Entre montes brancos e espelhos d’água” no SESC Niterói

Diário Carioca
Trabalhadores do sal foto Wolney Teixeira

No dia 22 de julho, a galeria de arte do Sesc Niterói, no Centro, inaugura a exposição “Entre montes brancos e espelhos d’água”, que reúne fotografias da artista Bea Martins e do renomado fotógrafo Wolney Teixeira (1912-1983).  A mostra estabelece um diálogo íntimo entre passado e presente através das lentes e do tema central: a cidade de Cabo Frio (RJ). A visitação gratuita acontece até 21 de outubro, de terça a sábado, das 10h às 16h.

Enquanto Bea nasceu e cresceu na Cabo Frio dos anos 1990, Wolney iniciou sua carreira fotográfica na mesma região em 1930. Embora décadas separem suas obras, uma conexão profunda é estabelecida por meio do sal, elemento crucial na vida econômica da comunidade cabo-friense.

Wolney Teixeira retratou a próspera cidade de Cabo Frio por mais de 40 anos, capturando seu crescimento e desenvolvimento impulsionados pela indústria de exploração do sal. Em contrapartida, as fotografias de Bea Martins refletem o abandono e a incerteza sobre o futuro. Suas imagens revelam o que sobrou da Companhia Nacional de Álcalis, empresa criada durante o Estado Novo que atraiu trabalhadores para a região entre Cabo Frio e Arraial do Cabo. A Companhia permanece no mesmo lugar como um fantasma, com seus espaços vazios repletos de móveis e documentos espalhados. Bea registra com precisão e simbolismo o presente cercado pela sombra de uma prosperidade passada, que ainda pode ser vislumbrada nas estradas ao testemunhar a extração lenta do sal do mar.

A curadoria da exposição fica a cargo de Julia Baker, pesquisadora e curadora independente que pensou no projeto a partir de investigações sobre Bea Martins e sua relação com sua cidade natal. Para a exposição, ela entrou em contato com o vasto acervo de Wolney Teixeira, que se encontra sob a cuidadosa guarda de seu filho, o também fotógrafo Warley Sobroza. São mais de 5 mil fotografias que retratam personagens, festas típicas, encontros familiares e a vida da região dos Lagos nas décadas de 1940 e 1950. Para criar um elo com os registros de Bea, Baker focou sua seleção nas imagens em que a relação com o sal pudesse ser claramente percebida. Além disso, Bea Martins incorpora o sal em seu próprio processo fotográfico, realizando impressões analógicas através de uma produção especial. Antes de fixar as imagens com nitrato de prata, a artista mergulha o papel fotográfico em cloreto de sódio, resultando em revelações únicas.

“A exposição não apenas aproxima o público de outras histórias sobre Cabo Frio, mas também desafia a visão comum de que a região é apenas um destino de praia e férias no litoral fluminense”, afirma Julia. “É uma oportunidade única de observar a cidade a partir de recortes fotográficos, unindo passado e presente através das atividades econômicas que moldaram sua identidade. Enquanto Wolney retrata a prosperidade, Bea nos mostra o que restou desse sonho”, finaliza.

“Entre montes brancos e espelhos d’água” foi selecionada no edital Sesc Pulsar 2022.

Julia Baker – curadora 

Julia Baker trabalha com pesquisa e curadoria em artes. Doutoranda no programa de Artes da Cena na UNICAMP, mestre em História, Política e Bens Culturais (CPDOC/FGV); possui especialização em História e Arquitetura da Arte no Brasil (PUC/RJ); graduada em Ciências Sociais (UERJ) e Produção Cultural (UFF). Integrou a equipe curatorial do Museu de arte do Rio (MAR) entre 2013 e 2018, atuando na pesquisa e elaboração de múltiplas exposições, dentre elas Dja Guata Porã (2017), Linguagens do Corpo Carioca (2016) e Tarsila e Mulheres Modernas no Rio (2015). É uma das fundadoras da coletiva de curadoria e pesquisa NaPupila e sócia da empresa Bomba Criativa. Em 2022 fez a curadoria da exposição “Pelas Ondas do Rádio”, selecionada no edital EXPOMIS do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, fez o texto curatorial da exposição “a respeito do fracasso e de outras virtudes”, exposição individual do artista rafael amorim no Sesc Ramos (edital Pulsar Sesc). Também realiza curadorias virtuais, com destaque para as exposições coletivas Imersões Digitais (2021) e Independência ou Morte – Descolonizando o Grito (2023). Em 2023 lançou o livro “Representações de uma independência” através do edital Retomada Cultural 2 / Secec.

Bea Martins-fotógrafa

Artista cabofriense, sua produção em arte se dá a partir de esculturas, instalações, desenhos, fotografias e vídeos. Em suas obras trabalha o deslocamento de matéria com foco em elementos da natureza. Os fenômenos naturais, as mudanças do meio ambiente, as transformações de espaços urbanos são objetos de pesquisa da artista, que tem uma prática conectada com educação, inovação social e justiça climática.  Graduada em escultura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – EBA/UFRJ (2013) e mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense – PPGCA/UFF (2018). Destaca as seguintes exposições coletivas: Mulheres na Coleção MAR, no Museu de Arte do Rio-MAR (2019), Intervenções entre XIX e XXI no Museu Nacional de Belas Artes do Rio (2017), Agora somos mais de mil na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2017), Ao amor do público no MAR (2016) e Limiares no Paço Imperial RJ (2016). Contemplada com o 1º Prêmio Reynaldo Roels Jr. na EAV Parque Lage (2015), com a Bolsa Estímulo à Experimentação e Criação Artística pela FAPERJ (2016) e foi finalista participante no 5º Prêmio EDP no Instituto Tomie Ohtake SP (2016). Possui obras no acervo do Museu de Arte do Rio (MAR) e em coleções particulares.

Wolney Teixeira (1912-1983)

A fotografia está presente na família do artista. Seu pai, Antônio Motta de Souza, começou a se aventurar na arte e treinou com Augusto Malta no Rio de Janeiro, mas abandonou a fotografia em busca de uma carreira mais estável. Wolney, por sua vez, não teve uma educação formal em fotografia. Ele morou com seus avós em um sítio em Caveiras até os dez anos, e foi quando se mudou para Cabo Frio que se apaixonou pela fotografia ao acompanhar seu pai. Aos 20 anos, já estava trabalhando como fotógrafo, enfrentando dificuldades e buscando sustento através de fotos por encomenda, como documentos, aniversários e casamentos. Ele circulava pelos municípios da região dos Lagos, como Búzios, Cabo Frio e São Pedro da Aldeia, onde era chamado para registrar eventos políticos, religiosos e promovidos pelas prefeituras. Além das encomendas, Wolney também registrou as modificações urbanas da região, capturando a paisagem em transformação, as mudanças econômicas e os diferentes personagens das cidades associadas ao turismo e ao verão. Seu acervo marca uma época importante de Cabo Frio, e seu legado continua vivo através de pesquisas e da memória dos antigos moradores. O artista morreu em 1983 em São Pedro da Aldeia, sua cidade natal. Ele tinha 71 anos.

Serviço:

Exposição “Entre montes brancos e espelhos d’água”

Onde: Sesc Niterói (galeria de arte)

Quando: 22 de julho a 21 de outubro de 2023

Visitação: de terça a sábado, das 10h às 16h

Endereço:  Rua Padre Anchieta, 56 – São Domingos – Niterói – RJ

Ingresso: gratuito

Indicação etária: livre

Ficha Técnica

Curadoria: Julia Baker

Coordenação de Projeto: Bomba Criativa

Projeto Expográfico e arquitetura: Clara Guerra

Identidade Visual: Marcello Talone

Produtor executivo: Gustavo Canella

Impressões Fotográficas (Wolney Teixeira): Humberto Cesar/Casa 2 Imagem

Cenotécnica e Montagem: Uirá Clemente

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