado foi ausente no tratamento da pandemia e acabou transferindo para as mulheres todo o ônus desse momento”, reflete Adriana. “Foram as mulheres que cuidaram dos doentes. Foram as mulheres que alimentaram as famílias. Foram as mulheres que se responsabilizaram pela educação dos filhos. As mulheres, se responsabilizaram pela sustentação da vida. E o mais desafiador disso tudo é desnaturalizar que esse trabalho seja única e exclusivamente responsabilidade delas, que isso é um trabalho natural das mulheres”, acrescentou a assessora.
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Por esta razão, para desnaturalizar as situações de exploração da mulher é que as mulheres do Polo da Borborema reinventam seu espaço de denúncia e vão ocupar o domínio virtual para dizer ao mundo como vivem e reafirmar o primordial papel assumido pelas mulheres, nesta pandemia, com relação à alimentação.
“Esta Marcha traz o debate sobre os cuidados e sem os cuidados não há vida. A história das mulheres é marcada pelo cuidado com a vida e é por isso que estamos na luta pela agroecologia, por um alimento puro, livre de agrotóxico, não só para o mundo rural, mas para todas as pessoas”, arremata Roselita Vitor.
Antes da pandemia
Roselita destaca a importância da mobilização e relembra a realização do 8 de março antes da pandemia: “A gente se encontrava, revia as companheiras, escutava seus depoimentos, suas histórias de superação. A gente sempre se encontrava nesta caminhada de seis mil mulheres”.
No ano passado, a 11ª edição aconteceu em Esperança. O evento surgiu em 2010, com dois grandes objetivos: dar visibilidade ao papel das camponesas na agricultura familiar e denunciar todas as formas de violência contra a mulher.
O Polo da Borborema e a AS-PTA organizam a Marcha todos os anos. O Polo é uma articulação de 13 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema, na Paraíba, que há mais de 20 anos atua, com a assessoria da AS-PTA, pelo fortalecimento da agricultura familiar agroecológica no território.
Com assessoria da AS-PTA
Fonte: BdF Paraíba
Edição: Rebeca Cavalcante e Heloisa de Sousa