Diego Zangado e Fernando Baggio lançam o livro “Samba de bateria: a linguagem do samba para bateristas e percussionistas”

Diário Carioca

O livro “Samba de bateria: a linguagem do samba para bateristas e percussionistas”  nasceu da ideia de colocar no papel algumas composições rítmicas nascidas de batidas de caixas de escolas de samba. Das caixas das escolas de samba do Rio e de São Paulo foi um pulo para chegar à importância dos surdos de terceira, tamborins, repeniques, tam-tans.

 Na primeira parte do livro, os autores traçam um panorama das raízes e da evolução do samba e seus principais bateristas brasileiros. Esse panorama serve de contextualização para a segunda parte didático-explicativa do método, em que apresentam uma variedade de ritmos tradicionais do samba, originalmente tocados em diversos instrumentos de percussão (caixa, surdo, tamborim etc.), e suas adaptações para o kit de bateria, com exemplos conhecidos e outros por eles desenvolvidos.

O contexto e a pesquisa histórica não se limitaram a uma forma cronológica de acontecimentos (como “a primeira escola de samba”, etc.), mas buscam ressaltar o significado social e cultural do samba. A abordagem nasce a partir da formação das sociedades africanas e transita pela diáspora negra, escravidão, migrações e questões econômicas e políticas das crises da cana-de-açúcar, do café e do ciclo do ouro. Para cada fato histórico abordado, o livro conta a história de determinadas manifestações culturais e agrupamentos que formaram sociedades negras no Brasil, aprofundando as características regionais da formação do samba e seus antecessores. Dessa forma, a pesquisa revela como essas manifestações ocorreram quase que ao mesmo tempo, em paralelo e, praticamente, sem comunicação em todas as regiões do país onde se havia concentração de negros escravizados, como nas regiões do Recôncavo Baiano, Rio de Janeiro e São Paulo (com ênfase no interior deste estado).

 Os autores procuraram relacionar frequentemente os fatos históricos com o universo dos músicos bateristas, inserindo, por exemplo – e também por uma questão epistemológica – um glossário do samba. Outra lacuna didático-musical que levou os autores a essa proposta inovadora para métodos de instrumentos foi a constatação da ausência da linguagem tradicional do samba dentro das escolas e faculdades de música, onde o samba é geralmente apresentado pelo viés da bossa nova e do samba-jazz. Mesmo quando há no repertório algum compositor tradicional, como Cartola, por exemplo, o universo desse compositor não é explorado, e sua música acaba ganhando, dentro desses ambientes, uma interpretação bossa novística ou mais jazzística. Esse importante resgate colabora mais um pouco com a preservação desse gênero musical tão nosso, que conta muito da história social do país e também dos próprios autores.

“Samba de bateria: a linguagem do samba para bateristas e percussionistas” é  uma aposta certa da Editora Tipografia Musical, que procura renovar o cenário da pedagogia musical no Brasil com novos métodos de novos autores.

Com precioso prefácio escrito pelo compositor, sambista e pesquisador Nei Lopes, o resultado se apresenta, assim, como um estudo sobre as origens do samba e seus caminhos de adaptação para o kit de bateria (drumset), com base na linguagem particular dos ritmos das escolas e rodas de samba.

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca