Um país – o único – que leva o nome de uma árvore, o Brasil é uma nação de contrastes. Enquanto é um dos maiores produtores de alimentos do planeta, também é um território de solos desgastados por técnicas de plantio ou manejo de gado ultrapassados. Com o objetivo de trazer as questões ambientais brasileiras para o centro do debate em um ano eleitoral como é 2022, a GloboNews exibe nos próximos dois domingos, dias 4 e 11 de setembro, às 21h, a série ‘Patrimônio Brasil – Terra e Água’, sobre estes que são dois dos maiores patrimônios nacionais. “Temos um passivo de solo degradado no Brasil que não é visto e está sendo abandonado. A finitude da água é sempre lembrada quando o fantasma da crise hídrica volta a assombrar. Nossos dois maiores patrimônios, a terra e a água, sofrem do “mito da abundância” e, por isso que vimos urgência em apresentar o problema e as soluções que já estão sendo postas em prática no país. Ainda não é em larga escala, mas são alternativas de baixo custo e possíveis de implementação”, explica André Trigueiro, que conduz a série dividida em dois episódios.
“O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, que entrevistamos para o episódio “Terra” revelou que, atualmente, a quantidade de solo exaurido no país equivale a um estado de Minas Gerais ou a dois estados de São Paulo. Isso é a consequência sombria da pecuária e da monocultura. Mas, existe, sim, uma alternativa, que é simples: o sistema agroflorestal, que reúne agricultura e preservação com plantio de árvores e produção ecológica”, sinaliza o jornalista.
Esta já é uma realidade em Timburi, no interior de São Paulo. No Pretaterra, o maior hub agroflorestal do Brasil, os fundadores Paula Costa, engenheira florestal e bióloga, e Valter Ziantoni, também engenheiro florestal e mestre em agrofloresta, desenvolveram, de forma muito simples, um formato de cultivo que aplica a lógica da floresta. Já na Fazenda Bugre, em Uberlândia (MG), a pecuária sustentável foi colocada em foco, com investimento, por parte do produtor, no bem-estar animal. Ou seja, ao contrário da maioria dos pecuaristas, nessa fazenda, o gado é criado solto no pasto sem confinamento, com a cultura da suplementação da alimentação dos animais. Eles analisam o valor nutricional do pasto para saber quais nutrientes estão faltando e, diante disso, preparam a suplementação. O efeito é sentido na emissão de menos gases de efeito estufa no ambiente. “Um exemplo claro desse bem-estar animal foi que nossa equipe chegou bem perto do gado. Isso é o real significado de como a pecuária pode ter essa pegada sustentável. Os animais se aproximam de você porque não entendem o ser humano como ameaça”, lembra Trigueiro.
Já o “Água”, que vai ao ar no dia 11 de setembro, discute o desperdício e a escassez de água no Brasil. André Trigueiro visita o maior empreendimento da América Latina para a produção de água de reúso – o Aquapolo – que transforma esgoto tratado em água industrial para grandes empresas do ABC. Na capital paulista, ele mostra que pequenos sistemas de reúso de água também podem ser instalados em fábricas de pequeno e médio porte. Na região serrana de São Paulo, ele visita uma fazenda de orgânicos que transforma esterco de vaca em água de reúso, utilizada na irrigação do pasto. A fazenda conta ainda com um projeto de leitura inteligente do solo, que evita o desperdício de água no processo de irrigação. “A água de reúso é acessível para todos e vem se transformando em negócio no Brasil porque esse material pode ser vendido, por exemplo, para complexos industriais, que preferem adquirir uma água desmineralizada à água potável, que é mais cara e não vem na resolução que o mercado precisa”, diz André.
O segundo episódio também mostra uma solução descomplicada criada pela Universidade Federal do Semiárido para aumentar a disponibilidade de água nos quintais produtivos de comunidades do Rio Grande do Norte de um assentamento perto de Mossoró. Um filtro barato limpa a água cinza das casas e leva água tratada para plantações, transformando a vida de quem depende da chuva para plantar e sobreviver aos longos meses de seca.
“Em resumo, o Brasil ostenta a abundância e não cuida do que é finito. Não estamos cuidando dos nossos patrimônios e existe um passivo que não costuma ser contabilizado. Já alcançou níveis muito preocupantes, tanto do solo, quanto da água. O mérito dos programas especiais é mostrar soluções viáveis, com custos acessíveis e que dão resultados”, salienta André Trigueiro. “O Brasil é viável e é referência. Tínhamos tudo para que nenhum desses problemas – nem solo exaurido e árido e nem escassez de água – acontecessem na proporção que acontecem atualmente. Nosso objetivo é mostrar que o que falta é aplicar o que já existe e ter o trabalho conjunto entre o poder público e iniciativa privada. As soluções estão aí”, finaliza o jornalista.
Alinhadas à pauta ESG da Globo, as reportagens especiais da GloboNews começaram a ser exibidas em junho com ‘Pelas Estradas do Brasil – Amazônia’, sob o comando de Fernando Gabeira. Liderado por Miriam Leitão, o segundo programa, ‘Amazônia na encruzilhada’, foi ao ar em julho. Ancorado por André Trigueiro, ‘Patrimônio Brasil – Terra e Água’ fecha o ciclo de séries especiais do canal.