Marcos Felipe Fonseca é um jovem de 22 anos morador da cidade de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Todos os dias, Marcos pega um ônibus até a estação do metrô Eldorado, onde pega o trem até a estação Minas Shopping, próxima ao seu local de trabalho.
Desde o dia 21 de março, a rotina de Marcos precisou ser alterada. Na data, os metroviários e metroviárias de BH iniciaram um movimento de greve. Inicialmente, o jovem relata que ficou incomodado, pois a impossibilidade de acessar o metrô fez com que ele gastasse mais tempo de deslocamento até o trabalho.
Porém, ao conhecer alguns motivos da greve, Marcos passou a apoiar o movimento. “Uma amiga me disse que a greve era para melhorar o metrô. Se for para melhorar, eu apoio. Acho que o preço da passagem está muito caro. Antigamente era R$1,80 e depois que aumentou o preço não melhorou a qualidade”, declarou ao Brasil de Fato MG.
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Entre março de 2019 e março de 2021, a população da capital mineira viu a tarifa do metrô aumentar de R$ 1,80 para R$ 4,50. Em nota, o Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro/MG), ressalta que aumento da passagem é reflexo das tentativas de venda do metrô.
“O metrô não foi feito para dar lucro, mas na lógica capitalista selvagem, tudo tem que dar lucro e a população trabalhadora que se dane”, afirma o texto.
Nesta quinta-feira (31), às 18 horas, a categoria realiza nova Assembleia Geral para debater os rumos do movimento.
Reivindicações da categoria
Uma das pautas reivindicadas pelos grevistas é o fim do processo de desestatização do metrô. A categoria avalia que, além de impactar diretamente no bolso dos usuários, a venda do metrô vai piorar as condições do serviço e deixar os trabalhadores da empresa ao léu.
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Em novembro de 2021, o governo federal criou a Superintendência de Trens Urbanos de Belo Horizonte (STUBH), que deixou de integrar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e se transformou em um "Veículo de Desestatização MG Investimentos S.A. – VDMG”. A empresa foi criada com objetivo de vender o metrô de BH para a iniciativa privada.
O governo tem a expectativa de que a venda seja realizada em julho deste ano. A quatro meses da data, os metroviários afirmam que já vivenciam as consequências e inseguranças geradas pelo processo.
Risco de perder o emprego
Uma das denúncias feitas pelo movimento é a falta de garantia de estabilidade do emprego dos metroviários. Os grevistas reivindicam que, no mínimo, os trabalhadores sejam realocados em outros estados ou unidades da CBTU.
“A nossa greve é para que o governo abra as negociações para deliberar sobre a questão dos empregados. Temos 12 meses de estabilidade. E depois, o que será feito dos empregados? Todos fizeram concurso público e não entraram por acaso. São funcionários do governo federal”, enfatiza Alda Lúcia Fernandes dos Santos, diretora do Sindimetro.
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Além da falta de garantias por parte do governo, os trabalhadores se preocupam, pois, como alerta o sindicato, em nota, ao serem privatizadas, as empresas tendem a demitir os concursados e admitir trabalhadores com salários mais baixos e menos formação na área de atuação. Ainda, segundo o Sindimetro, atualmente, todos os funcionários da CBTU são concursados.
Perspectivas do movimento
Com adesão de cerca de 95% da categoria à greve, Alda acredita que o momento é de tentar abrir canais de negociação com o governo e ampliar o diálogo com os usuários e o todo da população de Belo Horizonte.
“Sabemos o quanto é difícil para os usuários, mas pedimos que eles nos entendam, que estamos lutando pelos nossos empregos. A nossa pauta é que seja feita a negociação com o governo federal. E que possamos chegar a um denominador comum”, enfatiza.
Segundo Alda, a proposta dos grevistas é de que os trabalhadores sejam mantidos na STU-BH como empregados públicos e que a CBTU seja inserida na negociação, “assim como foi feito na STU-Salvador e STU-Fortaleza, onde os empregados tiveram uma estabilidade maior”.
Para sindicalista, melhorias só aconteceram por causa da luta
Diante das narrativas construídas pela mídia comercial sobre as mobilizações dos metroviários, a categoria faz um apelo para que a população conheça o cenário e se envolva.
Ao relembrar a história do metrô de BH, cuja operação começou em 1986, Alda enfatiza que, ainda que não tenha havido participação popular em sua criação, as mobilizações foram decisivas para sua ampliação, para a manutenção do metrô como transporte público e para a garantia da tarifa social.
“A participação nos levou a criação de um grupo chamado de Pro-metrô. Fizemos uma caminhada na margem lindeira da CBTU e nos bairros próximos para apresentar o metrô e seu projeto de expansão. Fizemos audiências públicas no Congresso, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e Câmara Municipal e todas tiveram a participação dos movimentos populares e sindicais”, explica.
Direito à cidade
Para muitos moradores de Belo Horizonte e da Região Metropolitana, o transporte público é essencial para se deslocar ao local de trabalho e para acessar equipamentos de saúde, de cultura e de educação. No entanto, infelizmente, a realidade das grandes cidades é de exclusão das populações que vivem nas periferias.
Marcelo Leão, mestrando em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade, na Universidade Federal de Santa Catarina, enfatiza que o direito ao transporte é fundamental para a construção de cidades mais justas e democráticas. “O direito a cidade é, em resumo, um direito que cabe a todos e a todas de participar de processos de produção e de fruição do espaço urbano. Ninguém pode ser excluído”, explica.
De acordo com o Estatuto da Cidade, instituído pela Lei Federal 10.257/2001, o direito à cidade, como explica Marcelo, está relacionado ao “direito à terra urbana, moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras gerações”.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Larissa Costa
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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca