Psicólogos se voluntariam para ajudar familiares de detentos, que estão sem visitas

Diário Carioca

Durante o estado de calamidade provocado pela pandemia do coronavírus, a solidariedade vem ajudando a mover correntes de apoio em diferentes pontos do país. Em São Paulo (SP), por exemplo, um grupo de psicólogos resolveu se voluntariar para prestar atendimento gratuito a familiares de presos neste contexto de agravamento da crise nacional, que atinge também o sistema penitenciário. A iniciativa é coordenada pela Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, que trabalha com a proteção e a elaboração de estratégias para lidar com vítimas da violência do Estado.

::Bem Viver mostra ação de psicólogos com famílias de presos sem visitas pela pandemia::

Segundo a psicóloga Flavia Maria Scigliano, a ação surgiu a partir da decretação de estado de quarentena nos presídios do estado, o que impôs aos detentos o impedimento de visitas. No último dia 25, por exemplo, o governo chegou a suspender também a entrega de produtos por parte dos familiares. Nessa lista, geralmente entram produtos de higiene, alimentos e outros itens. A psicóloga afirma que a medida tem colocado os familiares em uma situação de maior abalo emocional.  

“Tem impacto nos detentos, mas tem um grande impacto nas famílias desses detentos porque elas fazem com que toda a semana delas gire em torno do que vão fazer pra esse familiar que está lá – da comida que se vai falar, do material de higiene pessoal que se vai levar. Elas ficaram tão impactadas que surgiram uma angústia e um sofrimento muito grandes”, conta.

Ao todo, 40 profissionais estão prestando apoio a 35 famílias de detentos. Por conta das restrições relacionadas ao avanço do coronavírus no país, o atendimento é feito pela internet. A psicóloga explica que o trabalho é focal e dirigido mais especificamente ao tratamento das aflições que cercam os pacientes por conta da quarentena dos presos.

Questionada se o atendimento virtual traz algum desafio a mais, Flavia Scigliano afirma que há uma espécie de adaptação no trabalho, que conta com o suporte dos Conselhos Federal e Regional de Psicologia.

“A gente tem já vários documentos que nos ajudam nisso e eu acho que, se você tem uma proposta de ser on-line, você tem que se encaixar nessa proposta. Não adianta eu ficar pensando no que vou perder por ser só on-line, mas tenho que pensar no que estou ganhando, no que estou proporcionando a essa pessoa que está ali do outro lado, nas coisas boas que eu posso ter. É um outro tipo de atendimento”, afirma.

Segundo Flávia Scigliano, a queixa mais comum entre os pacientes é a ausência de notícias do parente preso. A psicóloga Marisa Fefferman, coordenadora do trabalho, afirma que isso tem produzido “efeitos incalculáveis” na vida das famílias. Ela destaca que o trabalho do grupo junto aos pacientes é uma forma também de fortalecê-los, por meio da escuta, para a luta por direitos.

Fefferman conta que a maioria dos atendidos é composta por mulheres, todas em situação de vulnerabilidade social. “São pessoas que sempre foram submetidas a inúmeras violências, mulheres que são criminalizadas e culpabilizadas por tudo que acontece desde que elas existem. Elas moram na quebrada, são negras, moram em territórios vulnerabilizados. Aí, de repente, casam, precisam trabalhar, os filhos ficam em casa. Então, a vida delas já tem esse peso todo”, destrincha Fefferman, ao mencionar que a quarentena dos familiares que estão na cadeia traz uma aflição a mais para as mulheres. 

Voluntariado

O grupo de psicólogos aceita novos profissionais que queiram se voluntariar para participar da ação. O contato pode ser feito por meio da página da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio no Facebook.

Edição: Vivian Fernandes


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