Houve um tempo, nem tão distante, em que o Brasil era o país dos hatches. Os modelos de dois volumes, particularmente os compactos, dominavam as ruas do país. Até que há 15 anos, em 2003, o lançamento do Ford EcoSport – uma derivação do hatch Fiesta com uma carroceria no estilo jipe – mostrou que o brasileiro podia até comprar os hatches, mas sonhava mesmo é em ter um utilitário esportivo. Ou, pelo menos, um veículo que tivesse aspecto aventureiro. De lá para cá, os SUVs, crossovers e veículos de inspiração aventureira dominaram a pauta de lançamentos do setor automotivo brasileiro e não pararam de ganhar espaço nas ruas nacionais. Todas as marcas, das generalistas às de luxo, têm seus projetos nesse segmento, que cresceu tanto que ganhou múltiplas subdivisões – e quem briga pela liderança nacional de vendas precisa tentar ser competitivo em todas. É o caso da Chevrolet. Não por acaso, os últimos lançamentos da líder no mercado brasileiro foram SUVs: o compacto Tracker e o médio Equinox. Quando foi lançado no Brasil, em setembro do ano passado, o Equinox trouxe a versão mais sofisticada denominada Premier. Em outubro, foi a vez da versão de topo do Tracker, antes intitulada LTZ, “herdar” o nome Premier. De quebra, o SUV compacto produzido no México incorporou como equipamentos de série os controles eletrônicos de estabilidade e tração.
Se a denominação da versão “top” do Tracker ficou diferente, o visual permanece o mesmo do modelo lançado no Brasil no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo em 2016. Aquela reformulação deu ao Tracker a nova assinatura visual da Chevrolet, com um desenho bem mais contemporâneo e esportivo que o da versão anterior. O estilo atual explora bem melhor o aspecto de robustez desejável nos veículos do segmento. A troca de nome da versão LTZ para Premier, no último mês de outubro, mudou apenas a discreta plaquinha com inscrição do nome da configuração, na parte inferior da tampa do porta-malas.
Sob o capô, tudo também fica na mesma. O Tracker Premier mantém o motor 1.4 turbo flex com injeção direta de combustível da antiga versão LTZ e do Tracker “de entrada”, o LT. É o mesmo que equipa as versões hatch e sedã do médio Cruze e rende 153 cavalos de potência máxima e 24,4 kgfm de torque – segundo a GM, 90% dessa força está disponível em 1.500 rpm. O trem de força é complementado por uma transmissão automática de seis velocidades. Para um modelo equipado com um moderno motor 1.4 com turbocompressor, típico representante da moderna tendência de “downsizing” das motorizações, é estrategicamente importante ganhar pontos também no consumo de combustível – atributo cada vez mais explorado pelo marketing dos fabricantes de automóveis. Como já acontecia na configuração LTZ, a Premier vem com start/stop, um sistema inteligente que desliga o motor temporariamente em paradas. A engenharia da Chevrolet afirma que esses desligamentos podem resultar em até 15% de economia de consumo.
Em termos de equipamentos, os destaques do Tracker Premier são os novos controles dinâmicos de estabilidade e tração e a central multimídia MyLink, com tela sensível ao toque e compatibilidade com Android Auto e Apple CarPlay, que também transmite as imagens da câmara de ré. Os opcionais disponíveis para o Tracker de topo são os airbags laterais e de cortina e os alertas de mudança involuntária de faixa e de colisão frontal. Neste último, o motorista escolhe que distância manter em relação ao veículo à frente e, caso haja risco de acidente, sinais luminosos e sonoros são acionados para chamar atenção. O pacote soma R$ 3.200 na fatura do Chevrolet Tracker Premier, que parte de R$ 98.790. Não é um carro barato, mas seu preço é competitivo em relação aos rivais Ford EcoSport 2.0, que começa em R$ 96.990 na variante Titanium, e Hyundai Creta Prestige 2.0, que custa R$ 102.580.
Experiência a bordo
Conforto sem firulas
A primeira impressão de quem entra no Tracker Premier é a óbvia identidade estética com as configurações “top” do hatch Onix ou do sedã Prisma. A lógica interna é similar, com comandos bem posicionados e intuitivos. O sistema OnStar também está presente, devidamente explicitado pelos botões no retrovisor para ligar à central de atendimento. A central multimídia é compatível com Android Auto e Apple CarPlay – o carro não tem GPS, mas é possível parear os aplicativos de navegação de smartphones, como o Waze ou o Tom Tom Go Brasil. Em movimento, a suspensão “mostra serviço”, filtra com eficiência imperfeições os buracos e retransmite poucos sacolejos aos ocupantes. Os barulhos externos são reduzidos pelo isolamento acústico eficiente, mas é possível perceber claramente quando o turbo é acionado – detalhe que adiciona um elemento acústico de esportividade a quem dirige.
O espaço interno é bem decente e quatro ocupantes viajam com conforto. Um terceiro passageiro no banco traseiro é viável, mas pode tornar cansativas as viagens longas, pois quem senta alí passa a ter menos mobilidade. Porém o espaço para os ocupantes da frente e de trás é bom, tanto para cabeças quanto para as pernas. E o teto solar aumenta bastante a sensação de amplitude. Há vários nichos e porta-objetos para guardar tudo que precisa estar à mão durante uma viagem.
