Atualmente pouco presente no noticiário nacional, a tragédia de Brumadinho (MG), ocorrida em janeiro de 2019, é uma ferida aberta para os familiares das quase 300 vítimas fatais do rompimento da barragem da empresa..
Ja no município de Mário Campos, Região Metropolitana de Belo Horizonte, Andresa Rodrigues chora até hoje a perda do único filho, de 26 anos, que almoçava no refeitório invadido pela lama.
O crime da Vale em Brumadinho me tornou a pessoa mais miserável desse mundo.
“Uma mãe sem filho, sem perspectiva de ser avó. Me tornou uma pessoa que vive mergulhada na dor e no sofrimento”, desabafa.
Ela enxerga a decisão judicial que determinou – em sentença trabalhista de primeira instância – o pagamento de indenização de R$ 1 milhão por vítima como uma pequena batalha vitoriosa de uma guerra cujo fim passa, entre outras etapas, pela condenação dos culpados.
::Vale é condenada a pagar R$ 1 mi a familiares de funcionários mortos em Brumadinho::
::Somadas, indenizações da Vale a famílias de mortos em Brumadinho são 0,4% do lucro::
“Esse foi um ponto de alento. Um alento emocional, não financeiro. Não é suficiente”, pontua. “Não há reparação sem condenação criminal, sem o encontro dos desaparecidos, com o uniforme verde da Vale pingando sangue pela cidade. Não há recuperação sem a construção de um memorial para as vítimas”.
Como forma de traduzir a dor em ação, Andresa se tornou diretora da Avabrum – Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão -, que luta por medidas que mitiguem o impacto da tragédia.
::Atingidos por barragem da Vale em Brumadinho homenageiam vítimas dois anos depois::
II Romaria Brumadinho, realizada em janeiro deste ano, marcou os dois anos da tragédia. LEIA MAIS AQUI / Créditos da foto: Cadu Passos
“Nós seguimos presos à lama de sangue da Vale desde o dia 25 de janeiro, já que faltam 10 jóias para encontrar”, afirma referindo-se às vítimas ainda não localizadas.
É impossível traduzir o sofrimento em cifras, mas Joelise Feitosa, da Comissão de Atingidos pelo Crime da Vale, também reconhece a importância da condenação na esfera trabalhista.
“Parte da justiça está sendo feita no que diz respeito ao reconhecimento ao acesso financeiro de uma indenização que certamente vai atenuar o sofrimento. Mas nada vai reparar essas perdas, são imensuráveis”, assevera .
“É preciso mesmo que justiça haja de forma exemplar, punitiva e rápida, evitando os constantes acontecimentos que causam danos, tanto às pessoas, como sócio-ambientais, prejudicando a bacia dos rios Doce e do Paraubeba”, conclui.
Andresa Rodrigues, vereadora de Mário Campos, perdeu um filho com o rompimento da barragem em Brumadinho / Arquivo pessoal
Andresa, que perdeu o filho enquanto cumpria mandato de vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em Mário Campos, reafirma que o momento de superação ainda não chegou:
“Infelizmente, a ferida segue aberta. Não temos uma condenação criminal. Não tem como a gente deitar, dormir, tentar retomar a vida, sabendo que quem tem as mãos sujas de sangue estão soltos”.
Histórico
No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem da Mina Córrego do Feijão se rompeu, lançando 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração sobre a área administrativa e o refeitório da empresa, soterrando e matando os funcionários.
::Histórico de violações da Vale vai muito além de Mariana e Brumadinho::
A ação que foi julgada nesta semana com vitória para as famílias foi impetrada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração de Ferro e Metais Básicos de Brumadinho e Região. Conforme a determinação judicial, a indenização deverá ser destinada aos espólios (conjunto de bens de uma pessoa morta, reunido para divisão judicial) e herdeiros das vítimas.
Edição: Vinícius Segalla