A região do Matopiba – fronteira agrícola formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – desmatou 625 mil hectares em 2022. A área representa um aumento de 37% em relação a 2021 e equivale a quatro vezes a cidade de São Paulo, segundo dados divulgados pela rede MapBiomas Alerta nesta quinta-feira.
“Essa região abriga grandes produtores de soja, milho e algodão. O cenário, em conjunto com a expansão de novas áreas para agricultura e pastagem, e a deficiência de ações de fiscalização por parte dos órgãos ambientais, contribui para a concentração do desmatamento”, destaca Roberta Rocha, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Segundo o levantamento, a área desmatada cresceu em todos os estados da região. Na Bahia, estado que lidera o ranking, foram detectados 225 mil hectares desmatados, 48% a mais do que no ano passado. Maranhão e Tocantins registraram 168 mil e 83 mil hectares desmatados, respectivamente. O maior aumento na área devastada, no entanto, foi observado no Piauí, que saltou 115% em relação ao ano anterior, chegando a cerca de 152 mil hectares em 2022.
Os dados foram produzidos por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) no âmbito do MapBiomas Alerta e anunciados em um webinário .
“Analisar os dados de desmatamento no Matopiba é fundamental para o nosso objetivo de desmatamento zero até 2030. O desmatamento na Amazônia continua em uma trajetória de queda expressiva, mas no Cerrado ainda não conseguimos estabilizar essa curva. Nosso maior desafio hoje é onde a frente da agropecuária no Cerrado é mais agressiva”, reforçou André Lima, secretário extraordinário de Controle de Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial no Ministério de Meio Ambiente e Mudanças do Clima.
Também participaram do evento os promotores Luciano Loubet e Francisco Brandes, dos Ministérios Públicos do Mato Grosso e do Tocantins, respectivamente, e representantes das pastas ambientais dos estados da região do Matopiba.
A área total desmatada na fronteira agrícola representa 78% de todo o desmatamento no Cerrado e 30% de toda vegetação nativa derrubada no Brasil em 2022. O principal vetor do desmatamento, em todos os estados, foi a agricultura.
Juntos, os estados do Matopiba englobam áreas dos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Segundo o relatório, 84% do desmatamento ocorreu em áreas de Cerrado, enquanto 12% afetou áreas de Caatinga, 3% da Amazônia e 0,9% da Mata Atlântica. A maior parte da área desmatada nos estados do Matopiba, cerca de 14%, ocorreu em março de 2022.
O MapBiomas Alerta é um sistema de validação e refinamento de alertas de desmatamento coletados por imagens de satélite de alta resolução da rede MapBiomas. No Cerrado, os alertas de desmatamento são sistematizados por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em colaboração com o LAPIG da Universidade de Goiás (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento) e Universidade de Brasília.
Ritmo acelerado
Em 2022, 81% dos 997 municípios dos estados do Matopiba tiveram desmatamento detectado. Além disso, 36% de todo o desmatamento na região ocorreu em apenas 10 municípios concentrados no oeste da Bahia, sul do Maranhão e sudoeste do Piauí.
No Piauí, estado onde o desmatamento mais cresceu, também estão localizados os municípios com maior aumento da área desmatada em relação a 2021. Em Santa Filomena, município com 6 mil habitantes, a área desmatada em 2022 saltou 513% em relação a 2021, atingindo cerca de 16 mil hectares. Em Sebastião Leal, município vizinho de Santa Filomena, o aumento foi de 259%
1ºSão Desidério (BA)36.595113%2ºFormosa do Rio Preto (BA)33.421122%3ºBalsas (MA)28.15773%4ºUruçuí (PI)23.792148%5ºJaborandi (BA)20.92856%6ºSebastião Leal (PI)20.089259%7ºCorrentina (BA)19.087120%8ºSanta Filomena (PI)16.434513%9ºBarreiras (BA)13.623157%10ºBaixa Grande do Ribeiro (PI)11.774181% |
Na Fazenda Estrondo, condomínio de propriedades rurais localizado no município baiano de Formosa do Rio Preto, o MapBiomas Alerta identificou a maior área desmatada do país em 2022, composta por três polígonos com cerca de 23 mil hectares. A vegetação nativa perdida estava inserida na APA (Área de Proteção Ambiental) do Rio Preto e sua supressão contou com a autorização do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) da Bahia.
“A gente entende a dimensão do Cerrado, do Matopiba e das dificuldades que vamos enfrentar no combate ao desmatamento. Entendemos que, de fato, não podemos fechar os olhos para a expansão do agronegócio em toda a região do Matopiba. Estamos levando em frente ações estaduais junto ao Inema, à sociedade civil, aos empresários e ao Governo Federal para ter o controle, em um primeiro momento e de maneira mais urgente, do desmatamento ilegal”, destaca Eduardo Sodré, secretário do Meio Ambiente da Bahia.