O porta-malas, de módicos 306 litros, é um tanto reduzido para a categoria. O acabamento é correto, mas a escolha dos materiais de revestimentos não chega ao nível de sofisticação que poderia se esperar de um carro nessa faixa de preços. Há muitos plásticos duros e são raras as superfícies “soft touch”, macias e agradáveis ao toque. Mas como um certo despojamento faz parte do “jeito de ser” de um SUV, provavelmente muitos dos que se interessarão pelo Tracker Premier nem vão reparar nesse detalhe.
Impressões ao dirigir
Força pacificadora
O Tracker Premier, assim como o básico LT, é impulsionado pelo mesmo motor 1.4 litro turbinado usado no médio Cruze, em suas versões hatch e sedã. Atinge 153 cavalos de potência máxima e entrega 24,5 kgfm de torque máximo já em 2 mil rotações, números que se traduzem em arrancadas bem satisfatórias e retomadas de velocidade bastante ágeis. Segundo a Chevrolet, o “powertrain” garante um zero a 100 km/h em 9,4 segundos e velocidade máxima de 198 km/h. A transmissão automática de seis velocidades se harmoniza bem com o motor e ajuda o motorista a obter o desempenho adequado na hora necessária, sem vacilações. As trocas manuais da transmissão automática são a partir de um botão na alavanca, mas só os motoristas muito obsessivos por controle farão questão de tentar engatar manualmente as marchas de forma mais precisa que a transmissão automática. No modo automático, o carro já oferece disposição de sobra em todas as faixas de giro.
Para quem prefere relaxar e aproveitar, o controle de velocidade de cruzeiro e os opcionais de alerta de colisão frontal e de mudança involuntária de faixa, presentes no modelo testado, ajudam a ampliar a segurança e tornar as viagens mais tranquilas. Quando o motorista adota velocidades “civilizadas”, o Tracker se mostra bastante estável. Mas é um SUV compacto, com a suspensão elevada. Como não há mágica, a carroceria aderna sutilmente nas curvas em alta velocidade, mas nada que comprometa a elegância. O bem-vindo controle eletrônico de estabilidade, item de série na linha 2018, ajuda a aumentar a sensação de segurança para quem se empolga ao pisar no acelerador. Na hora de abastecer, nada de sustos também. O Tracker ganhou nota “A” no selo de eficiência energética do Inmetro em sua categoria, com média na cidade/estrada de 7,3/8,2 km/l com etanol e 10,6/11,7 km/l com gasolina.
Ficha técnica
Chevrolet Tracker Premier
Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,26 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,68 m de altura e 2,55 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais de série e laterais e de cortina opcionais.
Peso: 1.413 kg.
Motor: Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 1.399 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbocompressor, injeção direta e controle eletrônico de aceleração.
Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 153 cv/150 cv a 5.200/5.600 rpm com etanol/gasolina.
Torque máximo: 24,5/24 kgfm a 2 mil/2.100 rpm com etanol/gasolina.
Taxa de compressão: 10,01:1.
Suspensão: Dianteira do tipo independente McPherson, barra estabilizadora, amortecedores telescópicos hidráulicos pressurizados a gás. Traseira com eixo de torção, amortecedores telescópicos hidráulicos pressurizados a gás. Controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 215/55 R18.
Freios: Discos dianteiros ventilados na frente e tambores atrás. Oferece ABS com EBD.
Capacidade do porta-malas: 306 litros.
Tanque de combustível: 53 litros.
Produção: San Luís Potosí, no México.
Itens de série: Alarme antifurto, faróis e lanterna de neblina, freios com ABS e sistema de distribuição de frenagem, rack de teto, ar-condicionado, coluna de direção com regulagem em altura e profundidade, computador de bordo, controlador de velocidade de cruzeiro com comandos no volante, desembaçador elétrico do vidro traseiro, direção elétrica, sistema Stop/Start, trava elétrica com acionamento na chave, sistema de fixação de cadeiras para crianças Isofix, vidros elétricos, banco traseiro bipartido e rebatível, central multimídia com tela LCD sensível ao toque de 7 polegadas e integração com smartphones através do Android Auto e Apple CarPlay, controles de rádio e do celular no volante, sistema OnStar com pacote Exclusive, alerta de movimentação traseira em marcha ré, alerta de ponto cego, luz de condução diurna, luz de posição em leds, lanternas em leds, rodas de alumínio de 18 polegadas, câmara de ré, chave presencial, retrovisores externos elétricos com aquecimento, sensor de estacionamento traseiro, teto solar elétrico e banco do motorista com regulagem lombar elétrica.
Preço: R$ 98.790.
Opcionais (presentes no modelo testado): airbags laterais e de cortina e sensores de colisão frontal e de mudança de faixa.
Preço completo: R$ 101.990.
por Luiz Humberto Monteiro Pereira
Agência AutoMotrix