Uma das funções dos livros é entreter. Além de transmitir conhecimento, formar ideias e nos tirar de nossa zona de conforto nos levando a confrontar com a vida de forma geral e a nossa de forma mais particular, a literatura também nos diverte, tendo o autor da obra o papel de contador de causos que nos faz por algumas horas esquecer problemas nos deixando levar sem qualquer compromisso. E foi com esse segundo propósito que dediquei alguns bons dias na leitura de Os Luminares, de Eleanor Catton, que é a dica da semana aqui na coluna.
O livro foi ganhador do principal prêmio literário inglês, o Man Bokker Prize. E não só ganhou como quebrou duas marcas: autora mais jovem a ganhar – ela tem 28 anos – e o livro mais longo a ser contemplado – a versão física da obra tem quase 900 páginas. E embora seja um tanto assustador um livro desse tamanho, o romance se desenrola de forma leve e fluída. Não me prenderei a crítica mais acadêmica nem farei juízo de valor ao fato de ser um Best-Seller e premiado (o que pode levar a discussões sobre a qualidade da obra), vou me prender ao que me levou e ao que leva a maioria das pessoas a procurar um livro, não importa o tamanho, que é o quanto a narrativa é interessante e o quanto é capaz de prender, e isso, o livro cumpre bem seu papel.
A trama tem como ponto de partida a chegada de um forasteiro na cidade de Hokitika, na Nova Zelândia, em janeiro de 1866 em busca de uma oportunidade de enriquecer durante a corrida do ouro na região. Ele chega no hotel no exato momento em que 12 pessoas da cidade estão numa reunião para decidir os rumos que irão tomar depois de 3 fatos, aparentemente distintos, acontecem simultaneamente 15 dias antes: o desaparecimento do homem mais rico da cidade, a morte de um eremita, que fora encontrado por um político recém-chegado no local e a tentativa de suicídio de uma prostituta. Todos de alguma forma estão envolvidos e cada um tem uma parte da história.
O que prende na trama é justamente esse quebra-cabeças a desvendar. Com 12 vozes contando os fatos por seu ponto de vista, muitas vezes dissimulado e distorcendo os fatos para o próprio favorecimento, a busca do que realmente aconteceu se torna uma tarefa desafiadora para o viajante, fazendo às vezes de mediador do mistério.
Com uma linguagem e estética que remete aos romances vitorianos, emprestando inclusive o humor típico das obras inglesas desse período, o livro nos apresenta a uma casta de personagens envolventes e divertidos. Com seus perfis traçados pelos signos zodiacais e com sua trama guiada por mapas astrais, o leitor acaba tendo a sensação de que tudo é ação do destino, apesar do aparente acaso.
Um ponto a se elogiar, com relação aos recursos usados pela autora, é o fato dela dominar bem a história. A sua condução, ora acelerando, ora reduzindo o ritmo, vai guiando o ritmo também do leitor e a forma como ela não entrega em nenhum momento o que está por vir, você se pega lendo vários capítulos seguidos por horas a fio para saber o que realmente vai acontecer.
Um livro leve, divertido, com uma linguagem acessível, apesar da época a que se propõe homenagear, Os Luminares é um bom exemplo de como um livro pode ter essa função de entreter com qualidade e sem apelar para a escrita comum e previsível. Então divirtam-se com essa viagem a Nova Zelândia do século XIX e não percam nenhum detalhe. Até a próxima.
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