Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica estão entre as áreas prioritárias do planeta para ações de conservação e restauração de ecossistemas

Diário Carioca

Boa parte das áreas prioritárias para conservação e restauração no mundo estão em território brasileiro. É o que revela a PLANGEA Web, plataforma de acesso gratuito de planejamento integrado de uso da terra desenvolvida pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

Diante de cenários como os recém divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que revelam níveis recordes de desmatamento em biomas como Cerrado e Mata Atlântica, e de tentativas parlamentares de flexibilizar legislações ambientais cujo objetivo é proteger os recursos naturais, ações planejadas nos biomas brasileiros são estratégicas para o alcance das metas globais acordadas por quase 200 países nas conferências mundiais pelo clima e biodiversidade.

É o caso da Mata Atlântica, que perdeu mais de 20 mil hectares da floresta entre outubro de 2021 e outubro de 2022, segundo dados divulgados pela Fundação SOS Mata Atlântica e Inpe. O bioma abriga 72% da população brasileira e garante o abastecimento de água, a provisão de alimentos e a geração de energia para mais de 145 milhões de pessoas, além de abrigar mais de 20 mil espécies, incluindo alguns milhares de animais e plantas únicos na região.

Considerando a meta global de 30% de conservação dos ecossistemas acordada na Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP-15), 113 milhões de hectares do bioma são áreas prioritárias para conservação mundial, além de 83 milhões de hectares prioritários para a restauração.

No Matopiba, região formada pelo estado do Tocantins e partes dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia, 55 dos 73 milhões de hectares que compõem o território – majoritariamente composto pelo bioma Cerrado – têm especial importância para o sequestro de carbono da atmosfera e a conservação da biodiversidade (incluindo métricas de débito de extinção de espécies, impacto na integridade dos ecossistemas e vulnerabilidade das ecorregiões). Enquanto há cerca de 324 mil estabelecimentos agrícolas na região, existem apenas 46 unidades de conservação, 35 terras indígenas e 36 quilombolas, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Na Amazônia, a restauração de apenas 10% da área degradada de forma planejada, a partir de áreas prioritárias, reduziria em 25% o risco de extinção de 544 espécies e poderia gerar uma receita de até R$132 bilhões, com a comercialização de créditos de carbono. O município de Itaituba, no Pará, onde está localizado 90% da área da Terra Indígena Sawré Muybu, é um dos principais territórios para a proteção da natureza, sendo que a totalidade da sua área – cerca de 6,2 milhões de hectares – é identificada entre os 30% mais prioritários para a conservação no mundo. Ressalta-se ainda que mais de dois terços de sua área está entre os 10% mais prioritários do mundo em termos de conservação da biodiversidade e mitigação das mudanças climáticas.

A Caatinga, por sua vez, é a terceira região biogeográfica mais degradada do Brasil, restando 63% de vegetação nativa em 2020, segundo o MapBiomas. A PLANGEA Web aponta que 12,4 milhões de hectares da Caatinga são áreas prioritárias para conservação mundial, considerando também a meta de conservar 30% dos ecossistemas mundiais acordada na COP-15. Para a meta de restauração de 30% dos ecossistemas do mundo, o bioma abriga 35,5 mil hectares com especial importância para a biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas e a minimização de custos.

Esses números demonstram a necessidade de incentivos e ações para garantir a identificação e a proteção de áreas estratégicas para conservação da natureza e mitigação das mudanças climáticas.

Para o diretor-adjunto do IIS, Paulo Branco, “a plataforma amplia a capacidade de pessoas e instituições de avaliar áreas prioritárias para restauração e conservação de ecossistemas em nível nacional e global, permitindo decisões mais acertadas e sustentáveis em longo prazo, aspectos fundamentais para enfrentar os desafios das crises de clima e biodiversidade”.

Como funciona a PLANGEA Web

No mapa interativo da PLANGEA Web, é possível escolher diferentes critérios para visualizar cenários de priorização de áreas para conservação ou restauração de ecossistemas em escala global ou nacional, otimizando os benefícios em conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e minimização dos custos econômicos. Apresentando os resultados individuais dos impactos em diversas métricas socioambientais, a ferramenta tem potencial para apoiar o planejamento estratégico do uso da terra nos biomas brasileiros e no mundo.

Além do mapa geoespacializado com as áreas prioritárias em escala de 10% a 100% para ações de conservação ou restauração, a plataforma permite o download de gráficos, tabelas, imagens e relatórios com resultados da otimização, incluindo o acesso a dados matriciais. Adicionalmente, a PLANGEA Web também tem seções apresentando diferentes aplicações, projetos e publicações utilizando essa abordagem.

Modelagem PLANGEA e aplicações

A PLANGEA Web, plataforma aberta e de acesso gratuito, é fruto de modelagem homônima de código fechado desenvolvida pelo IIS desde 2013 para quantificar benefícios ambientais e econômicos da mudança no uso da terra a partir da otimização multicritério.

A modelagem PLANGEA permite personalizar métricas e cenários para projetos públicos e privados sob encomenda. Uma dessas iniciativas está relacionada à implementação das metas de conservação e restauração para contribuir com os objetivos do Quadro de Biodiversidade Global de Kunming-Montreal, resultado da Conferência de Biodiversidade das Nações Unidas de 2022 (COP-15) e um dos mais importantes instrumentos internacionais relacionados ao meio ambiente. Outro exemplo, no âmbito do projeto GEF Terrestre, é o mapeamento em escala local de áreas prioritárias para recuperação ecológica no Pampa, na Caatinga e no Pantanal, usando critérios de priorização diferentes a depender das características de cada região.

Sobre o IIS

Fundado em 2009 no Rio de Janeiro, o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) é um think-and-do-tank independente voltado para a compreensão da relação entre o ser humano e demais elementos da natureza. O Instituto desenvolve pesquisas, capacitações e ferramentas para promover uso sustentável da terra, em particular a conservação da biodiversidade, provisão de serviços ecossistêmicos, manejo sustentável do solo, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e desenvolvimento socioeconômico das pessoas envolvidas nesses processos.

O IIS tem participado e oferecido subsídios às Convenções das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP CBD) e Mudanças Climáticas (COP UNFCCC), a governos nacionais e subnacionais, assim como a organizações do setor privado, em processos com diferentes atores. Nos últimos 14 anos, foram mais de 25 projetos financiados por organizações como o Global Environmental Facility (GEF); a Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (NORAD); a Fundação Gordon & Betty Moore; o Ministério Federal Alemão do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU); o Global Challenges Research Fund (GCRF) do Reino Unido; o World Wide Fund for Nature (WWF); o Governo do Estado de São Paulo; o Instituto Serrapilheira, entre diversas outras.

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca