Exposição costura história de B. B. King com luta contra o racismo

Diário Carioca
Exposição costura história de B. B. King com luta contra o racismo

A trajetória do guitarrista e compositor norte-americano B.B. King está sendo apresentada em uma exposição no Museu da Imagem e do Som (MIS), na zona oeste da capital paulista. Logo na entrada, quem visita a mostra recebe uma provocação que contextualiza a trajetória do artista, que ficou conhecido internacionalmente como Rei do Blues. É preciso escolher entre duas portas, uma para pessoas brancas e outra para negras, lembrando, assim, do período das leis racistas de segregação que vigoraram nos Estados Unidos na primeira metade do século 20.

O blues é um gênero musical que surgiu nos Estados Unidos no século 19. Esse estilo se desenvolveu a partir das tradições musicais africanas, que envolviam aspectos religiosos, culturais e principalmente a questão racial.

A exposição do MIS proporciona ao visitante uma narrativa sensorial, quando este passa por um corredor que simula o clima das plantações de algodão do Mississipi, no sul do país, onde King trabalhou na juventude.

As canções de trabalho e as que conclamam à revolta as populações negras que viveram a escravização nas fazendas, anos antes, também fazem parte da trilha sonora da exposição. Assim, a vida do músico é costurada com a luta por direitos das pessoas negras norte-americanas.

Música e guitarra autografada

Fotografias, objetos e músicas tocadas em vídeos e instalações ambientes, mostram ao público como foi a carreira artística de King. Após deixar o trabalho nas plantações, o músico, nascido em 16 de setembro de 1925 e batizado Riley Ben King, foi DJ e apresentador na WDIA, primeira estação de rádio com programação destinada a afro-americanos. É possível ver cartazes de shows e espetáculos a partir de 1948, quando ele já usava o nome artístico de B.B. King.

Uma guitarra Gibson Lucille, autografada, está em exibição em uma das vitrines. O modelo foi batizado pela fabricante em homenagem ao músico, que chamava seus instrumentos de Lucille, como forma de carinho e também como um lembrete para si mesmo. No início da carreira, King entrou em um teatro em chamas para salvar sua guitarra. Segundo narração dele próprio, mais tarde, King soube que o fogo havia começado durante uma briga entre dois homens por uma mulher chamada Lucille. Na anedota, King diz que chamou sua guitarra de Lucille para evitar correr tantos riscos no futuro.

Também podem ser vistas partituras, registros de turnês, figurino de shows e prêmios recebidos pelo artista ao longo da carreira, encerrada em 2015, com sua morte, aos 89 anos por complicações da diabetes.

Imersão na história e no blues

O auge da carreira de King, que chegou a fazer mais de 340 apresentações em um ano, é marcado por uma foto dele e sua banda com o ônibus que levava o grupo por todas as partes dos Estados Unidos. A imagem dialoga com uma reconstrução cenográfica de um ônibus segregado, em homenagem a Rosa Parks, uma mulher negra que foi presa ao se negar a ceder seu lugar para um homem branco. A injustiça inflamou a comunidade negra, que promoveu um duro boicote ao sistema de transporte público, em Montgomery, no estado sulista do Alabama.

As ações políticas e sociais do próprio King têm espaço na mostra, que traz fotos dos shows que fez em presídios, como forma de solidariedade à população negra encarcerada. O músico criou ainda uma associação para facilitar a reinserção de ex-detentos na sociedade, muitos deles vítimas do sistema de Justiça norte-americano, considerado racista.

Ao mesmo tempo que é possível aprofundar-se na história de um dos maiores nomes do blues do mundo, o público pode fazer uma imersão completa na obra do artista, chegando à sensação quase literal de estar em um disco de vinil, como proposta de uma das instalações. Muito do material exposto veio do B.B.King Museum, que fica no estado do Mississipi.

A mostra B.B. King: Um Mundo Melhor em Algum Lugar pode ser visitada até 8 de outubro no Museu da Imagem e do Som (MIS).

O MIS abre de terça a sexta-feira, das 10h às 19h e, aos sábados, das 10h às 20h. Nos domingos e feriados, as visitas vão das 10h às 18h. A entrada é gratuita às terças-feiras. Mais informações podem ser obtidas na página do museu.

Share This Article
Follow:
Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca