A jornada dos trabalhadores dos serviços essenciais que não param na quarentena

Diário Carioca

Entre uma encomenda e outra, o entregador Roni Barcelos senta na calçada ao lado da sua moto e lê a bíblia. O morador da comunidade do Cavalão, na zona sul do município de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, atua no serviço de delivery para o Ifood e uma petshop da cidade. 

Enquanto um carro da prefeitura passa informando que a população deve ficar em casa como medida de prevenção ao coronavírus, Barcelos conta que têm três filhos e não pode parar de trabalhar. Segundo ele, a sua rotina no serviço de entregas não foi afetada e a higienização recomendada pelas organizações de saúde é feita quando possível:

Para mim não mudou nada porque eu tenho que estar na rua trabalhando para levar o dinheiro para casa. Aqui no aplicativo está pedindo para fazer entrega sem contato físico. Então, a gente deixa na portaria, finaliza a corrida, pega um pouco álcool gel nos prédios, passa um pouco na mão e volta pra rua.

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O álcool gel não é uma realidade para muitos dos trabalhadores de áreas consideradas essenciais e que não podem permanecer em casa durante a quarentena. O auxiliar de serviços gerais Paulo César da Silva atua com serviço de manutenção predial num condomínio no bairro de Jardim Icaraí, na zona sul de Niterói. Silva explica que o seu orçamento, cerca de um salário mínimo por mês, não permite comprar álcool gel para ele e sua família.

“Não tenho usado o álcool gel. Não tenho condições. Lá em casa são quatro pessoas, se eu for comprar álcool gel para quatro pessoas, com o orçamento que eu ganho, não tem como”, afirma o auxiliar de serviços gerais. O produto vem sofrendo altas abusivas desde que o novo coronavírus chegou ao país no início de março.

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Mobilidade reduzida

Silva mora no município de São Gonçalo, município vizinho de Niterói na região metropolitana do Rio, e o deslocamento para o trabalho tornou-se uma dificuldade durante o período de pandemia. As medidas de restrição à circulação adotadas pelas prefeituras e governo do estado para conter o avanço do coronavírus impactaram diretamente no funcionamento do transporte público:

Eu tenho que pegar dois ônibus, um indo e outro voltando. Para não vir em ônibus cheio eu tenho que ir para o ponto um pouco mais tarde. A prioridade é sentar onde a janela está aberta, por isso eu procuro entrar na fila para pegar o lugar correto e sentar na janela.

A dificuldade enfrentada pelo auxiliar de serviços gerais para se deslocar é compartilhada por muitos outros profissionais. Boa parte da força de trabalho do setor terciário do município de Niterói e do Rio vem de São Gonçalo.

Segundo informações do Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac), pelo menos 201 linhas de ônibus municipais e intermunicipais de 19 empresas, que circulam em Niterói, São Gonçalo e Maricá, estão operando com 10% a 15% de suas frotas.

Para driblar a escassez de ônibus, empresas têm optado por fornecer transporte próprio para os funcionários que moram mais longe. É o caso da Drogaria Crystal localizada no bairro de Santa Rosa, em Niterói. De acordo com o gerente da farmácia, Hudson de Oliveira, a empresa está buscando alternativas para garantir a mobilidade dos funcionários:

A quarentena deixou um vácuo na questão da mobilidade. Algumas empresas, inclusive a nossa, estão fazendo o transporte dos funcionários para manter o equilíbrio dos horários de trabalho. Uma das funcionárias daqui, que mora no Colubandê [em São Gonçalo], havia me relatado que ficou 2h30 no ponto de ônibus.

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Restrição

A partir de sábado (4) novas medidas de restrição à circulação serão implementadas em Niterói para conter o avanço do coronavírus. De acordo com a prefeitura, na etapa do planejamento, entre quatro e 18 de abril, será proibida a circulação de táxis de municípios limítrofes e determinada a redução para 30% de ônibus intermunicipais no Terminal Municipal João Goulart. Hoje, o movimento já está reduzido a 45%. Os caminhões e transportes de carga não sofrerão restrições para fazer entregas. 

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Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse


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